Oculus Rift: um portal esquisito para a promissora realidade virtual

Lançado nos Estados Unidos nas últimas semanas, os óculos de realidade virtual 'do Facebook' são um bom começo para uma tecnologia com potencial a ser descoberto

PUBLICIDADE

Por Agências
Atualização:

REPRODUÇÃO

PUBLICIDADE

Brian ChenThe New York Times 

Um sonho de ficção científica – como Mark Zuckerberg definiu a realidade virtual – começa a se tornar realidade.

A Oculus, empresa de realidade virtual que o Facebook adquiriu por US$ 2 bilhões há dois anos, lançou seu muito badalado sistema Oculus Rift na última semana. Com um fone de ouvido, câmera e um controle de jogo, o sistema– que custa US$ 1.500 quando combinado a um computador poderoso – é o primeiro produto de realidade virtual do tipo a chegar ao consumidor, semanas antes de concorrentes como o HTC Vive, da chinesa HTC, e o PlayStation VR, da Sony.

“As pessoas que o experimentam dizem que é diferente de tudo que já tiveram em mãos”, escreveu Zuckerberg numa postagem no Facebook ao anunciar a compra da Oculus. “Mas este é somente o início. Imagine desfrutar de uma cadeira na quadra durante um jogo, estudar numa sala de aula com alunos e professores do mundo inteiro, ou consultar um médico frente a frente em sua casa, bastando apenas pôr os óculos”.

Leia também:Dinossauros do Brasil voltam à vida em realidade virtualRealidade virtual deve finalmente entrar na vida dos consumidores

Na semana passada fiz um teste com o Rift e boa parte do conteúdo disponível para ele para ver quanta verdade há nas palavras de Zuckerberg. Em minha opinião, embora o Rift seja um sistema de hardware bem construído, com muito potencial, a primeira onda de aplicativos e jogos disponíveis para ele limita os prováveis usuários do aparelho a jogadores viscerais. É também mais difícil de instalar e de se acostumar a ele do que produtos como smartphones e tablets.

Publicidade

Eis um relatório de minhas primeiras experiências com o Rift:

Instalação. O Rift funciona com tecnologia que alguns podem achar um bocado simplórias e “antiquadas”: um PC com Windows, um monitor, teclado e mouse. Com muita gente mudando dos computadores de mesa para laptops, tablets e smartphones, encontrar um local para instalar o Rift e os outros componentes pode ser um problema. Em meu modesto apartamento em São Francisco, instalei o sistema na sala perto do meu aparelho de TV. Que horror!

Quando usado pela primeira vez, o Rift parece robusto e bem-feito. A armação do headset pode ser ajustada a sua cabeça e os fones produzem um som profundo de alta qualidade. Meu principal problema, que deve ter a ver com o formato do meu rosto, foi não conseguir ajustar o headset na cabeça de maneira a cobrir um pequeno espaço embaixo do meu nariz – tive de pôr um pedaço de papel em cima para conseguir a imersão total.

Para começar a operar o aparelho levou cerca de uma hora. A Oculus instrui a operar um aplicativo que ensina em todo o processo, o que inclui como conectar o casco e a câmera, sincronizar um controle Xbox e ajustar o headset.

PUBLICIDADE

O maior problema, no entanto, foi encontrar e baixar conteúdo por meio da loja de aplicativos da Oculus. Muitos jogos exigem downloads de mais de 6 GB, de modo que um jogo levou pelo menos meia hora para ser baixado – uma infinidade de tempo para quem está acostumado a baixar aplicativos para um celular.

Depois de clicar o botão “instalar” para permitir ao Windows concluir a instalação de um jogo, outro impedimento: não consegui rodar um jogo e baixar outro simultaneamente. Em vez disso, tinha de deixar de lado tudo que estava fazendo no Rift para baixar alguma coisa nova. O que significa que qualquer usuário vai levar muitas horas para conquista uma bela coleção de jogos no Rift.

