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Link Lab: ReCore desperdiça potencial com bugs e desafios repetitivos

Criado por desenvolvedores de Mega Man e Metroid Prime, exclusivo do Xbox One tinha a receita perfeita nas mãos, mas falhas durante o jogo e “enrolação narrativa” fazem game perder força

Por Bruno Capelas
Atualização:
Assim como seu "antepassado" Metroid, ReCore tem protagonista feminina Foto:

Quando foi anunciado, na E3 de 2015, ReCore parecia ter todos os elementos para se tornar um jogo digno de culto especial entre os fãs de videogames. Não era difícil entender porque: tratava-se do novo projeto de Keiji Inafune (criador de Mega Man), em parceria com a Armature Studios (formada pelos responsáveis por Metroid Prime, que trouxe a clássica série da Nintendo para os anos 2000). Tinha uma garota como protagonista e um simpático robô-cachorro como seu fiel companheiro. Os gráficos eram muito bonitos e a jogabilidade – pelo menos no vídeo – parecia interessante e fresca, com sabor de novidade. 

Ao jogar o game, lançado no início deste mês para Xbox One e PC, no entanto, a sensação era outra: o frescor da novidade e dos tiros espertos disparados por Joule – a tal protagonista – foi substituído pela lentidão das telas de carregamento do jogo, que chegavam a demorar 2 ou 3 minutos para recolocar a heroína no mesmo ponto onde ela parou antes de morrer em uma batalha. Agora imagine este efeito sendo repetido seis ou sete vezes em uma luta acirrada contra um chefão exigente e você terá a sensação exata de como é jogar ReCore. 

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Não que o jogo comece mal: sua narrativa, ao menos no início, é bastante envolvente. Mais uma vez no mundo dos games, a Terra está perto de entrar em colapso. Pesquisas científicas apontaram, no entanto, que um planeta próximo – chamado de Éden Distante – teria condições de se tornar habitável com o trabalho de alguns robôs, enquanto a humanidade hiberna em espaçonaves pelo mundo. No entanto, algo dá errado no meio do caminho, e os robôs – aranhas, cachorros e lobos cibernéticos, chamados de microbots – acabam se tornando criaturas agressivas e não executam o trabalho. A heroína, Joule Adams, é filha de um dos cientistas que lideram o projeto, e acaba sendo escalada para fazer parte da equipe de manutenção dos robôs de Éden Distante. 

O jogo começa quando a própria Joule acorda de sua hibernação e percebe que há algo de errado. Apesar dos clichês, a história prende o jogador, e o envolve na trama de exploração de ambientes tão cara a um game como Metroid. Logo nas primeiras horas, é possível se empolgar e muito com ReCore: a jogabilidade de plataforma, a possibilidade de exploração e os combates dinâmicos – nos quais vale mais saber se movimentar do que ter boa mira – deixam o game envolvente. Além disso, o mistério da história e a presença de bons coadjuvantes – além de Mack, há também a simpática Violet e a aranha-robô tímida Seth, todos com chance de dar carga humorística ao game – auxiliam bastante. 

Combates são muito divertidos, mas entram em repetição após algum tempo em ReCore Foto:

O problema – ou melhor, os muitos problemas começam quando a história vai ganhando corpo. Além da demora no carregamento do jogo, ReCore sofre com falhas gráficas – a mais evidente, o clássico caso do personagem que consegue saltar ou “entrar” em uma parede – e quebras de sistema bizarras. Nos testes feitos pelo Link, o jogo chegou a ser interrompido diversas vezes (fazendo até com que o Xbox One tivesse de ser reiniciado) em momentos cruciais, como batalhas de chefões.

Problemas de desenvolvimento, no entanto, até poderiam ser contornados se ReCore, após as horas iniciais, fornecesse bons elementos para que o jogador continuasse engajado. Depois de estabelecer sua trama principal, é pedido ao jogador que se movimente para lá e para cá pelo cenário, em uma busca incessante de elementos especiais – os chamados núcleos prismáticos, que destravam áreas específicas do mapa – sem recompensá-lo por isso. 

Coadjuvantes do game, como o robô-cachorro Mack, dão alívio cômico à narrativa Foto:

Além disso, há missões paralelas em demasia, que parecem ter sido inseridas no game a fim de dar a ele um tamanho maior do que deveria – como um bolo com muito fermento, que acaba passando da forma e queimando todo o fogão. No fim das contas, o que parece ser medido por ReCore não é a habilidade do jogador em resolver problemas, mas sim sua paciência em lidar com os obstáculos propostos pelo game. Isso acontece especialmente em seu trecho final, onde a sanha por exploração dá lugar a uma jogatina de plataforma, que tenta emular os melhores momentos de Mega Man e acaba entregando algo digno de Mighty No. 9– jogo lançado por Keiji Inafune no início deste ano que tentava recuperar o espírito do robô azul e pode ser considerado uma das maiores decepções do ano nos games.

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Vale a pena? Não. Apesar de ter ótimos elementos a seu favor – garota protagonista! Armas legais! Combate divertido! Narrativa de ficção científica bacana! –, ReCore joga seus trunfos no lixo por conta dos inúmeros bugs e dos desafios repetitivos que propicia ao jogador. É um clássico caso de que “menos poderia ser mais”: caso os desenvolvedores procurassem criar um jogo mais simples, conseguiriam extrair dele uma energia interessante, capaz de gerar para ReCore um fã clube por anos a fio. Dói ainda mais porque o início do jogo é um dos momentos mais bacanas dos games em 2016, mas depois tudo se perde em...… (ainda estamos carregando a resposta, espere mais um pouco). 

ReCoreDesenvolvedora: Armature/Concept StudiosPublisher: MicrosoftPlataformas: Xbox One e PCPreço: R$ 122,45Já disponível no Brasil

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