‘Não somos uma empresa que faz caridade’, diz presidente do Duolingo

Com 120 milhões de usuários, app que ensina línguas busca saídas para crescer e se tornar lucrativo

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Por Bruno Capelas
Atualização:
Meta. Segundo von Ahn, após anos de prejuízo, Duolingo deve se tornar lucrativo em 2018 

Uma coruja verde e simpática, exercícios com cara de game e muito bom humor. Essa é a receita por trás do Duolingo, um dos principais aplicativos de educação. Criado em 2012, o serviço é a atual empreitada do guatemalteco Luis von Ahn – antes, ele foi responsável pelo Captcha e o ReCaptcha, aqueles sistemas de verificação populares na web que usam letras e imagens para as pessoas provarem que não são robôs.

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Cinco anos após sua criação, o Duolingo tem 120 milhões de usuários em todo o mundo, ensinando idiomas como inglês, espanhol, francês e até mesmo esperanto. Segundo von Ahn, o principal público do app aprende inglês. “Saber inglês pode te fazer ter um salário melhor”, diz. O próprio von Ahn é cobaia de sua plataforma: nela, já aprendeu a falar francês e agora arrisca “um pouquinho de português”, com forte sotaque.

Na entrevista a seguir, o empreendedor fala sobre a missão de tornar o Duolingo uma empresa rentável. Filho de médicos e professor de ciência da computação da Universidade Carnegie Mellon, von Ahn também revela planos para melhorar o aprendizado dos alunos – hoje, terminar o curso do Duolingo equivale a um diploma intermediário.

O sr. já tinha vendido o ReCaptcha para o Google quando fez o Duolingo. Por que criar algo novo?

Nasci na Guatemala, um país muito pobre e muito desigual. Quem tem dinheiro, continua rico, porque consegue pagar por boa educação. Quem é pobre não aprende nem a ler e escrever direito e, por isso, continua pobre. Fiz o Duolingo para dar acesso igual às pessoas. Em lugares como a Guatemala, saber inglês te faz ter um salário melhor. Ouvimos muitas histórias de gente que mudou de emprego ou está ganhando mais só porque fala inglês. É o caso do Brasil, nosso segundo maior mercado: hoje, 85% dos usuários brasileiros aprendem inglês na plataforma.

O sr. já quis usar o Duolingo para outras finalidades?

Pensamos em ensinar as pessoas a ler e escrever melhor nas suas línguas. Não conseguimos criar nada tão divertido quanto o Duolingo. Tentamos programação também, mas não funcionou: era chato e não tinha a sensação de “jogo” que o Duolingo tem hoje.

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Uma crítica comum ao Duolingo é que ele é um curso básico. Como o sr. vê isso?

A União Europeia tem hoje um sistema de medição de línguas, que tem seis níveis, do A1 ao C2. Quando você acaba um curso no Duolingo, está entre o A2 e o B1. É o chamado nível “independente”: mesmo ainda cometendo erros, você é capaz de falar em uma língua e viajar para o exterior. Estamos trabalhando para levar nossos usuários um passo adiante, mas isso significa trazer complexidade para a plataforma.

Os cursos do Duolingo são gratuitos. Como a empresa fatura?

É bom lembrar: não somos uma empresa de caridade. Hoje, faturamos de duas formas. A primeira é o Certificado de Inglês do Duolingo, que você pode receber depois de fazer um teste, que custa US$ 60 – menos que outros exames similares, como o TOEFL. Nosso certificado já é aceito em 30 universidades americanas. Também começamos a cobrar por pequenas coisas dentro do aplicativo. No Duolingo, temos a noção de ofensiva: a quantidade de dias que você faz lições em sequência. Se você não faz um dia, a ofensiva se perde. Agora, deixamos que os usuários paguem alguma quantia para manter sua ofensiva mesmo se falharem um dia. Isso tem gerado cerca de US$ 10 mil por dia. Também recebemos por anúncios exibidos no app.

O Duolingo dá lucro?

Ainda não. Em 2017, devemos faturar US$ 20 milhões, mas gastar cerca de US$ 25 milhões. Estamos reduzindo nosso déficit: esse ano será de US$ 5 milhões. No ano passado, foi US$ 15 milhões. Creio que teremos lucro em 2018.

No futuro, assistentes pessoais como Siri, Cortana e Alexa poderão servir como tradutores. Por que devemos continuar a aprender idiomas?

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Temos calculadoras há cem anos, mas não paramos de aprender matemática. Um sistema desses pode ser útil para pedir comida num restaurante ou ajuda para encontrar uma rua. No entanto, ter uma conversa significativa com alguém através de um assistente me parece algo muito chato – e pouco provável.

O sr. é um imigrante e tem um produto voltado para a união entre os povos. Como vê os primeiros dias do governo Trump?  Pessoalmente, não tenho medo por mim. Tenho medo do que pode acontecer com os EUA, que se beneficiaram muito com imigrantes. Einstein era um imigrante – é o tipo de gente que hoje não poderia entrar no País. Hoje, os EUA tem sucesso porque conseguem atrair gente boa de todas as partes do mundo. Se isso mudar, teremos um grande problema de tecnologia aqui.

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