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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|A nudez será castigada

Tanto a polícia como a Justiça começaram a levar mais a sério a violação de privacidade

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Em 14 de setembro de 2011, duas fotografias da atriz Scarlett Johansson foram publicadas num fórum da internet. Ela estava nua em ambas. Scarlett não era a primeira vítima de um hacker a ver imagens íntimas distribuídas, mas a partir de seu caso muito mudou. Nesta semana, fotografias pessoais das atrizes Emma Watson e Amanda Seyfried também vieram à tona online. Este tipo de incidente continua acontecendo. Mas a maneira como a sociedade lida com este tipo de incidente se transformou. Para melhor.

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Naquele setembro de 2011, muitos sites de notícias republicaram as imagens. Num ambiente em que flagrantes do cotidiano de celebridades por paparazzi tornaram-se comuns, a alguns editores aquele novo lance da vida privada talvez tenha parecido mais do mesmo. É como se os limites da privacidade tivessem sido aniquilados de vez. Desta vez, porém, nem alguns dos sites estabelecidos mais sensacionalistas cogitaram a publicação. O consenso de que este é um limite que não se cruza foi estabelecido com firmeza.

Em uma das fotos de Johansson, ela cobre a frente de seu corpo com uma toalha enquanto fotografa a parte de trás através de um espelho. Nos dias seguintes ao vazamento, inúmeras pessoas simularam a mesma pose e publicaram as imagens. O movimento espontâneo ganhou hashtag: #scarlettjohansoning. As imagens têm momentos de humor, uma mulher com máscara de Darth Vader aqui, um sujeito barrigudo com máscara de urso de pelúcia ali. Muitos expuseram seus rostos. Pareciam, coletivamente, eliminar o erotismo da foto enquanto reafirmavam que ali não havia nada demais. Como um gesto de solidariedade nascido no interior da internet para a atriz.

Os nudes, fotos de nudez trocadas entre namorados, paqueras ou mesmo amigos, estavam entrando em definitivo na cultura.

Enquanto a nudez digital se naturalizava, algo de mais importante ocorria nos bastidores. O FBI, polícia federal americana, se lançou a uma investigação detalhada do vazamento até encontrar Cristopher Chaney, um homem de 35 anos, que da Flórida quebrou a segurança do celular da atriz para arrancar dele as imagens. Johansson não havia sido sua única vítima. De mulheres suas conhecidas a outras celebridades, ele operava em série. E, identificado, foi condenado a 10 anos de prisão.

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O maior ataque foi outro: 14 de agosto de 2014. Quase 500 fotografias e vídeos de mulheres e homens mais ou menos famosos.

Na internet, há um submundo de colecionadores que pagam e hackers especializados em violar celulares que vendem material digital íntimo. Foi o acumulado ao longo dos anos nestas coleções que se publicou. No primeiro momento, pareceu que a segurança de servidores de Apple e Google havia sido burlada. Quando o FBI localizou o hacker por trás do vazamento, descobriu-se que a trama não envolvia tecnologia e sim ingenuidade.

Ryan Collins, um homem de 36 anos, descobria os e-mails de suas vítimas famosas e lhes enviava mensagens cuidadosamente forjadas fazendo-se passar pela equipe de segurança da Apple. Ele as convencia a entregar-lhe a senha e, então, fazia cópia dos backups de seus celulares. Outro hacker, Edward Majerczyk, de 26 anos, foi localizado meses depois. Collins foi condenado a 18 meses de prisão e, Majerczyk, a nove meses.

Ao mesmo tempo em que a sociedade aceitou a ideia de que a troca de fotos íntimas faz parte do romance contemporâneo, a lei enrijeceu em vários países – Brasil inclusive – e tanto polícia quanto Justiça começaram a levar mais a sério a violação desta privacidade.

Os novos hackers também terminarão na cadeia.

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