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‘Os jogos de luta mudaram pouco em 25 anos’, diz criador de Mortal Kombat

Uma das principais franquias de luta, série de Sub Zero e Scorpion completa um quarto de século em outubro; em entrevista ao Estado, Ed Boon vê o futuro do gênero nos eSports

Por Bruno Capelas
Atualização:
Ed Boon, criador do game Mortal Kombat, que completa 25 anos em 2017: 'estou me sentindo velho' Foto: Rafael Arbex/Estadão

Quem vê Ed Boon falar tranquilamente, de forma pausada, não consegue nem imaginar que ele é o criador de um dos jogos mais brutais e sanguinolentos da história. Seu tom de voz, um pouco cansado, também reflete a agenda cheia do executivo no mês de outubro: além de participar da Brasil Game Show (BGS), feira de games realizada em São Paulo, ele também comemorou os 25 anos de Mortal Kombat, jogo que criou ao lado do parceiro John Tobias em 1992. 

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“Eu me sinto velho”, diz Boon, em entrevista ao Estado durante a BGS, onde esteve para promover Injustice 2, seu mais recente jogo de luta, com a participação especial dos heróis da DC Comics, como Batman e Mulher Maravilha. Na feira, Boon também viu o tempo passar, ao celebrar o quarto de século de uma das franquias de luta mais icônicas dos games.“Hoje gravei um programa de TV no Brasil e quase ninguém na plateia era mais velho que o primeiro Mortal Kombat.” 

Lançado em 1992, o norte-americano Mortal Kombat criou um rival ocidental à altura para as já consagradas séries de luta japonesas Street Fighter e Tekken. Com golpes agressivos, sangue e sequências visuais elaboradas e violentas, o jogo marcou época. Mais do que isso, abriu caminho para um padrão na indústria ao ser um dos primeiros games multiplataforma, com lançamento simultâneo no Super Nintendo e no Mega Drive, em 1993. Na época, os jogos costumavam ser exclusivos de uma plataforma ou ganhar versões apenas anos depois para um segundo console. 

Mecânica. De lá para cá, porém, pouca coisa mudouna estrutura dos games de luta – é fácil perceber isso em Mortal Kombat X, último título da franquia, lançado em 2015. Combos, esmagar botões sem saber o que fazer, os golpes especiais para finalizar a barra de vida do adversário - os gloriosos e sangrentos fatalities, que já causaram muita polêmica –,modos de jogo com sequências de adversários… tudo é bastante parecido. O próprio Boon reconhece. “Hoje, acredito que temos de ir além de fazer só um jogo de luta. É uma mecânica que não mudou em 25 anos”, diz. 

Para ele, a inovação deve acontecer em aspectos externos à essência do jogo: é o caso do modo de história, presente em Injustice 2, ou no incentivo para que os jogadores lutem entre si em batalhas online, com ranking globais, como acontece em Mortal Kombat X e no jogo da DC. Os melhores jogadores podem acabar virando profissionais, entrando no mercado milionário dos esportes eletrônicos (eSports). 

“O modo de história faz com que o jogador se identifique com os personagens, descubra sua trajetória, vá além de apenas decorar os golpes”, diz. “Já os eSports servem para aqueles que gostam de se dedicar muito ao jogo.” Hoje, Mortal Kombat X é um dos principais games competitivos de luta do mundo dos eSports, tendo lugar cativo no EVO, espécie de “jogos olímpicos dos games de luta”, disputados anualmente nos Estados Unidos. O torneio já chegou a ser transmitido ao vivo na ESPN brasileira. 

Para Ed Boon, os eSports tem uma importância enorme no futuro. “Um campeonato mundial de League of Legends atrai mais gente que jogos decisivos de futebol americano. É relevante”. O criador de Mortal Kombat, porém, não acredita que os videogames vão tomar o espaço dos esportes tradicionais. “São muitas modalidades diferentes para prestar atenção.” 

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Inovações. Para Boon, a principal razão pela qual os jogos de luta continuam bastante parecidos é o fato de que, desde cedo, eles chegaram a uma fórmula muito bem desenvolvida. 

“Veja um jogo como ARMS. É uma boa inovação, mas é bastante físico. Nem todo mundo quer ficar se movimentando e dando socos na frente da TV. Você quer sentar e ficar horas fazendo uma maratona”, diz Boon, a respeito do jogo de luta lançado pela Nintendo em junho deste ano. No game, o jogador usa os controles do Nintendo Switch para rastrear seus movimentos – para dar um golpe, é preciso imitar o movimento de um soco no ar. 

Questionado sobre o novo videogame da Nintendo, Boon tece elogios aos esforços da empresa japonesa. “Vejo muita gente utilizando-o como um portátil, mas ele tem o poder de processamento de um videogame de mesa”, diz o desenvolvedor, que tem gasto suas horas curtindo o título de lançamento do console, The Legend of Zelda: Breath of the Wild. Por enquanto, porém, ele descarta uma versão de um de seus jogos – Injustice ou Mortal Kombat – para o videogame da Nintendo. 

Outra tendência descartada por Boon para tentar inovar nos jogos de luta é a realidade virtual. “Na E3 deste ano, passei por um estande com um jogo de boxe em realidade virtual. Achei divertido. Quando voltei, cinco minutos depois, o cara que estava jogando estava totalmente esgotado”, diz o criador de Mortal Kombat. “Acho que é um bom exercício, mas não um grande jogo.” 

Para o futuro, Ed Boon diz não ter muitos planos. Ele revela ter a curiosidade de fazer um jogo de ação/aventura, ou um game de luta com personagens de terror, como Freddy Krueger, Predador e Jason. “Seria bastante divertido.”. 

Mas, logo depois, ele solta um muxoxo, como um garoto que descobre que fazer videogames não significa passar o dia inteiro jogando. “Eu analiso muitos jogos, mas não costumo jogar muita coisa”, diz, como quem busca um abraço. “Quem está na indústria não tem tempo de ficar 100 horas no sofá diante de um jogo”. Esteja abraçado, Ed. 

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