PUBLICIDADE

'Estamos perto de chegar no azul'; diz diretora do Spotify na América Latina

Comandando o Spotify na região há dois meses, Mia Nygren fala sobre o desafio de educar o usuário brasileiro, gerar lucros e também sobre Adele e Taylor Swift

Por Bruno Capelas
Atualização:

Divulgação

 Foto:

PUBLICIDADE

Com mais de dez anos de experiência na indústria fonográfica, a sueca Mia Nygren tem hoje uma tarefa dura nas mãos. Em outubro, ela assumiu a operação do serviço de streaming de música Spotify na América Latina e tenta equilibrar duas missões: educar os usuários da região sobre o serviço e começar a gerar lucro. “Nosso foco ainda é crescer. Estamos perto de chegar no azul e dar lucro, mas ainda sai muito dinheiro dos nossos cofres”, diz a executiva, em entrevista exclusiva ao Estado no escritório do Spotify em São Paulo.

Para a executiva – serviço que conta com 75 milhões de usuários e 20 milhões de assinantes no mundo todo –, o mercado de streaming de música é jovem, mas também é cheio de desafios. “Nosso negócio é muito mais do que apenas apertar botões. Cuidamos dos usuários, e no Brasil, temos o desafio de lidar com um País que é quase tão grande quanto a Europa, e tem gostos muito diversos”, explica Nygren. A executiva mora no Rio de Janeiro e está há dois anos e meio atuando na região, costurando as parcerias entre gravadoras e o Spotify. Entre uma reunião e outra, ela vê os filhos – suecos, mas com pai espanhol – falando carioquês e se divertindo com playlists que misturam Abba e o som da poderosa Anitta

Leia também:Streaming de música entra na ‘adolescência’Remuneração divide artistas sobre streaming

Na entrevista a seguir, Mia Nygren fala sobre a importância do Brasil dentro do Spotify e comenta as últimas movimentações do mercado de streaming de música, como a falência do Rdio e a desistência do Deezer em abrir seu capital. “Faz parte da evolução. Se você olhar para qualquer negócio de internet, verá que não há muitos players fazendo as mesmas coisas”, diz ela. A executiva também falou sobre as expectativas da indústria fonográfica quanto ao serviço e comentou o sucesso recente de Adele e Taylor Swift, que tiveram bons resultados ao deixar álbuns fora das plataformas de streaming.

O mercado de streaming teve mudanças importantes nos últimos meses com a falência do Rdio e a desistência do Deezer em abrir seu capital. Como você vê o mercado hoje?Mia Nygren: Acho que as movimentações recentes do mercado são naturais quando se trata de um novo modelo de negócios. O mercado de streaming de música é novo: ainda precisamos ensinar os usuários sobre o que é o streaming de música e o Spotify. Em algum momento, precisamos que o mercado se consolide. Hoje, ele é cheio de inovadores e inovações, mas é um mercado duro. Se você olhar para qualquer negócio de internet, verá que não há muitos players fazendo as mesmas coisas – e isso também vai acontecer no streaming de música. O Spotify pensa apenas em música. Não fazemos outra coisa a não ser falar de música: estamos em 58 países e nossa operação é muito mais que apenas apertar botões. Nós cuidamos dos usuários, porque esse é um negócio baseado em volume de pessoas.

Por que o Brasil é especial para o Spotify? O Brasil é diferente por causa de seu tamanho: toda a Europa caberia aqui. É um desafio lidar com pequenas regiões que são maiores que países inteiros da Europa – cada Estado tem sua música relevante. Além disso, não se pode tratar o Brasil do mesmo jeito que se tratam os outros países da América Latina, por causa da língua, mas também pelas cores de cada cultura. Tem sido difícil, mas recompensador: nossos resultados estão acima das expectativas. Ainda precisamos trabalhar muito, mas os resultados estão chegando [a empresa não revelou o número de usuários que têm no País].

Publicidade

O Spotify ainda é criticado por analistas de mercado por não dar lucro. Vocês estão preocupados com isso? Nosso foco ainda é crescer. Estamos perto de chegar ao azul e poder dar lucro – quase podemos tocar esse momento, na verdade. Mas muito dinheiro ainda sai dos nossos cofres para fazer o serviço crescer. Temos 75 milhões de usuários e 20 milhões de assinantes. É uma ótima proporção, que nos deixa tanto ganhar dinheiro por meio das assinaturas quanto pelos anúncios reproduzidos aos usuários que não pagam pelo serviço. Quanto ao lucro, essa não é uma questão só nossa – ela é de todo o mercado de streaming.

Educar o usuário ainda é a principal meta do Spotify? Estamos focados nisso. Este é um jogo longo: não estamos aqui para dizer adeus qualquer dia desses. O Spotify tem planos para existir por décadas e décadas – e ainda precisamos explicar para muita gente como funciona o streaming. Depois de um certo ponto, você conquista uma base sólida de usuários e aí cresce exponencialmente. Isso já está quase acontecendo no Brasil.

A indústria fonográfica passou dez anos, até a chegada dos serviços de streaming, sem uma boa solução para a pirataria. A ansiedade geral em recuperar o tempo perdido é um problema? Não é fácil mudar a maneira como você vende os seus produtos. Pode parecer muito tempo para nós, que pensamos no mercado de tecnologia, mas não é. A indústria fonográfica tem sido mais ou menos a mesma nos últimos 80 anos, vendendo fonogramas, seja em vinil, fita cassete ou CD. Demora um certo tempo para que os modelos de negócio mudem. Esses dez anos foram necessários para achar um bom modelo de negócios, em uma decisão que não pode ser tomada da noite para o dia. Obviamente, toma um bocado de tempo.

Artistas como Adele e Taylor Swift tiveram ótimos números em vendas depois de se negar a colocar suas músicas no streaming. Elas são a regra ou a exceção? Quero acreditar que elas são a exceção. Acho que as boas vendas de Adele e Taylor Swift são resultado de quem elas são, não consequência de não estarem presentes no streaming. Adele tem 25 milhões de seguidores no Spotify – e todos os seus fãs esperam ouvir seu novo disco na nossa plataforma. O mesmo vale para Taylor Swift. Estamos de portas abertas para elas, assim como já estivemos para o Metallica, com quem tivemos problemas e hoje estão entre nossos apoiadores.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.