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Empresas viram novo filão para a Apple

Alvo de zombaria de Steve Jobs, clientes corporativos se tornaram grata surpresa para empresa, que enfrenta declínio nas vendas do iPhone

Por Vindu Goel
Atualização:
 Foto: George Etheredge/The New York Times

Nos primórdios da computação, os produtos da IBM eram tão comuns nas empresas que corria até uma piada no setor: nunca ninguém foi demitido por comprar da IBM. Hoje o mesmo pode ser dito sobre a Apple. Até a IBM está promovendo a Apple. Os iPhones e os iPads se tornaram os aparelhos móveis preferidos no mundo corporativo, à medida que as empresas dos vários setores – de seguros até aéreo – começam a eliminar os volumosos PCs, para dar a seus funcionários a possibilidade de realizar seu trabalho de qualquer lugar com smartphones ou tablets.

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Para a Apple, que luta para reverter o declínio das vendas do iPhone e dos computadores Mac durante dois trimestres consecutivos, o mercado corporativo é uma excelente surpresa. As vendas de iPads para as empresas têm sido vigorosas: quase metade de todos os iPads fabricados pela companhia foram adquiridos por empresas e governos, segundo a empresa de pesquisa Forrester. “A Apple está mais forte no mercado empresarial do que no campo dos consumidores domésticos”, diz Frank Gillett, analista da Forrester. Foi um longo caminho desde a época em que Steve Jobs – cofundador e, por muito tempo, presidente executivo da companhia – zombava dos clientes corporativos de tecnologia e preferia se concentrar na criação de produtos de excelência que se vendiam sozinhos. Os tempos mudaram. 

É difícil estabelecer as cifras exatas das vendas da Apple para empresas. A empresa informa que o crescimento é consistente, mas não revela dados recentes. Durante o último ano fiscal, encerrado em setembro de 2015, ela vendeu US$ 25 bilhões entre produtos e serviços para empresas e outros grandes clientes. Embora o montante represente apenas 11% da receita total da companhia, as vendas para clientes empresariais foram 40% maiores em relação ao ano anterior. No mesmo período, a receita total da empresa cresceu 28%.

Integração. Segundo especialistas, as empresas preferem os produtos da Apple pela integração entre hardware e software, segurança avançada e sistema intuitivo. O que também ajuda é a percepção do mercado de que o sistema operacional Android, do Google, está atrasado em termos de segurança e padronização.

Para a companhia aérea British Airways, que criou mais de 40 aplicativos no iPad para os funcionários, a mudança para os tablets eliminou as enormes quantidades de papel, usado em planos de voo, listas de embarque de passageiros e registros de manutenção. Um aplicativo permite que qualquer pessoa da companhia aérea rapidamente faça a reserva dos passageiros quando um voo é cancelado ou postergado. “Podemos chegar aos clientes onde estiverem”, disse Abigail Comber, encarregada das interações com os passageiros da British Airways. Até agora a companhia instalou seus aplicativos em 17 mil iPads e está procurando digitalizar mais suas atividades.

O foco da Apple, segundo a empresa, é criar aparelhos excelentes para todos os consumidores. “Estamos dedicados a criar produtos que melhorem a vida das pessoas, permitindo que façam coisas que jamais fizeram”, afirmou a vice-presidente de mercados e aplicativos e marketing global de produtos da Apple, Susan Prescott, em nota. “Nosso objetivo, no caso dos clientes corporativos, é permitir que modernizem e transformem suas atividades.”

“A Apple reconhece que seus produtos estão sendo usados nos locais de trabalho e não apenas em casa”, diz Gillett, da Forrester. “Mas está extremamente concentrada em tornar o mundo melhor para os usuários individuais. A empresa teme que, se pensar demais nos clientes corporativos, poderá comprometer sua interação com os consumidores.”

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A Apple opera dois workshops de treinamento, com três sessões por dia, especialmente dedicados a empresas, em sua sede em Cupertino, na Califórnia. O objetivo é ajudá-las a criar rapidamente protótipos de aplicativos. Mas não é uma iniciativa que pode ser ampliada para milhares de empresas. Isso fez a Apple perceber que era preciso se juntar a outras companhias especializadas em empresas.

A IBM, principal rival da Apple na fase inicial do mercado de PCs, é hoje é uma maiores incentivadoras da companhia. Com base em uma parceria que já dura dois anos, a companhia – que junto com a Microsoft popularizou o PC – se transformou numa grande empresa de serviços de tecnologia e já desenvolveu mais de cem aplicativos para o sistema iOS, da Apple, que foram vendidos para 2 mil companhias. A iniciativa gerou receita de US$ 500 milhões para a IBM em 2015.

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