Link Lab: 'Quantum Break', em busca do tempo perdido

Novo jogo dos criadores de ‘Max Payne’ e ‘Alan Wake’ promete inovação com fusão entre games e TV, mas proposta fica pelo caminho em execução simplória

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Por Bruno Capelas
Atualização:
 Foto: Reprodução

Desenvolver um game não é coisa que se faça da noite para o dia: é preciso pensar em diversos elementos, da história à jogabilidade, passando por cenários, personagens, visuais e outros pequenos detalhes que fazem de um jogo um bom motivo para se passar horas e horas com um controle na mão. Um jogo grande (como a maioria dos blockbusters lançados para consoles), então, demora bastante tempo – especialmente se ele vier acompanhado de uma proposta inovadora em sua narrativa, como é o caso de Quantum Break, o principal lançamento para Xbox One do primeiro semestre.

Criado pela Remedy (a empresa sueca responsável por títulos como Max Payne e Alan Wake), Quantum Break foi anunciado em 2013, junto com a divulgação do novo console da Microsoft, o Xbox One. O hype era grande: o título prometia uma integração entre os games e as séries de TV, intercalando sequências jogáveis de um mocinho (Jack Joyce) com episódios de cerca de 20 minutos que mostram as ações dos “vilões”. Inicialmente previsto para 2014, Quantum Break foi adiado para 2015 e acabou só chegando às lojas em abril de 2016 – no meio do caminho, deixou de ser um exclusivo para Xbox One e também foi lançado para PCs. 

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Além da proposta diferente de narrativa, o jogo também trazia uma história interessante: após um experimento científico mal-sucedido, o protagonista ganhou poderes para manipular e congelar o tempo – o mesmo aconteceu com o vilão Paul Serene, que se aproveitou disso para criar um império corporativo, a Monarch Solutions. No entanto, no meio do caminho, Serene acabou matando o irmão de Jack, William – e cabe ao protagonista tentar reverter esse problema com ajuda de seus poderes. O jogador vive um pouco de cada lado: após cada sequência jogável com Joyce, é dado ao usuário o poder de tomar uma decisão com Serene, que influenciará o episódio de TV a seguir e também a história do jogo nas próximas sequências – como uma versão moderna do antigo programa Você Decide, exibido pela Globo nos anos 1990. 

Mas nem sempre todo o burburinho antes do lançamento se torna de fato realidade. No que diz respeito à narrativa, a sensação é que Quantum Break perdeu um pouco do “tempo”: ao ser anunciado em 2013, a forma como o jogo trataria as decisões de seus usuários parecia inovadora, como um tratamento “de gente grande” a premissas que já haviam surgido em jogos independentes como Braid, do aclamado desenvolvedor Jonathan Blow

Ao chegar ao mercado, porém, a forma como o game trata as consequências das escolhas dos jogadores parece simples perto de como o recurso já foi utilizado em títulos como Life is Strange, uma das grandes surpresas de 2015, lançado pela Square Enix. Outro ponto que enfraquece a história de Quantum Break é que o jogo se perde, especialmente na primeira metade, em grandes explicações teóricas sobre o que está acontecendo na tela, não conseguindo dar a seus personagens um grau interessante de empatia.

 Foto: Divulgação

Já no campo da jogabilidade, Quantum Break investe em sequências de tiro em terceira pessoa, não ficando muito a dever para o que já se viu em jogos como o próprio Max Payne: mesmo um jogador que não está acostumado a atirar por aí consegue resolver as situações em que Joyce é perseguido pelas forças da Monarch. 

Os recursos que Joyce têm para manipular o tempo dos combates também pouco acrescentam ao que já se viu em jogos anteriores da Remedy, parecendo mais sofisticações do que grandes revoluções do “bullet time” de Max Payne – recurso que “fazia o tempo parar”. Não que não seja divertido (e em muitos momentos é extasiante acabar com hordas de soldados), mas em meio a tantas novidades, faltou à Remedy pensar em um gameplay que soubesse tirar proveito da inovação de sua história – quem sabe algo com mais elementos de ação e de aventura, utilizados tão bem em jogos de mundo aberto? 

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Já os episódios televisivos que acompanham o jogo, apesar de interessantes, acabam sendo apenas um penduricalho na narrativa: ao desenvolver tramas paralelas por dentro da Monarch Solutions – e não focar apenas na história de Paul Serene – ela se estende por ramificações que podem confundir a maioria dos jogadores ou, no mínimo, tirar seu foco do que está acontecendo na série. 

 Foto: Divulgação

No que diz respeito ao lado técnico do game, os gráficos impressionam: a estilização de como as "quebras" no tempo aparecem é bastante elegante, sem ofender a inteligência do jogador e a física da vida real. No entanto, há alguns problemas: no teste realizado pelo Link, por vezes os personagens não obedeceram aos comandos corretos, tentavam pular em plataformas inexistentes e atravessar paredes sem ter esse poder.

Vale a pena? Os três anos de espera entre o primeiro anúncio e a chegada de Quantum Break às lojas fizeram mal ao jogo da Remedy: a expectativa pode não ser do tamanho da decepção, mas deixou uma grande ideia um bocado esmaecida pelo traço do tempo. Se a jogabilidade não apresenta grandes novidades, recorrendo ao bom e velho “arroz com feijão” dos games de tiro, a narrativa com múltiplas possibilidades é um recurso que perdeu força ao “demorar para chegar ao mercado”. É um jogo divertido e suas 15 horas aproximadas de duração podem entreter e muito o gamer (mesmo que ele não seja um fã de tiro em terceira pessoa), mas que passa longe da proposta revolucionária inicial. Tempo, ao menos, não faltou.

Quantum BreakProdutora: RemedyPublisher: MicrosoftPlataformas: Xbox One e PCPreço: R$ 199 Disponível no Brasil

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