Link Lab: 'Uncharted 4' é o melhor game da série da Sony

Lançado nesta terça-feira, 10, exclusivo do PlayStation 4 traz uma grande história para o fim da saga do aventureiro Nathan Drake

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Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:
 Foto: Divulgação

Para quem esperava que o caçador de tesouros Nathan Drake saísse das telas dos games para o cinema, o momento chegou. Não, não estou falando do longa que está sendo preparado para sair em algum futuro não tão distante. Mas Uncharted 4 - A Thief’s End (exclusivo para PS4 e lançado nesta terça-feira, 10) é tão belo, tão bem ambientado e acabado que um desavisado que passasse em frente à televisão poderia perguntar quais são os atores que estão na tela, mesmo que eles sejam apenas mais um punhado de bonecos criados com pixels.

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A espera foi longa e os atrasos se somaram, um hiato que durou mais de cinco anos entre Uncharted 3: Drake's Fortune (o jogo que fez a série de Nathan Drake deixar de ser "aquele que parece Tomb Raider") e este novo título. No ano passado, vale lembrar, a Naughty Dog até lançou uma remasterização com os três primeiros games da série, mas nem todo mundo desembolsou R$ 150 para rever jogos da geração passada. De qualquer forma, uma descrição da saga não vai mal: Uncharted é a história de Nathan Drake, um caçador de recompensas que daria a própria vida por uma bela aventura ou a descoberta de uma cidade perdida. Em todos os jogos o enredo surge de um personagem histórico - como o pirata Francis Drake ou Marco Polo - e segue rumo ao desconhecido em florestas, desertos e cidades com visuais espetaculares. 

Nathan é um rapaz órfão que viveu em um orfanato de freiras até os 15 anos e desenvolveu habilidades extraordinárias para escalar montanhas, prédios e resolver mistérios. Os jogos são ambientados em diversos cenários que se intercalam de maneira linear. Há somente um caminho a seguir e pouca ou nenhuma possibilidade de se perder. Os desafios se lançam ao jogador nos quebra-cabeças e nas batalhas armadas com os inimigos. Todo o resto é um filme de ação que avança independentemente das escolhas de quem controla o personagem.

Memória. A Thief’s End faz muito bem aquilo que só um bom jogo em série consegue: trazer todo o histórico dos episódios anteriores à tona para não só cativar o fã, como também instigar curiosidade ao marinheiro de primeira viagem. E é assim que começa a jogatina.

Em um dos primeiros capítulos do game você é “obrigado” a dar uma volta na casa de Nathan. Agora ele é um homem casado (com a jornalista Elena, personagem recorrente nos últimos games da franquia) e decidiu se “aposentar”. Sua casa, claro, está repleta de tesouros conquistados em suas expedições, todos valor de inestimável. Apesar da jogabilidade simples, o passeio interativo é um trunfo em diversos aspectos: ele lembra os jogos anteriores, empolga o jogador veterano e o situa em um ar de filme hollywoodiano. (Alguém falou em Indiana Jones?)

A sequência traz de volta um parente de Nathan – seu irmão Sam – que o obriga a largar o Crash Bandicoot que tanto jogava em sua sala (em um belo easter egg do jogo, é possível jogar o velho clássico da Sony) em seus momentos de glória e se aventurar em mais uma cidade perdida, Libertalia, desta vez em busca do tesouro do pirata Henry Avery.

Eles terão a ajuda do velho amigo de Nathan em suas jornadas, Victor Sullivan, que continua com aquele ar de “paizão”. Do outro lado, enfrentarão inimigos poderosos: o milionário Rafe e a mercenária Nadine, que buscam o mesmo tesouro e colocarão toda a inteligência artificial do jogo (convenhamos, não exatamente inteligente) sobre você e seus amigos.

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A Thief's End é ainda o episódio que mais explica todo o passado do protagonista, a relação dele com seu irmão e como os dois se separaram. E como em todo o resto do jogo, que tem de 12 a 16 horas de duração, tudo é muito bem narrado e dá sentido às sequências de “peregrinação” do herói. Some isto aos belos gráficos e o resultado é ter até vontade de ir pegar uma pipoca na cozinha.

A empolgação pode parecer exagerada: afinal, o game segue à risca as tramas mais do que conhecidas dos filmes de ação. Em muitos momentos Uncharted faz lembrar a série A Múmia. Mas é a coerência entre as cutscenes (as pequenas cenas entre cada desafio) e a jogabilidade que faz tudo funcionar perfeitamente. Pode-se dizer que um feito de Uncharted é fazer o jogador esquecer que está diante de um simples jogo de videogame... até que suas falhas gritem na tela.

