Em meio à sua maior crise, Facebook deixa de ser ‘preferido’ em Wall Street

Após anos de otimismo e bons resultados com as ações da rede social mais popular do mundo, investidores temem regulação mais dura à empresa; companhia, que abriu capital em 2012, perdeu quase US$ 100 bi em valor de mercado em 14 dias

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Por Redação
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Sob pressão.Após escândalo estourar, fortuna de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, encolheu em US$ 7,3 bilhões Foto: AP/Marcio José Sanchez

Nos últimos cinco anos, poucas ações caíram tanto no gosto de investidores de Wall Street quanto as do Facebook. Após uma oferta inicial de ações (IPO) tumultuada, em 2012, as ações superaram um obstáculo atrás do outro. Os dividendos que o Facebook pagou e o crescimento do número de usuários superaram as projeções mais otimistas. No fim de 2017, o Facebook tinha 2,2 bilhões de usuários e suas ações tinham subido 53% no ano passado. Sozinhas, elas responderam por 3,7% dos ganhos do índice S&P 500. A rede social tinha atingido o valor de mercado de US$ 560 bilhões.

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Em fevereiro, 90% dos analistas de Wall Street que cobrem o Facebook recomendavam a compra de ações da empresa, mesmo a US$ 195 por ação.

Mas, após revelações de que dados do Facebook teriam sido usados para tentar influenciar a eleição presidencial dos Estados Unidos, a história virou de cabeça para baixo: o gigante das redes sociais está sob investigação tanto na Europa quanto nos EUA, além de sujeito a potenciais regulamentações.

Virada. Desde então, a reação dos investidores vem sendo rápida. O Facebook sofreu uma espantosa desvalorização que chegou perto de US$ 100 bilhões. Suas ações estavam valendo no meio da semana cerca de US$ 153, uma queda de 22% (na sexta-feira, subiram 4,42% e fecharam a US$ 159,79).

Em meio à antiga euforia em torno do Facebook, poucos previram o que estava por vir. Um dos que previram foi o Aiera, robô que usa inteligência artificial para sugerir investimentos em ações. No fim do ano passado, o Aiera recomendou a venda de ações do Facebook.

O mesmo fez Brian Weiser, analista do Pivotal Research Group que cobre empresas de mídia e ligadas à internet. Em meados de 2016 ele recomendou que os investidores vendessem ações. “Não sabia qual seria o catalisador, mas em algum momento o crescimento do lucro deveria desacelerar e as margens ficariam menores”, afirmou Weiser. “Senti que os investidores viam o Facebook com excesso de otimismo.”

Então, quando surgiu a notícia de que a britânica Cambridge Analytica havia usado dados do Facebook para traçar perfis de eleitores, Wieser entendeu que se trava de algo grave. “A maioria das pessoas não se preocupa muito com seus dados pessoais”, diz. “Mas aí é que mora o abuso potencial, o pecado original dos anúncios digitais.”

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O robô Aiera, por outro lado, recomendou a venda de ações após analisar a frequência de menções negativas na mídia sobre o uso do Facebook pela Rússia para influenciar a eleição nos EUA, além de considerar outros dados. O Aiera usa inteligência artificial para ler e analisar por dia meio milhão de dados colhidos na internet. “O Aiera disse que a interferência na eleição era importante e, de fato, comprovou-se que era”, disse Ken Sena, criador do robô.

Agora, a relação entre o preço da ação e os lucros do Facebook está em 28, pouco acima da média de mercado, o que faz dela “a ação mais barata nessa área e com uma das melhores perspectivas de aumento”, diz Sena. Ele acredita que as ações, apesar de tudo, ainda vão chegar a US$ 230. /TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

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