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Primeiros casos de sucesso abrem caminho para expansão de ‘fintechs’

Indo além de Nubank e Guia Bolso, startups do setor de empréstimos, investimentos e pagamento começam a despontar no setor financeiro; com missão de repensar lógica dos bancos, novatas sofrem para atrair pessoal e lidar com regulação

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Por Matheus Mans
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  Foto: AMANDA PEROBELLI | ESTADAO CONTEUDO

De tanto ouvir falar do cartão de crédito roxo da Nubank ou do aplicativo de controle financeiro Guia Bolso, uma parte dos brasileiros já consegue ter uma noção do que é uma “fintech” – startup que oferece algum tipo de serviço financeiro inovador. Entretanto, engana-se quem pensa que essas duas empresas são as únicas. De acordo com levantamento divulgado na semana passada pela agência de classificação de risco Fitch Ratings, o número de fintechs ativas – que já tem clientes e receita – chega a 150 no Brasil.

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Especialistas consultados pelo Estado confirmam o número e apontam que o setor está em franco crescimento. De acordo com o consultor de inovação da Accenture, Guilherme Horn, o número de empresas em início de operação que exploram oportunidades nessa área pode chegar a 500 no País.

Segundo a FintechLab, consultoria brasileira especializada no setor, o número de startups ativas é ainda maior do que o divulgado pela Fitch, chegando a mais de 180 iniciativas. Esse número representa alta de 25% no número de empresas ativas no País no ano passado, segundo monitoramento da entidade.

“O mercado financeiro foi um dos últimos a entrar nessa evolução”, afirma o presidente da FintechLab, Marcelo Bradachia. “Depois dos primeiros casos de sucesso, criou-se um círculo virtuoso, que leva a mais crescimento e investimentos.”

Oportunidade. Um bom número de startups que se destacaram nos últimos meses tenta ganhar dinheiro ao oferecer empréstimos para pessoas e empresas. “As altas taxas de juros e a experiência ruim que as pessoas têm ao pedir crédito aos bancos cria uma oportunidade”, diz Horn, da Accenture. “É a área mais promissora para as fintechs.”

O espanhol Sergio Furio enxergou uma chance na área de crédito ainda em 2012, quando fundou a Bank Fácil. A startup oferece taxa de juros equivalente a um quinto da taxa média cobrada pelas grandes instituições financeiras ao mês. Dois aspectos compõem a oferta agressiva: além de pedir imóveis ou veículos como garantia, a empresa desenvolveu um sistema próprio de análise de crédito que cruza informações de diversas fontes tradicionais, mas também das redes sociais do potencial cliente.

Com essa proposta, a empresa emprestou R$ 100 milhões no Brasil em 2015. O valor não é nada perto dos bancos – o Itaú, por exemplo, emprestou R$ 536 bilhões no ano passado. Porém, é significativo para um empresa que, há apenas quatro anos, funcionava em um cubículo de seis metros quadrados.

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A empresa já levantou mais de R$ 25 milhões em aportes. “O mercado é tão grande que cada fintech está pegando um nicho”, diz Sergio Furio, fundador e presidente executivo da Bank Fácil.

Mais nova, a Biva se lançou no mercado em maio do ano passado. Ela conecta pessoas que têm dinheiro para emprestar com empresas que precisam de financiamento. O modelo atraiu investidores. Eles já colocaram R$ 5 milhões na startup – um deles é David Vélez, fundador da Nubank.

A startup Magnetis também levantou R$ 3 milhões ao oferecer consultoria de investimentos para pessoas comuns. O serviço é baseado em um sistema que gera um plano de investimentos personalizado. “O modelo dos bancos é ultrapassado”, diz o fundador da empresa, Luciano Tavares. “Queremos mudar esse paradigma.”

Mistura. Ao lado de startups que já conseguiram viabilizar seus negócios, há empresas menores que ainda estão tentando convencer investidores. “Estamos tentando há dois anos”, diz o fundador da Koin, Ricardo Laureano.

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A empresa quer substituir o cartão de crédito na hora de comprar em lojas online: com um clique, a pessoa compra usando o serviço, mas só paga de verdade quando recebe o produto. “Ela só vai pagar se o produto chegar corretamente”, diz Laureano. A empresa pretende ganhar dinheiro ao ajudar as lojas a recuperar compras que seriam abandonadas – segundo a Koin, 30% das compras em lojas virtuais não são concluídas por problemas no cartão.

Desafios. Para alcançar patamares mais altos, as fintechs precisam vencer uma série de entraves. Os empreendedores são unânimes ao reclamar da dificuldade em recrutar pessoas e enfrentar a regulação “pesada” do setor financeiro. “Em outros segmentos, a experiência do time não é tão relevante”, diz Tavares, da Magnetis. “Você consegue montar um app de namoro sem ter pessoas experientes.”

Na maioria dos casos, as startups precisam “roubar” funcionários dos bancos. Nem sempre é fácil convencer uma pessoa a abandonar um emprego estável por uma aventura em uma startup. Algumas empresas têm apostado na oferta do “pacote Google”: ambiente descontraído, horário de trabalho flexível e vantagens, como viagens ou descontos em shows. “Você precisa ser criativo para atrair funcionários experientes”, afirma Laureano, da Koin.

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No caso da regulação, a criatividade não resolve o problema. O Banco Central regula o segmento da mesma maneira que regula os bancos tradicionais. Além disso, a entidade ainda não definiu regras específicas para serviços financeiros que surgiram recentemente, como o empréstimo de pessoas para empresas. Os empreendedores participam de discussões junto ao Banco Central sobre uma regulação mais flexível, mas as alterações ainda estão longe de se concretizarem.

“É difícil inovar sob as normas da legislação brasileira, que é uma caixa-preta para as startups”, explica o presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Amure Pinho. “Mas o sistema deve evoluir nos próximos anos.”

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