Jogo polonês ‘Superhot’ vai ganhar versão para realidade virtual

Hit independente que traz novo conceito aos jogos de tiro deve ser lançado em breve para o Oculus Rift

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Por Bruno Capelas
Atualização:
Com um visual minimalista, o jogoSuperhotrevoluciona o gênero de tiro em primeira pessoa –o jogo está disponível para Xbox One e PCs. Foto: Reprodução

“O tempo só se mexe quando você se mexe também”: é com essa premissa que o jogo polonês Superhot se tornou um dos principais lançamentos do mundo dos consoles em 2016, em suas versões para PC e Xbox One. De forma criativa, o game deu novo gás aos jogos de tiro com seu formato diferente de ação – de nada adianta se esconder nos cantos e atirar contra todos, porque, uma vez que o tempo é congelado, suas balas não vão alcançar os inimigos. Agora, o estúdio polonês que leva o mesmo nome prepara uma versão do game para os óculos de realidade virtual Oculus Rift, com auxílio dos controles de mão Oculus Touch. 

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“Estamos criando o jogo para ser jogado com o Oculus Touch: isso significa que você poderá socar os inimigos no meio do jogo”, diz Piotr Iwanicki, produtor do game que veio ao Brasil para o BIG Festival, no final de junho. “Só é preciso ter cuidado para não socar as paredes no meio da partida”, avisa o desenvolvedor, que estava com o braço enfaixado durante a entrevista – ele garante que é por conta de um tombo na rua, e não um “acidente de trabalho”. 

Segundo Iwanicki, a nova versão ainda não tem uma data de lançamento prevista. “Queremos ter Superhot em realidade virtual ainda este ano, mas não prometo nada. Os jogadores querem uma experiência de qualidade, de forma que não adianta correr se não formos entregar algo bom”, diz. 

O contexto do jogo é simples: o jogador deve, em diferentes níveis, superar desafios com inimigos (silhuetas em vermelho) que querem matá-lo. Entre uma fase e outra, podendo usar armas, espadas ou até mesmo os próprios braços, o protagonista se vê em meio a um sistema de computador antigo – como o velho DOS –, em uma narrativa com humor negro e metalinguagem. 

Lançado em fevereiro para PC e em maio para o Xbox One, Superhot é mais um dos representantes da ótima safra polonesa de games – que inclui também títulos como The Witcher, melhor jogo de 2015 no Game Awards, Dying Light e This War of Mine, vencedor do BIG Festival do ano passado. “A Polônia é hoje um ótimo lugar para criar jogos: somos um país desenvolvido com quase tudo que é necessário, mas com custo de vida menor que nos outros lugares”, diz Iwanicki. A seguir, confira os melhores trechos da entrevista. 

As balas disparadas pelo jogador só se movem caso o atirador também se movimente. Foto: Reprodução

Superhot teve boa repercussão nos consoles. Como é criar uma versão para realidade virtual? Tem sido muito divertido desenvolver jogos para realidade virtual. Você tem que esquecer muito do que sabe sobre criar um jogo para PCs. E ainda mais quando desenvolvemos um jogo com ajuda do Oculus Touch – sim, isso significa que você poderá socar seus inimigos no meio do jogo. Só é preciso cuidado para não socar as paredes no meio da partida. É melhor não ficar perto de ninguém ou da tela do sua TV. Nosso planejamento é lançá-lo ainda este ano, mas ainda não podemos prometer. Os jogadores de VR querem uma experiência de qualidade, então não adianta nada correr se a gente não vai entregar algo bom. 

Uma das coisas mais interessantes do jogo é a forma como ele trabalha o texto e o humor entre cada uma das fases. Como isso surgiu?  Queríamos fazer algo que os outros estúdios não costumam fazer – como esse estilo de humor esquisito. Isso faz parte de Superhot tanto como o conceito de tiro. Foi algo natural par anós, é um humor à moda polonesa. Ficamos um pouco com medo de espantar as pessoas – o jogo teve uma campanha no Kickstarter para ser financiado, e tínhamos que responder ao público. No entanto, toda vez que colocamos algo estranho no jogo, percebemos que os colaboradores do Kickstarter gostavam mais. E aí acabou ficando assim. 

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Como surgiu o conceito do “tempo que só se mexe quando você se mexe”?  Superhot começou como um jogo feito para uma game jam [competição de jogos com um tema em comum e prazo limitado de desenvolvimento]. Era um experimento: eu gostava de fazer jogos em flash e queria tentar conceitos novos – e é bem difícil fazer isso em um jogo de tiro, um gênero bastante engessado. Daí, lembramos da lógica de jogos por turnos, em que cada um tem a sua vez, e juntamos as duas coisas. 

Há momentos no game em que até se esquece que este é um jogo de tiro – parece bastante um grande quebra-cabeça.  Superhot tem algo de quebra-cabeça, mas é um quebra-cabeça extremamente difícil. No entanto, ao desenvolver o jogo, quando tínhamos de escolher entre puzzle e ação, nós escolhíamos ir pelo lado da ação. Os quebra-cabeças costumam ter só uma solução, e nós queríamos dar algo vivido e cheio de possibilidades aos nossos jogadores. A ação sempre vai ser mais divertida, sabe? 

Superhot faz parte de uma grande safra de jogos poloneses, como The Witcher, Dying Light e This War of Mine. Como é o ambiente para criação de jogos na Polônia? É um ótimo lugar para criar jogos! Não é tão caro quanto os Estados Unidos ou a parte ocidental da Europa. Somos um país desenvolvido com quase tudo que a gente precisa, mas com custo de vida menor que esses outros lugares. Não é caro fazer grandes jogos – é por isso que The Witcher conseguiu ser um jogo tão grande mesmo vindo de um país pequeno. Na Polônia, esse tipo de coisa é possível. Os estúdios começaram com jogos pequenos e foram crescendo. Temos alguns eventos, e tenho a sensação de que conheço a maioria das pessoas que fazem jogos na Polônia. Nós costumamos beber juntos (risos) e beber muito!

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Como é que isso tudo começou?  Éramos um país comunista! As pessoas, desde cedo, aprenderam a hackear o sistema e encontrar seu próprio jeito de se divertir. As crianças aprendiam a piratear jogos – e isso faz parte da tradição de quase toda a Europa Oriental. Isso fez com que nós aprendêssemos a mexer com códigos e criar nossos próprios jogos. 

Além de Superhot VR, vocês tem planos para outros jogos?  Não. Estamos focando em levar Superhot para outras plataformas. Hoje, recebemos muitos e-mails de pessoas dizendo que jogaram Superhot no celular e odiaram o jogo. Nós nunca criamos uma versão de Superhot para o celular! Como assim? Descobrimos que copiaram a gente, de maneira que resolvemos criar uma versão para dispositivos móveis de Superhot. Estamos explorando muitas coisas ainda. 

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