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Novo aparelho da Amazon promete mudar o mercado

Desacreditado pelo público na época de seu lançamento, Amazon Echo cai na preferência dos consumidores norte-americanos

Por Agências
Atualização:

Reprodução

 

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Por Farhad ManjooTHE NEW YORK TIMES

Boa parte das maiores empresas de tecnologia do mundo passaram os últimos cinco anos na procura fútil pelo Santo Graal, uma máquina capaz de suceder o smartphone como o próximo gadget.

Elas fizeram relógios digitais e rastreadores físicos, todo o tipo de óculos e visores computadorizados, além de mais aparelhos para ligar na TV do que programas para assistir neles.

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Ainda assim, até o momento o candidato mais promissor para a vaga de Próximo Grande Gadget não foi feito pela Apple, pelo Google, Facebook ou Microsoft. Trata-se do Echo, um computador doméstico controlado por voz produzido pela Amazon – empresa cuja última empreitada no mundo dos eletrônicos, o Fire Phone, foi um tremendo fracasso.

Agora pode ser diferente. Um pouco mais de um ano após seu lançamento, o Echo passou de uma bugiganga experimental para um aparelho repleto de possibilidades. Quanto mais o utilizo, mais tenho a impressão promissora que sentia quando utilizei meu primeiro iPhone – uma sensação de que essa máquina está abrindo um universo vasto para a computação pessoal, além de gentilmente expandir o papel que os computadores terão no futuro.

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O que é mais interessante sobre o Echo é que ele veio do nada. Sua aparência não é nada demais e é até um pouco difícil descrever sua utilidade. Uma maquininha pequena, que fica sempre no mesmo lugar e que responde pelo nome de Alexa, capaz de realizar uma série de tarefas – tocar música, ler as notícias, informar sobre o clima, fazer a lista de compras –, coisas que você já pode fazer no seu telefone.

Mas o Echo consegue entrar na sua rotina diária. Quando a Alexa faz um novo pedido de milho de pipoca no mercado, ou chama um Uber para você, quando seus filhos começam a pedir à Alexa para colocar picolés na lista de compras, você começa a querer que toda a sua vida possa ser controlada por ela.

Dessa maneira, a Amazon encontrou uma forma discreta de superar a Apple e o Google – as rainhas do mundo dos smartphones – com um gadget que tem o potencial de se tornar uma força dominante no mais íntimo dos ambientes: nossas casas.

Se tudo isso parece um pouco exagerado, basta ler alguns dos comentários de usuários. No site da Amazon, o Echo tem mais estrelas do que a festa do Oscar. A Amazon não divulga o número de aparelhos vendidos, mas está investindo pesado no dispositivo, incluindo anúncios no intervalo do Super Bowl e duas novas versões. Uma delas é a versão portátil do Echo e a outra pode ser ligada ao sistema de som da casa.

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Scot Wingo, diretor da ChannelAdvisor, empresa de consultoria em e-commerce, afirmou que há bons indícios de que o Echo esteja a caminho de se tornar o próximo produto de US$ 1 bilhão da Amazon.

“Essa é uma das coisas que mais somem dos estoques da Amazon, pelo que pude ver. Não é sempre que isso acontece, mas no caso do Echo, ele fica algumas semanas à venda antes de ficar indisponível por um tempo — o que indica que eles realmente estão tendo dificuldades de produzir aparelhos em número suficiente”. Wingo destacou que o Echo, vendido pela Amazon por US$ 180 apenas através do site da empresa, pode ser encontrado por preços que vão de US$ 200 a US$ 300 no eBay.

Aprendizado. Quando o Echo foi apresentado com a ajuda de um vídeo desajeitado no fim de 2014, pouco tempo depois do fracasso do Fire Phone, o aparelho foi ridicularizado por todos. A utilidade do Echo não era óbvia, e em sua primeira versão, ele parecia meio sem graça. Mas existem boas razões para que tenha sido tão adorado pelos usuários.

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Em primeiro lugar, é fácil aprender a usá-lo, e suas capacidades de reconhecimento de voz são mais intuitivas do que a de muitos outros assistentes por voz (como a Siri, da Apple, ou o Google Now). Mais do que isso, o aparelho não para de desenvolver novas capacidades.

