Por que o Google está processando o Uber? 

Em ação correndo na justiça da Califórnia, empresa acusa rival de roubar tecnologias de carro autônomo; resultado da questão pode

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Por Daisuke Wakabayashi e Mike Isaac
Atualização:
John Krafcik, diretor executivo da Waymo, unidade de carros autônomos da Alphabet, que controla o Google. Foto: Brett Carlsen/NYT

A Alphabet, holding que controla o Google, está processando o Uber. O motivo? Segundo a empresa, o Uber está usando propriedade intelectual roubada em seu projeto de carros autônomos – mais especificamente, uma tecnologia de sensores criada pela Waymo, a divisão de negócios que desenvolve um veículo sem motorista dentro da Alphabet. 

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Na ação, impetrada num tribunal em São Francisco, a principal acusação recai sobre Anthony Levandowski, que trabalhou no projeto de carros sem motorista do Google até janeiro de 2016. Poucos meses depois, Levandowski fundou a Otto, startup de caminhões autônomos adquirida pelo Uber em outubro de 2016 por US$ 680 milhões. 

Antes de sair do Google, Levandowski teria baixado 14 mil arquivos confidenciais dos servidores da empresa – a maior parte deles, diz a ação, seria de design de circuitos da tecnologia de sensores Lidar (Light Detection and Ranging, algo como “detecção de luz e posição”, em tradução não-literal), indispensável para os carros sem motorista.

“A Otto e o Uber roubaram propriedade intelectual da Waymo a fim de evitar incorrer em riscos, tempo e gastos no desenvolvimento independente da sua própria tecnologia”, diz a empresa, na ação. “No final, este roubo calculado renderia aos empregados da Otto mais de US$ 500 milhões e permitiria ao Uber retomar um programa que estava parado, às custas da Waymo”. 

Procurada, a Uber não respondeu à reportagem do The New York Times. 

A ocasião... Em sua petição, Waymo afirma ter tomado conhecimento do fato por acaso, ao receber um email de um de seus fornecedores. Na mensagem, havia esboços do design da placa-mãe do Uber para sua tecnologia Lidar. Segundo a Waymo, o design do Uber tem “uma semelhança surpreendente” com o projeto do qual tem a patente. Além disso, trata-se de um design altamente secreto, diz a empresa. 

A companhia alega também que diversos funcionários do Google, que deixaram a empresa para trabalhar com Levandowski na Otto, se apossaram de segredos comerciais adicionais antes da sair da companhia, como listas de fornecedores, detalhes de fabricação e informações técnicas.

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Na ação, a Waymo acusa o Uber de roubar segredos comerciais, violar patentes e de concorrência desleal, ao tentar compensar seu atraso no tocante à tecnologia que envolve o carro autônomo.

Em dezembro, a Alphabet, que controla o Google, anunciou que suas operações na área de veículos autônomos foram desmembradas: inicialmente desenvolvido pelo laboratório secreto Google X, o carro autônomo seria agora de responsabilidade de uma nova unidade na empresa, a Waymo. Mais do que uma questão administrativa, a mudança é um sinal de que a empresa percebeu que seu carro autônomo está perto de ser comercializado. 

Durante o lançamento, os executivos da Waymo disseram que a empresa poderá usar a tecnologia de carro autônomo de muitas formas – incluindo um serviço de carona compartilhada para competir com o Uber.

Pivô. Anthony Levandowski é uma figura importante no mundo dos veículos autônomos, tendo trabalhado na tecnologia por mais de uma década. Em 2004, quando era um estudante da Universidade de Berkeley, na Califórnia,projetou uma motocicleta autônoma apresentada em um concurso de veículos sem motorista criado pelo Pentágono. Posteriormente, quando o Google começou seus projetos com carro autônomo, a empresa adquiriu a startup de Levandowski, a 510 Systems.

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Ele deixou o Google no começo de 2016 para fundar sua empresa, a Otto, com Lior Ron, também envolvido na pesquisa de veículos autônomos e mapeamento digital. Em sua petição, a Waymo nota que Levandowski vendeu sua empresa para o Uber pouco tempo depois de receber uma indenização “multimilionária” após ter deixado o Google. 

Disputa. Empresas do Vale do Silício e Detroit estão apostando alto na tecnologia de carros autônomos. E o grande interesse tem provocado uma série de grandes investimentos e também processos judiciais.

No ano passado a General Motors pagou mais de US$ 1 bilhão pela Cruise Automation, startup dedicada à tecnologia de carro autônomo. Recentemente, a Ford anunciou seus planos de investir a mesma quantia durante cinco anos na Argo AI, startup de inteligência artificial criada em dezembro.

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Em janeiro, a Tesla processou Sterling Anderson, ex-executivo responsável pelo piloto automático presente em seus carros. Segundo a companhia, Anderson infringiu as regras estabelecidas em seu contrato de trabalho ao recrutar funcionários da Tesla para a sua nova empresa. Na ação judicial impetrada contra Anderson e seu sócio Chris Urmson, ex-funcionário do Google, a Tesla alega ainda que Anderson roubou informações patenteadas e tentou ocultar o roubo destruindo as informações. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO