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Correios se aventuram na telefonia móvel

À procura de uma nova fonte de receita, companhia receberá propostas de parceria de operadoras de telecomunicações para vender chips de celular e planos de voz e de dados; serviço está previsto para começar até o final deste ano

Por Redação Link
Atualização:

Junpei Abe/Creative Commons

 

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Bruno Capelas Claudia Tozetto Foi-se o tempo em que os Correios eram sinônimo apenas de enviar cartas. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) – fundada há 40 anos durante reorganização dos serviços postais que já eram oferecidos no País desde 1663 – está prestes a entrar em um segmento de negócios totalmente novo: o da telefonia móvel. Em 17 de março, a empresa receberá propostas de parceria de operadoras de telecomunicações, o que vai permitir que ela se torne uma operadora virtual. Por meio do acordo, os Correios poderão vender chips de celular e planos de voz e dados em todo o País, sem precisar investir em infraestrutura de rede e com a possibilidade de criar uma nova fonte de receita para a companhia, que fechou 2015 com prejuízo estimado em R$ 900 milhões.

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A possibilidade de explorar um segmento totalmente diferente se abriu em 2011, quando o Congresso sancionou a Lei 12.490, que permitiu aos Correios diversificarem sua atuação. Pouco antes, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) havia aprovado regras para que as primeiras operadoras virtuais começassem a funcionar no País. O interesse dos Correios no setor, porém, só surgiu em 2013, quando a companhia foi procurada pelo Grupo Poste Italiane (equivalente aos Correios, na Itália) para firmar uma joint venture de uma operadora virtual no Brasil. A empresa italiana já possui uma operadora virtual no país europeu com mais de 3 milhões de clientes.

As duas empresas chegaram a assinar um contrato no início de 2014, mas a parceria minguou poucos meses depois. “Apostamos nossas fichas nessa parceria, mas eles cancelaram os projetos fora da Europa no final de 2014, por causa da turbulência internacional”, diz o assessor da vice-presidência corporativa dos Correios, Ara Minassian. Em 2015, como parte de sua estratégia de buscar novas fontes de receita, os Correios iniciaram um voo solo na telefonia móvel. “O negócio de correspondências diminui a cada momento”, diz o presidente dos Correios, Giovanni Correa Queiroz. “Precisamos ampliar nosso leque de serviços ao cidadão ou vamos desaparecer.”

Como operadora virtual, a intenção dos Correios não será de brigar com as operadoras tradicionais – Claro, Oi, TIM e Vivo. Após firmar parceria com uma delas, a estatal vai atuar como operadora virtual credenciada. Na prática, isso permite que ela ganhe um valor predeterminado – pago pela parceira – a cada chip vendido e a cada recarga de créditos realizada. No total, os Correios esperam que o negócio gere, no mínimo, R$ 250 milhões em receita após os primeiros cinco anos da operação, que está prevista para começar até o final de 2016.

Estratégia. Ao contrário das operadoras tradicionais, os Correios querem atender somente brasileiros das classes C, D e E. Num primeiro momento, apenas chips pré-pagos para ligações de voz e acesso à internet estarão disponíveis.

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O trunfo dos Correios para atrair os clientes será o atendimento presencial, que será realizado nas mais de 6,4 mil agências próprias espalhadas pelo País – a empresa também possui uma rede de franquias. “Queremos quem está insatisfeito com o atendimento das operadoras. Pessoas das classes mais baixas não gostam de ligar para o call center para resolver problemas”, diz Minassian. “Eles poderão passar em qualquer agência dos Correios.”

O negócio tem despertado o interesse das operadoras tradicionais. A maioria delas ainda avalia as condições impostas pela estatal no edital. “Não temos nada fechado ainda”, diz o diretor de atacado da TIM, Marcelo Duarte. A Vivo, por outro lado, afirma que tem interesse em participar da concorrência. “Vamos avaliar e oferecer propostas”, afirma o vice-presidente de negócios com empresas da Vivo, Surya Mendonça. Procuradas pelo Estado, Claro e Oi preferiram não se pronunciar sobre suas parcerias com operadoras virtuais e interesse na concorrência dos Correios.