REPRODUÇÃO

Publicidade

Conteúdo inicial. Fiquei sozinho em uma sala vazia com o feroz dinossauro. Alguns segundos depois estava em torno de uma fogueira com uma raposa, um veado e um coelho. E depois estava no alto de um arranha-céu, olhando para baixo.

Há alguns ambientes em que a Oculus o coloca em uma simulação chamada Dreamdeck, que serve como introdução à realidade virtual. Como em um sonho sem pé nem cabeça que você pode ter depois de consumir uma enorme porção de “brownies batizados”, você salta de um cenário desconexo para outro.

Em alta
Loading...Loading...
Loading...Loading...
Loading...Loading...

O aplicativo Dreamdeck é emblemático da condição de conteúdo do Rift. O primeiro grupo de aplicativos e jogos é adicionado a um cenário de realidade virtual desconjuntado. Em meus experimentos, minha reação foi mais no sentido de “por que gostaria de estar aqui?”, ou “por que isso está na realidade virtual?”, e não “Uau!”.

Um exemplo foi um dos principais games do Rift até aqui: EVE: Valkyrie (na imagem acima), em que você assume o papel de piloto de uma nave espacial morto em batalha. Como sua consciência foi capturada quando você morreu, ela é enxertada em um novo corpo para cada luta. O jogo, que envolve dirigir uma nave especial e atirar com armas e mísseis em outros jogadores online, foi impressionante e estimulante e morrer foi apropriadamente tenso.

No entanto, uma realidade em que você é um piloto morto e escravizado para lutar e combater o tempo todo? Os jogadores inveterados podem adorar isso, mas prefiro estar um lugar menos deprimente quando fujo da vida real. Prefiro que me ponham em uma praia onde posso olhar as baleias.

Reuters

Corpo e mente. Se você comprar o Rift, é melhor ter pele grossa. A estética do headset – parece um par de óculos de esqui com fones do tipo usado pelos controladores de tráfego aéreo – não foi projetada para deixar ninguém atraente. E, como usar o Rift deixa o usuário menos consciente do mundo exterior, vídeos e fotos dele usando o aparelho – e sem seu consentimento – podem acabar aparecendo no Instagram ou no Facebook.

Publicidade

O Rift tem outras consequências para o corpo e a mente. Sinto-me mentalmente esgotado depois de uma sessão de 20 minutos. Meus olhos ficam cansados depois de meia hora e em uma semana desenvolvi um tique nervoso nos olhos.

A Oculus recomenda aos proprietários do Riftcomeçarem a usar o aparelho aos poucos. Use-o alguns minutos de cada vez no início; depois, gradativamente, aumente o tempo. Todos os usuários devem fazer pausas curtas depois de 30 minutos de uso, aconselha a companhia.

Conclusão. O gráfico Rift de acompanhamento do som e movimento da cabeça, que é a capacidade do aparelho de seguir a direção do olhar do usuário, parece coisa de ficção científica. Enquanto a configuração do sistema é, de certo modo,complexa, a suavidade e a alta qualidade do design do headgear tornam a realidade virtual pronta para uso.

E, no entanto, pode haver um prêmio ainda maior para quem espera comprar o Rift.

Por um lado, a Oculus adiou o lançamento dos controles baseados no movimento, chamados Touch, até o final do ano. Por minha experiência, os controles parecem muito mais apropriados para uso em aplicações de realidade virtual que um controle de jogos.

Também é aconselhável saber que jogos estarão disponíveis para o Rift quando a Sony lançar o PlayStation VR. Analistas dizem que o PSVR leva vantagem por seu baixo custo– cerca de US$ 800, quando combinado com acessórios e um PlayStation 4, o que é quase metade do preço de um sistema Rift completo.

Quando se fala nisso, não discordo de Zuckerberg de que isso seja o início da realidade virtual. Com cerca de 30 jogos e uns poucos aplicativos disponíveis na apresentação, o Rift ainda não tem muito a ver com o sistema. A Oculus vai precisar eventualmente de um maior e mais diversificado leque de conteúdo para ir além de seu público inicial de geeks dos games. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.