Criador do Waze agora quer ajudar usuário a lidar com o mecânico do carro

Lançada no Brasil nesta quinta-feira, 30, startup Engie usa dispositivo próprio e aplicativo para identificar problemas em automóvel; para Uri Levine, Brasil é um ‘ótimo mercado’

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Por Bruno Capelas
Atualização:
Uri Levine, fundador da plataforma Waze Foto:

Depois de fazer milhões de pessoas jogarem fora seus guias de trânsito, mapas e orientadores de GPS ao criar o Waze, o israelense Uri Levine quer mudar outro ponto importante da relação dos brasileiros com seus carros: a difícil tarefa de saber se há algum problema no veículo - e lidar com o mecânico para saber qual, de fato, é o problema certo. 

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Nesta quinta-feira, 30, Levine lança no Brasil a startup Engie, um de seus investimentos após vender o Waze por US$ 1,3 bilhão ao Google, em 2013. “Eu não entendo nada de carros, e sei que muita gente se sente igual a mim. Queremos acabar com essa frustração”, diz Levine, em entrevista exclusiva ao Estado. “Somos o centro de diagnósticos do seu carro, na palma da sua mão.” 

Ao lado de Reino Unido e México, o País é um dos primeiros mercados internacionais da Engie, fundada em 2014 em Israel - em sua terra natal, a empresa tem mais de 100 mil usuários. “Adoro o mercado brasileiro. Quando se olha o número de carros, o Brasil já é maior que a Alemanha. E já provei para mim mesmo que Israel sabe fazer bons apps para vocês - o Waze e o Moovit são prova disso”, diz Levine, de olho nos 42,87 milhões de veículos existentes no País no final de 2016, segundo dados do setor. 

Como funciona. Para começar a usar os serviços da Engie, é preciso comprar um pequeno dispositivo fabricado pela startup, de tamanho similar a um pen-drive ou um Chromecast -- no Brasil, ele será vendido por R$ 59 para usuários de Android, e R$ 79 para usuários de iOS. 

O pequeno aparelho deve ser plugado ao carro do usuário, em uma entrada chamada de On Board Diagnostic (OBD, na sigla em inglês), de onde vai extrair as informações mais relevantes para o carro. Com ajuda de conectividade Bluetooth, o aparelho consegue enviar os dados e problemas do veículo para um smartphone, onde essas informações serão processadas. 

Em pouco tempo, com auxílio de inteligência artificial e uma grande base de dados, o aplicativo consegue detectar qual é o defeito do carro e cotar o preço do conserto em uma rede de mecânicos mais próxima. É aí que a Engie ganha dinheiro, diz Levine: a cada serviço de mecânico recomendado e realizado pela empresa, a startup fica com uma comissão de 9% do valor do conserto. Já o valor do dispositivo cobre apenas os custos de fabricação e envio para o usuário, de acordo com a empresa. 

Segundo o empreendedor, a empresa tem buscado conversar com oficinas espalhadas pelo País, bem como pretende pedir aos usuários para cadastrar seus mecânicos de confiança - com o tempo, a meta é de que os melhores prestadores de serviço apareçam com destaque no aplicativo, após a avaliação dos usuários. “Não é só preço, mas uma série de fatores que fazem um bom mecânico. A diferença é que agora o dono do carro vai ter a informação do que está errado”. 

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De acordo com Levine, a utilização do Engie até aqui tem sido acima da expectativa -- em Israel, o serviço tem sido utilizado cerca de seis ou sete vezes por mês pelos usuários, um número muito acima da média de problemas que se espera ter com um carro. “A verdade é que as pessoas gostam de saber se está tudo bem com o seu automóvel, se ele está consumindo combustível direito. Afinal, é o bem de consumo mais caro que muita gente têm.” 

Legado. Apesar da transação com o Google ter sido bilionária, dando a Levine recursos para ele passar a vida inteira “na praia”, o empreendedor diz que não consegue parar de ajudar e investir em novas empresas. “Fazer startups, mudar o mundo e gerar mais valor para mais pessoas é a minha paixão”, diz ele, que se sente orgulhoso da forma como o Waze mudou o dia a dia das pessoas. E até o dele próprio. 

“As pessoas se tornaram dependentes do Waze. Eu precisava que meu filho me levasse para o aeroporto, e ele disse que não podia me levar porque o celular estava quebrado. Eu disse a ele: eu te indico o caminho”, conta. “Ele me respondeu: e depois, como eu volto? A gente já não sabe mais como chegar aos lugares, da mesma forma que não sabemos mais os números de telefone das pessoas.” 

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