Link Lab: ‘Mafia III’ tem boa embalagem, mas carece de substância

Ambientado em uma versão fictícia de New Orleans no final dos anos 1960, game se destaca por narrativa e trilha sonora, mas jogabilidade fica bem aquém do esperado

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Por Bruno Capelas
Atualização:
Depois de dois episódios próximo da máfia italiana, Mafia III muda de foco com um protagonista negro Foto:

Até mesmo para quem não joga videogames toda hora, é difícil não se impressionar com o início de Mafia III. Para se apresentar ao jogador, o game faz uma bem amarrada mistura de cenas e acontecimentos reais de uma das épocas mais complexas do século XX – o final dos anos 1960, nos Estados Unidos – com a história ficcional de Lincoln Clay, o anti-herói do novo capítulo da saga da 2K Games. Seguindo um estilo digno dos melhores “falsos documentários”, o game apresenta Clay: um garoto negro, órfão, acolhido por um padre e depois, pela máfia negra local de New Bordeaux, versão fictícia de New Orleans. Depois da longa e ambiciosa introdução, o jogador só toma conta da ação quando Clay retorna à cidade natal como veterano honrado da Guerra do Vietnã e reencontra seus velhos parceiros de máfia, embalado pelas grandes canções do rock e do soul da época. 

O problema é o que vem a seguir: ao fazer uma das melhores aberturas de jogos dos últimos anos, Mafia III eleva a barra alto demais para o resto do jogo. E o que se vê, ao longo do resto do game, é um grande “bate-e-assopra”, resumido em uma simples frase: apesar da ótima ambientação, o game falha em entregar boa jogabilidade. Depois de entusiasmar o jogador com sua história, por vezes Mafia III pede a ele que dê conta de missões muito simples, sem grandes traços de sutileza -- como invadir um bairro de uma gangue rival para matar seu líder ou correr atrás de um informante para conseguir dados privilegiados de um cartel de drogas ou um prostíbulo. 

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Até mesmo em grandes momentos do jogo a jogabilidade é simplória. É o que acontece em uma das sequências iniciais, na qual Clay se envolve em um grande roubo ao fisco dos Estados Unidos. Apesar do grau de complexidade do crime, tudo que Clay tem de fazer é enfrentar ondas de inimigos -- em um clássico exercício de jogos de tiro --, pilotar o barco da fuga e, depois, se infiltrar no meio do Mardi Gras (o carnaval de New Orleans) para escapar. Não é ruim, mas trata-se de uma dinâmica de tarefas que os jogadores estão acostumados a fazer há mais de uma década nos games -- pelo menos, desde quando Grand Theft Auto III surgiu em 2001 com sua percepção subversiva do mundo do crime e sua jogabilidade de mundo aberto. 

O que segura o jogador ao longo de Mafia III, como já dito, é a ambientação e a história: a cidade de New Bordeaux tem muito em semelhante com a New Orleans do passado, e apesar de apelar ao clássico clichê da vingança, a história individual de Lincoln Clay é entusiasmante. Os gráficos do game, por sua vez, não deixam em nada a dever ao melhor que os jogos da 2K já apresentaram -- pense no último GTA (GTA V, de 2013) ou em Red Dead Redemption, para ficar em apenas dois títulos. 

As cenas cinematográficas (ou cutscenes, no jargão do gênero) -- exibidas entre uma e outra missão -- se aproveitam muito bem da trilha sonora de mais de 100 canções da época escolhidas para o jogo: é muito difícil não se arrepiar quando, após completar o roubo ao fisco, Clay e seus comparsas saem dirigindo por New Bordeaux ao som de “I Fought the Law” (“eu lutei contra a lei”, em tradução literal), na versão original da Bobby Fuller Band. Há ainda grandes sequências ao som de Rolling Stones e Creedence Clearwater Revival, para citar apenas dois casos específicos. É uma pena, porém, que a jogabilidade da direção de carros também seja um ponto fraco do jogo -- senão, eu teria passado horas apenas ouvindo as três diferentes rádios (rock, country e música negra) presentes em Mafia III. 

Apesar de boa temática, jogabilidade das missões é simplória demais Foto:

A grande questão em Mafia III é simples: não basta ter uma grande história para contar, nem as melhores músicas para ouvir, se o game não entrega diversão quando o jogador assume o controle da ação. No fim das contas, um grande game, sem boa jogabilidade, é como assistir a um enorme filme com partes interativas entediantes no meio do caminho. 

Vale a pena? Dificilmente. Se você é fã dos dois primeiros Mafia, encontrará o mesmo nível de detalhe dos outros jogos, com ótima ambientação e uma trilha sonora de tirar o fôlego. No entanto, se o seu negócio é ir além da história principal, seja fazendo missões secundárias ou mesmo tirando uma onda com sua “caranga” por New Bordeaux, talvez você se sinta um pouco decepcionado pelas tarefas repetitivas e pela jogabilidade simplória de Mafia III. É uma pena: com uma trama racial-histórica muito bem contada (e ótimas cutscenes), Lincoln Clay merecia mais. 

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Mafia III Produtora: Hangar 13 Publisher: 2K Games Preço: R$ 200 Já disponível no Brasil

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