Telebrás tenta escapar da privatização

Responsável pelos esforços do governo no setor de banda larga, empresa opera no vermelho e corre para tirar antigos projetos do papel

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Por Matheus Mans
Atualização:
Primeira antena que vai controlar satélite geoestacionário da Telebrás foi instalada em fevereiro, em Brasília Foto: André Dusek/Estadão

A Telebrás, operadora de infraestrutura de internet do governo federal, está tentando ficar de fora dos atuais planos de privatização do governo do presidente Michel Temer. Ontem, o diretor técnico operacional da empresa, Jarbas Valente, mostrou os novos planos da companhia de economia mista durante a Futurecom, principal evento do setor de TI e telecomunicações na América Latina. A empresa está tentando sair do vermelho e se mostra alinhada com as novas tecnologias de conexão de banda larga.

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“Nunca ouvi uma palavra do governo sobre privatização”, disse Valente ao Estado durante a Futurecom, principal congresso de TI e telecomunicações da América Latina, em São Paulo. Apesar das negativas, rumores sobre a privatização da companhia circulam no mercado desde maio, quando Temer publicou um documento com propostas do PMDB para o governo federal. Entre as diretrizes, a que mais chamou a atenção à época foi a de “privatizar tudo o que for possível”. 

Os resultados financeiros negativos nos últimos anos estão entre os motivos que fizeram a Telebrás entrar na lista de possíveis candidatas à sua segunda privatização – a primeira vez foi em 1995, depois de décadas de monopólio dos serviços de telecomunicações no País.

Reativada em 2010, durante o governo Lula, a empresa ressurgiu com o objetivo de levar internet de qualidade para todos os cantos do País. Desde então, porém, poucos projetos viraram realidade e muito dinheiro foi perdido. Até 2015, a empresa acumulou perdas de R$ 500 milhões – apenas em 2012 a Telebrás teve resultados positivos. Em 2016, só nos primeiros seis meses, a Telebrás já está com um prejuízo acumulado de R$ 156 milhões.

“O Estado, com a atual crise, não tem motivo para continuar com a Telebrás”, afirma Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. “Uma estatal como ela demanda muito investimento. E não vejo mais o governo colocando dinheiro nisso.” 

Reviravolta. Para reverter o quadro e alavancar projetos, a empresa mudou de estratégia. Durante a Futurecom, Valente apresentou um novo plano de metas da companhia – é a primeira vez que um planejamento do tipo é incluído no plano de negócios da Telebrás. “Passamos a traçar um plano para otimizar a nossa transformação”, disse o executivo. “Precisamos evoluir, ampliar a capacidade de rede e, principalmente, melhorar a cultura do cumprimento dos prazos.” 

Ele admitiu que este tipo de iniciativa é comum na iniciativa privada, mas não costuma ser implementado nas estatais. “Precisamos mudar isso para reforçar a imagem da Telebrás e torná-la atraente.”

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Entre os projetos da estatal está o primeiro satélite geoestacionário brasileiro, que terá capacidade para transmitir 54 gigabits por segundo e fará transmissões na banda Ka, voltada a serviços de telecomunicações. De acordo com a Telebrás, o satélite fornecerá banda larga para os mais de 5,5 mil municípios brasileiros.

O projeto do satélite começou em novembro de 2013 e, até agora, recebeu investimento de R$ 2,3 bilhões – 27% a mais que o previsto, por causa da alta do dólar. Ele deve ser lançado, finalmente, no primeiro trimestre de 2017 – a previsão inicial era de que o sistema seria entregue ainda em 2016. “Com o satélite, vamos alcançar cidades que nunca tiveram acesso à internet”, afirma Valente.

A Telebrás quer ainda ampliar outros dois antigos projetos relacionados à estrutura da internet. O primeiro é o do cabo submarino que vai ligar a cidade de Santos, em São Paulo, a Lisboa, em Portugal. Em desenvolvimento desde 2015, o cabo feito em parceria com a Islalink deverá ser entregue ainda no começo de 2017, com quase 9,3 mil quilômetros de extensão. O investimento previsto é de US$ 250 milhões. Além disso, a Telebrás quer aumentar o alcance da rede de fibra óptica no País, um dos poucos programas realizados pela empresa que visa a atender diretamente os usuários finais.

Com uma rede de cerca de 28 mil quilômetros e 17 cidades atendidas, a estatal quer levar a rede para outros lugares do País, conectando regiões sem internet – como a Amazônia, que já recebeu fibra óptica em dois municípios, conectando 144 mil pessoas – e escolas, com o programa Minha Escola mais Inteligente, que está em fase de testes e projeta conectar 30 mil escolas até 2019.

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