Dificuldade de aprendizado em ‘For Honor’ faz game perder força
Aposta da Ubisoft para inovar no mundo dos jogos online, game demanda muito esforço de aprendizado do jogador até conseguir recompensá-lo
Por Bruno Capelas
Atualização:
No mundo dos jogos online, um gênero reina sobre todos os outros: os dos jogos de tiro em primeira pessoa (FPS, na sigla em inglês). Nomes como Call of Duty, Battlefield, Counter-Strike e Overwatch, para citar apenas os mais bem-sucedidos recentemente, são praticamente erguidos ao topo da cadeia alimentar dos jogos eletrônicos por conta da possibilidade de suas partidas pela internet. Há, claro, exceções à regra – caso dos MOBAs, como League of Legends, da série de esportes FIFA, de jogos de luta como Street Fighter e um ou outro jogo de aventura. Desde meados de fevereiro, a francesa Ubisoft lançou mais um desafiante nessa grande arena: For Honor.
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Anunciado pela empresa em 2015, o game desde o início teve boa repercussão por sua ideia clichê, mas ainda assim interessante. Por conta de um cataclisma, os continentes da Terra se uniram – seus territórios são disputados por três povos guerreiros: vikings, samurais e cavaleiros. A “história”, no entanto, era o de menos: juntar três tipos de personagens favoritos dos videogames (e da cultura pop, de modo geral) em uma arena de combate, em diversos formatos de batalha (tal como os diversos modos de jogo que há nos games de tiro), e ver o que acontece.
De quebra, a empresa também colocava o jogo à disposição do mundo dos eSports – as competições de videogame com prêmios cada vez mais vultosos em termos de quantias. Não é uma estratégia de todo inédita: nos últimos meses, a Ubisoft tem crescido os olhos para o setor com jogos como Just Dance e, principalmente, Rainbow Six Siege, cujos campeonatos têm tido bom público aqui no Brasil. Não é uma ideia ruim: em 2016, segundo dados da consultoria Deloitte, o mercado de eSports gerou cerca de US$ 500 milhões – e deve continuar a crescer.
Lançado em fevereiro pela empresa, For Honor se divide em duas partes: um modo campanha, no qual é contada a história de diversos guerreiros das três facções, e os diferentes modos online. Antes de tudo começar, no entanto, o jogo dá ao usuário um longo tutorial sobre como os guerreiros devem se defender e atacar os adversários, em uma lição que For Honor pegou emprestado do livro de aprendizados de jogos como Dynasty Warriors e Dark Souls.
No início do modo campanha – cuja trama circula sem muita originalidade por ideias básicas de vingança, traição e honra (daí o nome do jogo, claro) –, esse tutorial é repetido algumas vezes, aos pedaços, durante as missões de combate. Em uma missão específica, é simplesmente impossível derrotar um adversário caso o tutorial não seja seguido à risca.
Essa insistência não é à toa: aprender o básico para se divertir com For Honor é uma tarefa que exige algum tempo de dedicação do jogador. Quem conseguir superar esse nível pode se divertir com o jogo – e seus diversos modos de batalhas online –, mas trata-se de uma escada longa. A ideia de buscar um jogo online (e um eSport) em que as armas são brancas (e não de fogo) é interessante, mas esse combate muitas vezes é um bocado frustrante.
Nos modos online, é necessário saudar a Ubisoft pela variedade de ideias. É possível envolver-se em embates individuais (Duelo), em dupla (Briga), em times, e até mesmo comandando, com outros jogadores, pelotões de soldados em torno de um território (Batalha) – o que transforma For Honor em uma curiosa mistura de jogo de luta com o combate mais estratégico.
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Além disso, é nas partidas pela internet que outra faceta do jogo se mostra: a “vitalidade” (tradução livre para o termo em inglês stamina) do guerreiro, que pode definir os combates tanto quanto a sequência de botões a se apertar. No entanto, nos testes realizados pelo Estado, há outro problema aqui: o sistema de escolha de jogadores para as partidas estava pouco nivelado, unindo iniciantes com alguns veteranos, deixando os combates pouco competitivos.
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Dois pontos a favor do game, porém, são dignos de nota: o primeiro são os belos gráficos, seja em combates, guerreiros ou dos cenários das batalhas. O segundo é o cuidado com a representação de gênero: para aumentar o poder de escolha do jogador, em algumas classes é possível optar pelo sexo do guerreiro. “A diferença entre os guerreiros, porém, é puramente estética: queremos que o jogador se sinta confortável para escolher como quer se representar no jogo. Não há diferença nos poderes de um guerreiro ou de uma guerreira de mesma classe e tribo”, explicou Bio Jade, uma das desenvolvedoras de For Honor, em entrevista recente ao Estado.
Vale a pena? Se você gosta de jogos online, For Honor pode ser um jogo interessante. O mesmo vale para quem é fã da temática medieval ou de games de “armas brancas”. O jogo tem bons modos online e gráficos interessantes – já o modo campanha serve apenas com um grande tutorial, sem adicionar muito ao contexto total do game. O principal ponto fraco do jogo, porém, é a curva de aprendizado, que exige bastante do usuário até conseguir recompensá-lo com partidas emocionantes. Se você tem tempo sobrando, pode ser interessante. Caso contrário, é melhor seguir em frente e provar sua honra em outras arenas.