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Plano de expansão global da Netflix esbarra em concorrência local e idioma

Presente em mais de 50 países, serviço de streaming em vídeo tem problemas para alcançar popularidade na Europa

Por Agências
Atualização:

Reuters

 

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Mark Scott e Elian Peltier do The New York Times

Quando morou em Miami e San Francisco, Diez Ferreira, 44, era fã de House of Cards, drama de fundo político de grande sucesso estrelado por Kevin Spacey. Depois de se mudar para Madri, a família de Ferreira continua preferindo a programação da televisão americana em relação ao conteúdo espanhol – especialmente porque sua filha de 3 anos pode praticar o inglês.

Mas, agora que o Netflix chegou à Espanha, Ferreira não pretende fazer uma assinatura. “A Netflix não me oferece tudo o que já vejo em outros lugares”, disse o empresário espanhol que já assina para receber serviços de streaming de vídeo concorrentes. Um deles até exibe regularmente na Espanha o conteúdo original da Netflix, como a série Orange Is the New Black.

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“Se posso assistir a estes programas com o que já pago, não faz sentido abrir uma conta com a Netflix”, acrescentou. “A Netflix está chegando na Espanha muito tarde”. A relutância de Ferreira mostra obstáculos que a Netflix enfrenta tentando satisfazer suas ambições globais. Na última semana, a empresa deu um passo à frente ao estrear em Portugal, Espanha e Itália, chegando a 13 países na Europa.

Crescer globalmente é uma prioridade para a Netflix. Na semana passada, ao informar seus ganhos do terceiro trimestre, a empresa mostrou que não conseguiu realizar sua previsão de crescimento nos Estados Unidos, e inclusive registrou queda de 50% dos seus lucros em relação aos do ano passado. As operações da Netflix nos EUA ainda representam cerca de dois terços de seu faturamento.

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Fundada há quase 20 anos, a Netflix está hoje em mais de 50 países e tem quase 24 milhões de assinantes internacionais – um terço do total de seus usuários.

No entanto, para crescer globalmente, a empresa tem enfrentado uma série de dificuldades – em especial, a variedade de restrições na distribuição de conteúdo ao redor do globo, além da concorrência de serviços de streaming de vídeo locais.

CREDITO

Limites. Na União Europeia, por exemplo, as leis atuais limitam o tipo de conteúdo que pode ser oferecido em cada um de seus 28 países membros. Além disso, boa parte dos europeus não é fluente em inglês e acaba preferindo a programação local a pagar por conteúdo não-nativo.

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“Esperávamos que a Netflix tivesse um desempenho um pouco melhor, mas o panorama das emissoras em geral é muito voltado para o público local”, disse David Sidebottom, analista da Futuresource Consultancy, referindo-se ao alcance internacional da Netflix.

A concorrência local de outros serviços em que a Netflix demorou para chegar é outro entrave. Empresas já estabelecidas no mercado surgiram de repente da França à Índia, por vezes imitando os serviços on demand da Netflix, e promovendo também o conteúdo na língua local.

Além disso, várias empresas de tecnologia global dotadas de amplos recursos, como a Amazon e a Rakuten, o gigante do comércio digital do Japão, bem como uma série de novas startups, agora oferecem serviços semelhantes aos da Netflix, o que poderá dificultar a adesão à plataforma em novos territórios.

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“Todos os mercados estão crescendo”, disse recentemente Reed Hastings, presidente da Netflix, quando indagado pelos investidores sobre os planos agressivos da companhia para expansão internacional. “Mas alguns têm mais sucesso que outros”, admitiu. “Cabe a nós trabalharmos para fazer com que a nossa carteira cresça tanto quanto a deles”. A Netflix não fornece dados específicos de cada país.

No entanto, com a popularização da banda larga e das conexões 4G no mundo todo, ainda há muito por onde expandir. Segundo a Ampere Analysis, empresa independente de análise de vídeo, a Netflix pode chegar a ter até 130 milhões de assinantes no final da década.

Para vencer as rivais, os executivos da Netflix estão também fechando cada vez mais acordos globais de licenciamento, frequentemente por preços consideráveis, com os principais estúdios que abastecem Hollywood dos grandes sucessos em todos os mercados internacionais da companhia, simultaneamente. Hoje, os acordos de conteúdo são feitos no plano regional e nacional.

Na tentativa de conquistar clientes por todo o mundo que nunca ouviram falar na Netflix, a companhia se associou às operadoras nacionais de telefonia celular e de TV a cabo para incluir serviços de vídeo-streaming em suas ofertas de vídeo on demand. Nos EUA, esse tipo de acordo é feito com empresas como a Cablevision e a Dish Network.

“A oferta da Netflix dá aos nossos consumidores mais uma razão para eles continuarem conosco”, disse recentemente Marco Patuano, diretor executivo da Telecom Italia. A Telecom Italia, por exemplo, já permite que os usuários paguem por um serviço de vídeo streaming mediante um contrato mensal. “Queremos dar aos nossos clientes o máximo de conteúdo premium possível”, disse Patuano.

Rival. Mas para que a Netflix tenha sucesso globalmente, precisará vencer pessoas como Jacinto Roca. O espanhol, que é o diretor executivo da Wuaki-tv, um serviço de vídeo on demand pan-europeu da Rakuten, já tem 2,5 milhões de assinantes espalhados por sete países europeus, e planeja expandir-se em outros três mercados até o final deste ano. Na Espanha, seu principal mercado, a companhia já é considerada fundamental, antes mesmo de a Netflix começar seu serviço concorrente, esta semana.

Embora os programas americanos representem cerca de 50% do catálogo da Wuaki.tv, a companhia, sediada em Barcelona, também emprega pequenas equipes de cinco pessoas em cada país em que opera. Sua missão é adquirir conteúdo ma língua local a fim de atender ao gosto dos usuários (a companhia oferece assinaturas mensais e compras de uma só vez). Este sabor local, segundo Roca, distingue sua empresa da programação, na maior parte americana, da Netflix.

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“Os europeus querem ver conteúdo europeu”, ele disse em uma entrevista. “Nós temos conhecimento local do que as pessoas querem. E este é um elemento imbatível”.

Oscar.Após se destacar ao produzir séries originais como House of Cards e Orange is the New Black e amealhar prêmios no Emmy e no Globo de Ouro, a Netflix quer mais. Estrelado pelo ator Idris Elba (Mandela – O Caminho para a Liberdade) e dirigido por Cary Fukunaga (da série da HBO True Detective), o primeiro filme produzido originalmente pela Netflix mostra as ambições da empresa.

Beasts of No Nation, que estreou há duas semanas no serviço de streaming e em cinemas seletos dos EUA, aborda as guerras civis na África, colocando soldados infantis diante do front. O enfoque realista e o investimento em estrelas pode compensar a Netflix, que pagou US$ 12 milhões pelos direitos da produção.

Beasts tem sido considerado um dos favoritos ao Oscar pela crítica especializada nos EUA, especialmente em categorias como filme, ator (Abraham Attah, ator-mirim que é uma das grandes revelações do filme), diretor e roteiro adaptado. Mas, em bilheteria, o filme decepcionou: arrecadou apenas US$ 50 mil em seu primeiro fim de semana.

/ TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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