PUBLICIDADE

Startups de educação do Brasil apostam em desafios locais

Com pouco espaço para arriscar, empresas descobrem filão em exames como Enem e concurso da OAB

Por Bruno Capelas
Atualização:
Descomplica, criado pelo professor de física Marco Fisbhen, agora mira a OAB Foto:

No exterior, o principal público das startups de educação está diretamente ligado ao crescimento profissional – não é à toa que a principal área do Coursera é a de negócios e o principal idioma do Duolingo é o inglês. Aqui no Brasil, onde um bom desempenho em uma prova como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou um concurso público pode definir uma vida inteira, as startups encontraram seu principal filão.

PUBLICIDADE

É o caso do Descomplica, por exemplo: fundada em 2011 pelo professor de física Marco Fisbhen, a startup carioca é um “Netflix do Enem”, com 30 mil aulas gravadas e 15 horas de aula ao vivo todos os dias à disposição do aluno. Para ter acesso a todo o conteúdo, é preciso pagar mensalidades entre R$ 20 e R$ 40. Além disso, também há monitorias online e até mesmo a correção de uma redação todo mês.

A maior parte do conteúdo é voltada para o Enem – só no ano passado, o exame teve 9,2 milhões de inscritos. “Se você somar com os principais vestibulares do País, nosso público em potencial é de mais de 15 milhões de pessoas”, conta Rafael Cunha, diretor executivo da startup. Na última semana, o Descomplica foi citado como uma das dez startups mais inovadoras da América Latina pela revista norte-americana Fast Company.

O Enem também foi a chave para a criação do AppProva, de Minas Gerais, fundado em 2012. “Na época, o exame tinha acabado de ganhar importância e virar base para a entrada nas universidades. Pensamos em fazer videoaulas, mas o mercado estava saturado. Acabamos apostando no formato de quiz”, explica Matheus Goyas, presidente executivo da empresa.

Hoje, 1,5 milhão de alunos usam a plataforma de forma gratuita – o modelo de negócios da empresa é baseado em parcerias com escolas. “Por meio dos testes, o professor pode identificar a dificuldade de seu aluno e também saber como ele está na comparação com o resto do País”, explica Goyas. Ao todo, 800 instituições de ensino têm algum vínculo com a startup.

Outra empresa que está ligada ao formato de testes é a Geekie, de São Paulo. Uma de suas apostas é o Geekie Games, que usa a recomendação de algoritmos, para oferecer planos de estudos personalizados para cada aluno. Outra é o Geekie Lab, que permite que diretores e professores acompanhem o desempenho dos estudantes em tempo real, nas escolas.

Para maiores. A receita dos vestibulares, porém, pode ser replicada para outros modelos. O AppProva, por exemplo, já incluiu em seu sistema perguntas voltadas para quem está prestando o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) ou o concurso para obter o registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Publicidade

Já o Descomplica comprou, no ano passado, o cursinho Master Juris, voltado para OAB e concursos públicos – o valor da transação não foi revelado. “A tecnologia para dar uma aula de matemática ou de direito penal é basicamente a mesma”, diz Cunha. O mesmo, diz o executivo, vale para uma expansão internacional. “Hoje, temos operação no México. O que eu preciso? De um bom professor de História do México, por exemplo.” Segundo ele, a meta da empresa é dobrar de público a cada ano até 2019 – lucro, só depois de crescer bastante.

O mesmo vale para o AppProva, que diz estar em uma situação financeira confortável. Nem sempre foi assim: para o presidente executivo da startup, um dos motivos pelos quais as empresas brasileiras atacaram o Enem é a necessidade de crescer rapidamente.

“Como há pouco capital no Brasil para startups, o empreendedor precisa pensar em ter produto, ganhar escala e monetizar, tudo ao mesmo tempo”, diz. “Nos EUA, é diferente: o Duolingo é ótimo, mas não se preocupa em ganhar dinheiro no início”, alfineta Goyas.