Farhad ManjooThe New York Times
O Twitter é a rede social mais importante do mundo.
Essa afirmação pode parecer exagero de um viciado, mas basta observar as manchetes dos jornais todas as manhãs e a obsessão de todos os canais de notícia da TV a cabo. Praticamente qualquer coisa que aparece no noticiário hoje em dia tem alguma relação com controvérsias e conversas que ocorrem na rede dos 140 caracteres.
Ainda assim, apesar de toda a sua influência o Twitter anda em maus lençóis. A rede sempre foi muito estranha e complicada para os novos usuários se acostumarem e já faz algum tempo que o crescimento é bastante lento. Agora, de acordo com um relatório de faturamento publicado em 10 de fevereiro, o número de usuários deixou de crescer
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Os investidores do setor de tecnologia não têm dado trégua para nenhuma empresa nos últimos tempos e Jack Dorsey, um dos fundador do Twitter, que reassumiu recentemente o cargo de executivo-chefe, está longe de ser tratado com carinho.
Assim sendo, o que pode ser feito? Este é o momento de o Twitter começar a pensar em algo radical. Há mais de dois anos, a empresa passou a negociar suas ações na Bolsa de Valores de Nova York. No primeiro dia de vendas, os investidores avaliaram o Twitter em quase US$32 bilhões, um valor que trazia consigo a expectativa de que o Twitter continuasse a mudar seu perfil para atrair usuários mais comuns, fomentando um crescimento vertiginoso no faturamento com propagandas.
Os únicos padrões de empresas virtuais bem sucedidas para Wall Street são o Google e, mais recentemente, o Facebook. Com sua IPO, o Twitter afirmava ao mundo que fazia parte do mesmo clube – dizia que não havia limite máximo para suas pretensões comerciais e que faria de tudo para criar uma máquina de fazer dinheiro tão significativa quanto o serviço que prestava.
Mas e se o melhor caminho para o Twitter, enquanto serviço virtual, fosse a empresa Twitter abandonar esse sonho? E se a possibilidade de se tornar uma gigante da internet de 25, 50 ou mesmo 100 bilhões de dólares não seja uma possibilidade para um serviço de nicho como o Twitter?
O futuro talvez seja mais promissor para o grupo enquanto uma empresa privada e independente; como uma divisão pequena e sustentável de algum conglomerado de mídia ou tecnologia; ou mesmo como um investimento de risco que funcione mais como uma fundação sem fins lucrativos.
Mesmo que o Twitter planeje continuar como sociedade anônima – afinal, não parece haver vontade, nem mecanismos muito óbvios que permitam que os investidores tornem a empresa novamente limitada – esse é o momento certo para Dorsey criar novas expectativas de futuro para a empresa. O Twitter deveria ver a si mesmo e se mostrar para os investidores como um serviço de utilidade pública, não como uma empresa que cresce desenfreadamente com chances de um dia chegar ao valor de mercado do Facebook.
“Talvez o Twitter não tenha nascido para ser a banda mais popular do planeta”, afirmou Anil Dash, velho usuário do Twitter e executivo-chefe do ThinkUp, uma startup que pretende melhorar a forma como as pessoas utilizam as redes sociais. “Talvez seu futuro seja como o do Pearl Jam, não como o do U2 ou dos Rolling Stones, e talvez o Twitter possa chegar ao equilíbrio como uma empresa com valor de mercado de US$5 bilhões”. (No momento, o valor de mercado do Twitter é de cerca de US$10 bilhões).
Isso não quer dizer que não deveria gerar lucro. O Twitter ainda pode ser uma empresa funcional, que gera dinheiro o bastante para manter e aumentar o alcance de seu serviço. Contudo, nem toda empresa da internet precisa ser a maior e a mais ousada de todas, convertendo-se nessa entidade que cresce incansavelmente e que nos acostumamos a esperar.
