Por que gigantes da tecnologia têm perdido bilhões

Com preços altos em relação a outras companhias, papéis de empresas da tecnologia têm sido mais afetados pela instabilidade econômica

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Por Agências
Atualização:

Reuters

 

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Por Conor DoughertyTHE NEW YORK TIMES

Enquanto a economia dos Estados Unidos se arrastava sem muito planejamento nos últimos anos, investidores pagaram somas consideráveis para entrar em empresas de tecnologia de grande sucesso que operavam nos raros bolsões de crescimento persistente. E agora vem a recompensa. Enquanto o mercado de ações continua seu lento declínio em 2016, as ações das empresas de tecnologia caem ainda mais, vítimas de seu próprio sucesso, dos temores com relação à economia global e da contenção dos gastos das companhias.

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Este ano, o índice Standard & Poor’s 500 recuou 9,4%, mas os componentes de tecnologia do índice declinaram cerca de 12%. As ações de Facebook, Amazon, Netflix e Google, que são observadas com muita atenção pelo mercado, perderam ainda mais: registraram recuo de 17% em média este ano, depois de uma valorização de 83% em 2015. “Tão rápido quanto elas sobem, também caem. É isso”, disse Colin Gillis, analista da BGC Partners. O mercado em geral tem sido afetado pela desaceleração da China e pelo colapso do preço do petróleo e de outras commodities.

Muitas companhias de tecnologia, porém, continuam apresentando fortes lucros e têm balanços robustos com recursos para financiar o crescimento futuro. A Alphabet, controladora do Google, acrescentou cerca de US$ 10 bilhões às suas reservas de US$ 73 bilhões, no ano passado. Como as ações destas companhias têm preços relativamente altos em relação aos seus lucros – ou seja, como os investidores estão dispostos a pagar mais agora, na esperança de participar do crescimento futuro – tornam-se mais vulneráveis no caso de uma crise mais generalizada no mercado.

“O mercado está empreendendo uma liquidação geral. Todo mundo está atento”, disse Skip Aylesworth, gerente de carteiras do Hennessy Technology Fund. “As ações de tecnologia são caras, por isso são as mais propensas a uma correção”. Basta ver, por exemplo, o coeficiente preço-lucro da Amazon e do Facebook. Trata-se de uma medida do preço da ação de uma companhia dividido pelos ganhos por ação. No caso da Amazon, este número é 388. O do Facebook é 78. Mas para todas as empresas do S&P 500 é mais modesto: 17. Ao que parece, os consumidores norte-americanos sempre têm o suficiente para comprar um novo iPhone e tem transferido parte dos seus gastos para lojas virtuais como Amazon e Netflix. As empresas, por outro lado, adotaram a computação em nuvem e compraram espaço para anúncios no Google e Facebook.

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Sem dúvida, as ações de empresas de tecnologia foram beneficiadas, até certo ponto, pelos mesmos juros baixos que impulsionaram o mercado como um todo, mas elas também tinham boas notícias para contar aos investidores, bem como os números para respaldá-las. Agora, os investidores se perguntam por quanto tempo elas conseguirão se sustentar, já que a economia encerrou 2015 em meio a choramingos. O crescimento de menos de 1% teve uma série de razões, como comércio mais fraco e queda nos investimentos de empresas. Preocupados com a desaceleração generalizada, os investidores rapidamente puniram empresas cuja trajetória para cima começa perder impulso, particularmente se elas se mostram suscetíveis ao declínio dos gastos das outras empresas.

Este argumento ajuda a explicar a grande queda do LinkedIn, rede social profissional, e da fabricante de software para empresas Tableau. Ambas perderam mais da metade do valor de mercado depois da divulgação da previsão de receitas inferiores ao esperado. “As pessoas anteciparam uma desaceleração da economia americana e uma redução dos gastos com tecnologia”, disse Scott Kessler, analista de setor na Global Market Intelligence da S&P.

No entanto, como os gastos dos consumidores e o crescimento do emprego permanecem saudáveis, o mercado mantém especial consideração por companhias de tecnologia focadas no consumo. As ações do Facebook caíram apenas 5% este ano, enquanto as da Alphabet caíram 11%, um pouco mais do que o S&P 500. A Amazon registrou queda no preço das ações, apesar de ter receita 22% superior no quarto trimestre. A Netflix também decepcionou Wall Street com aumento menor do número de assinantes e as ações caíram 25%.

Ainda não está claro como o declínio das ações das companhias de capital aberto afetará de forma negativa os “unicórnios”, empresas privadas que valem mais de US$ 1 bilhão, como o serviço de carona Uber.

/TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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