Delator do caso Cambridge Analytica denuncia empresa canadense por uso ilícito de dados

Segundo Christopher Wylie, empresa canadense AggregateIQ também teria usado dados de usuários do Facebook, cedidos pela Cambridge Analytica, para identificar eleitores republicanos nas eleições 2016

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Por Agências
Atualização:
De acordo com o delator Christopher Wylie, líderes da Cambridge Analytica não se preocupam com regras ou leis 'para eles, é uma guerra e tudo é justo' Foto: Andrew Testa/The New York Times

O cientista de dados Christopher Wylie, que denunciou o uso ilícito de dados de 50 milhões de usuários do Facebook pela empresa britânica Cambridge Analytica (CA), afirmou nesta terça-feira, 27, que uma empresa canadense chamada AggregateIQ usou dados pessoais de usuários do Facebook, cedidos pela Cambridge Analytica, em um software similar, chamado Ripon, para identificar eleitores republicanos antes das eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos.

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As declarações de Wylie aconteceram hoje, durante audiência do delator com o comitê de Digital, Cultura, Mídia e Esportes no Parlamento britânico. Ele entregou provas aos parlamentares de que a empresa canadense também teve acesso aos dados pessoais de usuários do Facebook, obtidos pelo pesquisador Aleksandr Kogan, da Universidade de Cambridge, e depois vendidos à Cambridge Analytica. A empresa de inteligência britânica usou os dados para tentar influenciar o resultado das eleições americanas em 2016, que tiveram Donald Trump como vencedor.

Ripon, nome dado ao software, é uma referência ao nome da cidade onde o Partido Republicado foi fundado em 1854. A ferramenta permitiria que a AggregateIQ pudesse gerenciar uma base de dados de eleitores durante a campanha presidencial. O software também permitia a gestão de financiamento eleitoral e a realização de pesquisas. A AggregateIQ não foi localizada pela agência de notícias Reuters para comentar as declarações de Wylie.

"Existem provas tangíveis públicas de que a AggregateIQ construiu o Ripon, que é o software que utiliza algoritmos para (fazer análises) a partir de dados (de usuários) do Facebook", disse Wylie, afirmando que entre 5 milhões e 7 milhões de eleitores estavam no alvo da AggregateIQ. Além da empresa canadense, Wylie citou também a Palantir, empresa que trabalha com a agência nacional de segurança dos EUA (NSA, na sigla em inglês), como outra companhia que está tentando fazer o mesmo trabalho que a Cambridge Analytica.

Em 24 de março, a AggregateIQ afirmou que não era parte da Cambridge Analytica e que nunca teve contratos com a empresa britância. A empresa também disse que trabalhava respeitando os requerimentos legais e regulatórios e que nunca esteve envolvida em qualquer atividade ilegal.

A Cambridge Analytica também afirmou nesta terça-feira, 27, que não compartilhou os dados dos 50 milhões de usuários do Facebook com a AggregateIQ. A empresa afirma não ter nenhum tipo de contato com a empresa canadense desde dezembro de 2015, meses antes das eleições presidenciais norte-americanas.

Entenda o caso. A empresa de análise de dados Cambridge Analytica colheu informações privadas de mais de 50 milhões de usuários do Facebook, em um esforço para beneficiar a campanha eleitoral do presidente americano, Donald Trump, em 2016, de acordo com reportagens publicadas pelos jornais The New York Times e The Observer, de Londres, no sábado, 17 de março.

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A empresa britânica de inteligência digital coleta e relaciona dados para ações de marketing digital feitas por companhias e políticos. No caso em questão, ela usou o método para desenvolver ações para influenciar o cenário político americano e favorecer Trump.

Atingir o objetivo só foi possível graças a uma parceria com outra empresa, a também britânica Global Science Research, liderada por Aleksandr Kogan, pesquisador da Universidade de Cambridge. Ele criou um quiz online, chamado This is your digital life (Esta é sua vida digital), que exigia que as pessoas conectassem sua conta do Facebook para ser acessado. Isso permitiu que o quiz de Kogan obtivesse informações pessoais dos usuários da rede social e de seus amigos.

Os dados obtidos por meio do teste foram vendidos pela Global Science à Cambridge Analytica, numa clara violação aos termos de uso do Facebook. Isso permitiu que a empresa de inteligência cruzasse dados com outras fontes e chegasse a um perfil preciso das pessoas, usado para enviar mensagens direcionadas – incluindo notícias falsas – para influenciar votos.

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