O iPhone de Trump pode custar caro aos EUA

Presidente eleito quer taxar produtos feitos na China em 45%, mas ideia pode ser inviável

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Por Brian Fung
Atualização:
Peso. Taxação de importações poderia fazer custo de produção do iPhone subir dos US$ 225 atuais para cerca de US$ 330 

Empresários estão com medo dos efeitos da agenda de comércio exterior proposta pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. Em uma de suas propostas mais polêmicas, Trump prometeu taxar produtos feitos na China em até 45% – a intenção é dar nova força às fábricas norte-americanas. Mas o tiro pode sair pela culatra em uma das principais empresas do país: a Apple.

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Hoje, a dona do iPhone opera em quase todo o mundo, e usa componentes feitos em 28 países para seus produtos. A maior parte deles, porém, vem da China, onde estão localizados metade de seus fornecedores. Os iPhones e os iPads são montados lá antes de chegar às lojas de todo mundo. Por causa da proximidade, a Apple se beneficia das poucas barreiras comerciais impostas pela China e pela facilidade logística. 

Quando Trump pensa em taxar a China, ele mexe diretamente com a Apple. “Se Trump taxar todas as importações da China em 35%, a maioria das coisas que compramos no Walmart vai ficar 35% mais cara”, aposta Roger Entner, analista da Recon Analytics.  Outros analistas dizem que uma taxação não implicará em reajuste automático dos preços, uma vez que alguns fabricantes poderão absorver o custo em vez de repassá-los ao consumidor. Mas isso pode por a Apple em uma saia justa: hoje, a empresa gasta US$ 224,80 para fabricar um iPhone 7, segundo a consultoria IHS. 

Uma taxação federal de 45% poderia levar o custo-base do iPhone para a casa dos US$ 330. Esse valor, porém, não inclui gastos com pesquisa e desenvolvimento, distribuição e marketing. No caso da Apple, esse reajuste poderia fazer com que alguns consumidores pensassem duas vezes antes de comprar um novo iPhone. 

Ainda que a empresa mantenha o preço do iPhone mais barato em US$ 650, ela reduziria significativamente suas margens de lucro. Procurada, a empresa se recusou a comentar possíveis tarifas. “A Apple é responsável por 2 milhões de empregos nos Estados Unidos. Investimos pesadamente em inovação”, disse a empresa em um comunicado à imprensa. 

Para analistas, a Apple pode sofrer em dobro caso a China resolva contra-atacar as medidas de Trump com suas próprias tarifas. Hoje, a China é um dos principais mercados do iPhone – e não seria nada bom para Tim Cook perder espaço no mercado asiático. 

Paradoxo. Em janeiro, Trump disse que faria a “Apple fazer todos seus malditos computadores e coisas neste país, e não em qualquer outro”. Ainda não se sabe como ele pretende fazer isso – mas é importante dizer que a Apple fabrica alguns componentes vitais nos EUA, como o vidro das telas do iPhone. 

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O fato de que a Apple prefere montar seus produtos na China mostra como o processo de cadeia de suprimentos global mantém a empresa funcionando. No país asiático, a empresa se beneficia de fábricas próximas, gerando escala e cortes de custos. Além disso, os trabalhadores chineses são mais habilidosos que os americanos – é o que acredita Tim Cook. Em entrevista recente, Cook disse que os EUA “deixaram de lado sua vocação para a manufatura”. 

Para Trump, isso é um enorme problema – gerando um paradoxo em suas promessas eleitorais. Para cumprir a promessa do “iPhone 100% americano”, ele teria de dar um jeito de fazer a Apple gastar bilhões em uma nova linha de montagem. Para trabalhar nelas, porém, considerando o déficit dos trabalhadores americanos, a Apple precisaria contratar funcionários estrangeiros. E aumentar a quantidade de imigrantes no país não parece uma proposta razoável para quem quer construir um muro com o México. 

Para a Moody’s, a guerra fiscal de Trump poderá fazer os EUA perderem duas vezes: ao tentar gerar mais empregos para os americanos, o presidente eleito poderá fazer o país perder 4 milhões de vagas. E mesmo que Trump, de alguma maneira, consiga isolar a Apple de suas medidas, ele ainda vai afetar seus consumidores: sem dinheiro, não é todo mundo que vai comprar um smartphone de US$ 650. / TRADUÇÃO DE BRUNO CAPELAS

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