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A indústria pornô quer o seu celular

Briga entre a Apple e o Google passa pelas políticas de aprovação de aplicativos adultos

Por Filipe Serrano
Atualização:
FELIPE RAU/AE  

A cruzada moralista de Steve Jobs para livrar o iPhone e o iPad de aplicativos com conotação sexual está criando uma internet diferente da que conhecemos, de certa forma, livre de conteúdo pornográfico. De um lado, estão usuários do iPhone que, antes de instalar qualquer aplicativo, sabem que o programa teve de passar pela aprovação da Apple. Do outro, pessoas que têm preferido utilizar outros smartphones, como os telefones com Android, cuja central de programas está repleta de aplicativos com fotos sensuais ou até de nudez por causa do controle menos rigoroso.

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De fato, a indústria pornográfica aposta há anos nos celulares como a próxima fronteira de crescimento. Desde o surgimento do iPhone, isso começou a virar realidade. Uma pesquisa da consultoria Juniper Research previa, no início de 2009, que o mercado móvel para a indústria pornográfica – que havia sido de US$ 2,2 bilhões em 2008 – chegaria aos US$ 4,9 bilhões anuais em 2013.

O bloqueio dos aplicativos com conotações sexuais por parte da Apple não deve diminuir esta previsão. Os maiores sites de vídeos pornográficos têm páginas adaptadas para o celular na Apple que não precisam da aprovação da empresa para serem acessados.

“O iPhone nunca ficará livre de pornografia”, afirma ao Link Jennifer McEwen, uma dos sete criadores de uma loja de aplicativos de conteúdo sexual para celulares Android chamada MiKandi (pronuncia-se ‘My Candy’). “A indústria de conteúdo adulto otimizou seus sites para o Safari (o navegador da Apple). Muitos usam HTML5 para recriar uma experiência parecida com a de um aplicativo do iPhone. Inclusive, os maiores estúdios de filmes pornográficos já fizeram sites para o iPad”, diz.

Diferentemente dos computadores de mesa, os celulares acabam atraindo a indústria por um motivo bem claro: ninguém divide o telefone. “Hoje, os consumidores estão acessando conteúdo adulto nos seus dispositivos portáteis porque têm mais privacidade, é acessível e conveniente”, defende Jennifer.

Desde que foi lançado, em novembro, o MiKandi teve 500 mil downloads, diz a criadora. A loja tem cerca de 150 aplicativos e alguns chegaram a marca de 17 mil downloads em poucos meses. Só nos EUA são pouco mais de 8,6 milhões de celulares Android, de acordo com a AdMob.

Problema?

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Na Inglaterra, o uso do celular provoca a preocupação de entidades de proteção às crianças. A psicóloga Tanya Byron, especializada em terapia infantil, pediu em março ao Conselho para a Segurança da Criança na Internet do país que o órgão trabalhasse com fabricantes para adotar controles de conteúdo em celulares.

Aplicativos sensuais nas críticas ao Android

As provocações de Steve Jobs com o Android têm lá sua razão. Uma simples busca por um aplicativo qualquer trazem resultados de programas de fotos sensuais, mesmo que o usuário não esteja buscando esse conteúdo.

É fácil encontrar reclamações de usuários na página de suporte da Android Market – a loja de aplicativos do Android –, hospedada em um site do Google.

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“Meus filhos procuram games e aplicativos. Por que materiais adultos são permitidos em qualquer busca?”, reclama um usuário. “Seria bom se eu pudesse filtrar esse tipo de aplicativo. Não precisa ser como a Apple, que removeu todos”, sugere outro.

A política de aplicativos da Android Market claramente restringe “qualquer material não recomendado para pessoas com menos de 18 anos” além de “pornografia, obscenidade, nudez ou atividade sexual”.

Procurado, o Google disse por meio da assessoria de imprensa que não é responsável pela Android Market, que seria administrada pela Open Handset Alliance (OHA) – grupo de empresas parceiras do Android. A OHA não respondeu aos contatos do Link. /F.T.S.

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ENTENDA

Aplicativos : Programas com funções específicas que podem ser baixados no celular mudaram a forma de usar a internet no telefone

iPhone : No início do ano, a Apple mudou as políticas da App Store e proibiu qualquer aplicativo com conotação sexual. Cerca de 5 mil foram removidos de uma vez

ENTREVISTA

‘O IPHONE É ATÉ MELHOR PARA PORNOGRAFIA’

Adrian Castro é um dos poucos desenvolvedores de aplicativos com fotos sensuais para Android que publica um endereço de contato verdadeiro. Ele faz parte da AndroidZ Team, uma equipe de desenvolvedores de uma pessoa só: ele. Sozinho criou mais de 60 aplicativos do tipo. Ele falou ao Link sobre o tema.

Por que criar tantos aplicativos de fotos sensuais? Meu primeiro chamava-se ‘Japanese Girls – Midori Yamasaki’. Era algo semelhante aos ‘books’ de fotos japonês, que são feitos para calendários ou revistas com fotos de uma modelo específica. Criei esse porque eu acho que ela (Midori Yamasaki) é bonita e era um bom jeito de eu começar a desenvolver aplicativos.

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O aumento de aplicativos de conteúdo adulto para Android tem relação com o bloqueio da Apple a esse tipo de programa?Inicialmente teve, porque não existia um processo de pré-aprovação para publicar os aplicativos. Acho que muitos desenvolvedores não leem os ‘Termos de Serviço’ que proíbem nudez ou conteúdo sexual.

Já recebeu alguma notificação ou reclamação? Como os aplicativos não têm nudez, e o conteúdo não é sexual, eles não violam as políticas da Android Market.

Steve Jobs está certo quando diz que fãs de pornografia devem comprar um celular com Android e não um iPhone? Não faz sentido. Quase todos os sites de pornografia têm uma versão para iPhone, facilmente encontrada fazendo uma busca na internet com o telefone. Neste sentido, o iPhone é até melhor para pornografia do que o Android atualmente. /F.T.S.

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