Ao invés de ser algo como o Facebook, o Twitter poderia se basear em outros modelos de sucesso. Poderia ser uma empresa como a Wikipedia, comandada por uma organização sem fins lucrativos que depende de doações, ou como a New York Times Co., empresa de capital aberto controlada por uma família que tem preferência por ambições jornalísticas.
Em outras palavras, o Twitter deveria deixar claro que existem limites para o escopo de suas ambições comerciais e que ele é guiado por uma linha filosófica que prioriza a saúde do serviço em detrimento da ambição de crescer a qualquer custo.
Existe uma boa razão para Dorsey pensar em algo novo: expectativas irrealistas são o caminho certo para um futuro ruim. Depois de perder o posto de maior ferramenta de busca, o Yahoo enfrentou mais de uma década de dificuldades porque durante muito tempo quis ser o portal que não tinha condições de se tornar.
Com esse objetivo, a empresa perdeu talento, dinheiro e teve mais executivos-chefes do que uma promoção na Brooks Brothers. Se ao invés de mirar o impossível, o Yahoo tivesse diminuído suas ambições e planejado fazer uma ou duas coisas muito bem, a empresa poderia ter encontrado um melhor rumo para o futuro.
Tornar mais clara a missão do Twitter poderia prejudicar muitas pessoas que trabalham lá, pois talvez fosse necessário dispensar empregados. Além disso, o valor das ações que pertencem aos funcionários poderia cair consideravelmente, caso a empresa deixasse a bolsa de valores. O mesmo problema afetaria os investidores que compraram ações da empresa, quando as expectativas eram grandes.
Contudo, limitar o escopo do Twitter certamente seria melhor para o serviço. O Twitter precisa melhorar seu produto: ele deveria ter formas mais eficazes de resolver casos de abuso e assédio. Além disso, os usuários deveriam ter mais facilidade em encontrar tuítes sobre assuntos que achem interessantes. Contudo, a solução para esses problemas provavelmente não está no crescimento.
Dash destacou que tornar o Twitter mais fácil para que novos usuários entrem para a rede poderia na verdade agravar os casos de assédio. “Todos sempre falam em facilitar a experiência para quem quer utilizar a plataforma. Porém, uma das coisas que pode ajudar é justamente o contrário – dificultar o procedimento. Mas infelizmente ninguém fala sobre isso.”
Limitar o escopo comercial do Twitter também poderia ajudar a diminuir as reações excessivas que ocorrem sempre que a empresa tenta fazer melhorias no serviço.
Na atual situação, o Twitter é bom para muita gente. O Facebook tem cinco vezes mais usuários, o Instagram é tão luxuoso quanto uma viagem à Europa e o Snapchat é o mais descolado. Mas como o Twitter é uma rede acessível e em tempo real que se tornou um centro nevrálgico para jornalistas, políticos, ativistas e agitadores, para o bem ou para o mal, ele já demonstrou uma capacidade inigualável de influenciar coisas concretas no mundo real.
Basta pensar na Primavera Árabe, no #blacklivesmatter ou na campanha de Donald Trump.
“O Twitter criou espaço para amplificar a voz dos marginalizados de uma maneira nunca vista antes. Ele redefiniu a forma como vemos a esfera pública, tornando-a mais inclusiva e acessível, além de ter um impacto considerável em eventos reais”, afirmou DeRay McKesson, um dos fundadores do movimento Black Lives Matter.
Mas para além desses movimentos, é só ver todas aquelas hashtags que enchem os anúncios do Super Bowl. Ou ver como os comentários do Twitter se tornaram uma característica comum dos noticiários e programas de TV. Se ninguém tuitou sobre um fato, será que realmente aconteceu?
É claro que o Twitter poderia ser melhor, mas não precisa ser completamente remodelado tendo em vista apenas o crescimento. “O Twitter talvez não tenha criado um produto que se adapte ao gosto dos analistas de Wall Street, mas a sua utilidade na transmissão de notícias em tempo real é inegável e não foi superada por nenhum outro serviço”, afirmou Mike Jones, executivo-chefe de uma incubadora de startups chamada Science Media.