Incipiente. O mercado de operadoras virtuais, apesar de autorizado em 2010, ainda é pouco desenvolvido no Brasil. Enquanto em países da Europa e nos Estados Unidos elas se acumulam às centenas, por aqui há apenas cinco operadoras virtuais: de acordo com a Anatel, Datora, Surf Telecom, Porto Seguro Conecta e Terapar atuam como autorizadas; a Mais AD – operadora da igreja evangélica Assembleia de Deus – é a única que adota o modelo de credenciada.

Além dessas, a Virgin Mobile possui autorização para atuar como operadora virtual no Brasil, mas ainda não iniciou as atividades no País. A expectativa inicial era de que a empresa estreasse por aqui em fevereiro de 2015, por meio de uma parceria com a Vivo. “Ainda estamos muito interessados no Brasil. No entanto, a regulação local é uma das mais rígidas da região e tem sido muito difícil criar uma operação rentável, em vista da desvalorização do real”, diz o presidente da Virgin Mobile na América Latina, Phil Wallace.

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A maior operadora virtual do Brasil atualmente, em número de acessos, é a Porto Seguro Conecta, que pertence ao grupo da seguradora de mesmo nome e atua em parceria com a TIM. A empresa, que começou a funcionar no final de 2011, possui atualmente mais de 375 mil clientes – 70 mil clientes de voz, enquanto 305 mil são de comunicação entre máquinas (M2M). A meta da empresa é atender toda a base de clientes de seguros da marca, que conta com cerca de 8 milhões de pessoas. “Sabemos que o mercado de telefonia é difícil de ter bom atendimento. Encontramos uma oportunidade de nos diferenciar e fidelizar o nosso cliente de seguros, que já está acostumado com nosso padrão”, diz o superintendente da Porto Seguro Conecta, Tiago Galli.

Para isso, a empresa rompeu com algumas velhas tradições das operadoras tradicionais. Só existem planos pós-pagos, mas o cliente não precisa assinar contratos de fidelidade. “O cliente fica se gostar do serviço”, diz Galli. Além disso, a empresa desenvolveu um aplicativo para que o cliente acompanhe o consumo de seu pacote de dados e reduza a navegação na internet antes de ultrapassar a cota – o que evita o pagamento de pacotes adicionais.

A companhia também importou dos seguros alguns benefícios a que seu público-alvo já está acostumado. Assim como quando o carro quebra e o cliente fica com um carro reserva até terminar o conserto, o cliente recebe um celular reserva enquanto o seu vai para a assistência técnica. Se esquecer o smartphone no escritório, a companhia manda um motoboy levá-lo até o seu dono, sem custo. “Cada operadora virtual conta uma história, é focada em um nicho”, diz Galli. “O segmento das operadoras virtuais permite um mundo de inovações para empresas que querem focar em serviços, não em operar uma rede.”

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Competitividade. Segundo o diretor executivo de comunicação, mídia e tecnologia da consultoria Accenture, Ricardo Distler, as operadoras virtuais foram criadas para tornar o mercado de telecomunicações mais competitivo. Contudo, em países onde várias operadoras disputam o segmento – como no Brasil –, elas buscam inovar no atendimento para se diferenciar. “Os projetos que aparecem no Brasil estão mais focados em complementar o serviço das operadoras tradicionais”, diz Distler. “Isso faz com que as operadoras enxerguem essas parcerias não como uma ameaça, mas como uma oportunidade de negócio.”

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A TIM, por exemplo, já possui acordos com três operadoras virtuais no País e diz enxergar “potencial” no modelo de negócio de parceria com terceiros. “Empresas com marcas fortes no mercado conseguem estabelecer um nível de lealdade maior do que as operadoras de telecomunicações com seus clientes”, diz Duarte. Atualmente, além da Porto Seguro Conecta, a operadora “empresta” sua infraestrutura de rede para a Datora e para a Surf Telecom.

Segundo Distler, embora as operadoras virtuais não possam – e nem queiram – disputar mercado com as gigantes do setor de telecomunicações, é provável que elas representem entre 10% e 20% do total de linhas móveis no País nos próximos anos. De acordo com a Anatel, o Brasil fechou 2015 com mais de 184,5 milhões de linhas móveis ativas no Brasil, o que sugere um mercado potencial de, pelo menos, 18,4 milhões de telefones celulares para as virtuais

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