 Foto: Divulgação

Jogabilidade. A fórmula de plataforma com jogo de tiro e batalhas corpo-a-corpo sempre funcionou bem na franquia – então não havia por que mudar. Tudo está bastante parecido com os jogos anteriores, mas há aqui alguns pequenos detalhes que farão toda a diferença. Um deles é a utilização de uma corda com gancho, que fará o jogador curtir acrobacias como um digno Tarzan. Não basta só pular de montanha em montanha ou de árvore em árvore. Agora você pode ficar pendurado e se jogar para a vida.

As lutas seguem o ritmo dos outros games, especialmente Uncharted 2: Drake’s Deception, que introduziu o corpo-a-corpo de maneira extremamente divertida e funcional. É possível fugir de todo mundo na base da jogabilidade furtiva – criaram até uma grama alta para se esconder (só tome cuidado para não encontrar algumas criaturas ferozes) – ou resolver tudo na pancadaria. A escolha é do jogador.

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As fases são dividas em capítulos e, como mencionado anteriormente, não há formas alternativas de passar por eles. Mas há maior sensação de liberdade: em alguns momentos você poderá dirigir carros e andar por cenários maiores, embora o caminho possível seja um só. 

Os adversários também mudaram: agora eles têm aquele famoso “desconfiômetro” dejogos furtivos. Se você ficar perto demais, eles te enxergam e a luta começa. Se ficar longe, talvez seja possível fugir sem ser notado.

O ponto fraco de A Thief's End começa a ser percebido lá pelo meio do jogo. É quando a mágica do filme começa a desaparecer e a repetitividade de ações toma o foco. As cutscenes diminuem e os obstáculos são cada vez mais parecidos uns com os outros.

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Na análise que fizemos de The Last of Us, da mesma desenvolvedora de Uncharted, uma das características ressaltadas era da ótima sacada dos roteiristas em colocar conversas entre os dois protagonistas, Ellie e Joel, para tornar orgânica e real a rotina para lá de monótona de andar pelos vastos cenários do jogo. A mesma estratégia aparece aqui – Drake raramente fica sozinho no jogo –, mas sem o mesmo sucesso: as falas são repetitivas e logo se percebe suas limitações quase robóticas. 

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A forma mais clara de sentir esta repetição é na fórmula criada pelo jogo para superar desafios nos cenários: um personagem sobe uma escada, o outro fica para trás. Personagem diz que vai tentar ajudar, o outro diz que vai ter que achar um caminho alternativo pra chegar lá. Isso vai se repetir inúmeras vezes. Você vai se cansar de ouvir Nathan dizendo “preciso achar outro jeito de subir” e “tenho de achar um outro caminho”. E a superação destes obstáculos é sempre muito igual: empurrar uma caixa, escalar uma parede. Nenhuma piada, nenhuma brincadeira.

Além disso, a sensação é que a história poderia ter sido mais curta. Há mais enrolação do que em um programa do João Kleber. "Olha só, jogador, estamos aqui com aquela pista crucial para achar o seu tesour…pera, pera, pera! Só depois do comercial, ou depois de passar por mais esses 32 mil obstáculos parecidos com os do capítulo anterior".

Apesar dos pesares, a história de Uncharted 4: A Thief's End é um grande destaque, que faz jus à série e torna seu final saboroso – a Naughty Dog já revelou que este é o último jogo da saga de Nathan Drake. Sem querer ser o chato dos spoilers, pode-se dizer que Uncharted traz em seus capítulos finais o resgate da linha do tempo de toda a série e faz a espera ter compensado. O último deles é um epílogo digno de um grande livro.

Vale a pena? Se você deixou de comprar aquela trilogia de remasterizações da série esperando pela novidade, agora é a hora certa. A Naughty Dog conseguiu fazer o melhor de seus quatro games da franquia. Está tudo muito bem amarrado, a jogabilidade funciona como nunca e o espírito de todos os outros jogos continua vivo. É para sair dos créditos finais com aquela sensação de querer começar tudo de novo.

Uncharted 4: A Thief's EndProdutora: Naughty DogPublisher: SonyPlataforma: PS4Preço sugerido: R$ 199,90Já disponível no Brasil

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