Durante uma entrevista em um evento de mídias recente, Dave Limp, vice-presidente de aparelhos da Amazon afirmou que a empresa criou o Echo porque via possibilidades interessantes surgindo dos avanços nas tecnologias de microfones, reconhecimento de voz e conectividade pela nuvem. Os engenheiros da Amazon passaram anos aperfeiçoando as curiosas capacidades do aparelho. Ao contrário dos assistentes produzidos pela concorrência, o Echo pode ser ativado apenas com a voz e de qualquer parte da sala (o Siri funciona no mínimo a um metro de distância), além de ser capaz de decifrar sua voz em meio a ambientes barulhentos, mesmo com música ao fundo.

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A Amazon também trabalhou para garantir que o aparelho responda rapidamente. “Quando começamos, demorava de 8 a 9 segundos para a música escolhida começar a tocar, e isso é inaceitável. Agora o tempo de espera é de mil a 1,2 mil milissegundos”, afirmou Limp.

A velocidade é um diferencial fundamental. Comparado com a fala robótica da Siri, a voz da Alexa parece natural, mais próxima de um humano do que de uma máquina – e mesmo quando ela não entende seu pedido, o que acontece com frequência no início, você não fica com a sensação de ter perdido muito tempo tentando.

Ecossistema. O mais importante é que assim como um dos primeiros iPhones, a Amazon foi capaz de transformar o Echo no centro de um novo ecossistema. Desenvolvedores de software estão vindo aos montes para criar aplicativos controlados por voz, ou skills, como a Amazon os chama. Atualmente já existem mais de 300 skills para o Echo, desde as trivialidades – existe um que permite que a Alexa faça sons desagradáveis sob comando – aos extremamente úteis. O aparelho é capaz de dizer os horários do ônibus, indicar exercícios de sete minutos, ler receitas, fazer contas e conversões, além de dar dicas de jogos de aventura e outras possibilidades.

Os fabricantes de utensílios domésticos digitais como a Nest também estão correndo atrás para permitir que seus produtos sejam compatíveis com o Echo. A Alexa já é capaz de controlar as luzes e os termostatos conectados à internet, bem como uma variedade de outros aparelhos. Os fabricantes também podem acrescentar o cérebro da Alexa em seus aparelhos, o que significa que em breve não será necessário utilizar o Echo para conversar com o software – o programa pode ser inserido em torradeiras, refrigeradores, ou automóveis.

O Echo está longe de ser perfeito. Ele ainda não entende alguns pedidos e temos a impressão de que não realiza uma série de ações relevantes. Limp concorda com isso. As equipes da Amazon buscam constantemente acrescentar novas capacidades ao Echo, afirmou. Além disso, o aparelho também enfrenta uma grave dificuldade do ponto de vista da distribuição – é claro que ele seria beneficiado pela presença na prateleira das lojas, mas os concorrentes da Amazon no varejo certamente não vão se animar em expor o produto da rival.

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Concorrência. A Amazon precisa pisar no acelerador em breve, porque, embora o Echo não tenha concorrentes diretos no momento, alguns já estão surgindo. Entre eles encontra-se a SoundHound, uma startup que tem trabalhado com reconhecimento de voz há mais de uma década e que agora oferece aos fabricantes de hardware acesso aos seus serviços. No próximo ano, de acordo com a empresa, inúmeros gadgets irão utilizar o software da SoundHound para conversar com os usuários.

É isso que você deseja? Conforme argumentei recentemente, a batalha do FBI contra a Apple em torno da criptografia deve suscitar questões profundas a respeito do futuro dos aparelhos conectados à internet e espalhados por nossas casas. A Amazon conta com fortes mecanismos de proteção de privacidade no Echo. O aparelho não envia dados pela internet a menos que seja despertado pelo usuário e conta com um botão que desconecta o microfone. Mas como em todas as tecnologias inovadoras, certamente estamos entrando em territórios inexplorados.

Ainda assim, o Echo é tão útil que pode valer a pena. Muitas pessoas no setor veem há muito tempo o smartphone como o controle remoto do mundo. Mas o telefone tem suas limitações. Muitas vezes, lidar com a tela pode ser complicado demais. Ao aperfeiçoar uma interface que é muito mais apropriada para o uso doméstico, a Amazon parece estar prestes a construir algo similar ao Jarvis, uma inteligência artificial como a do Homem de Ferro para controlar todas as atividades domésticas. Quem poderia dizer não a isso?

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