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Aceleradoras de startups ganham força no Brasil; mas precisam provar eficiência

Sistema criado no Vale do Silício para testar modelos de negócios e ajudar empresas iniciantes de tecnologia a crescer e gerar lucro no menor tempo possível se populariza; 39 empreendimentos do tipo foram criados no Brasil nos últimos três anos

Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

No ponto. Na aceleradora Wayra, da Telefonica, startups apresentam negócios para investidores no fim da aceleração. FOTO: Divulgação

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SÃO PAULO – O crescimento do número de startups de base tecnológica no Brasil abriu espaço para investidores e empreendedores experientes apostarem em um novo tipo de negócio: as aceleradoras de startups. Nos moldes de uma consultoria, elas oferecem um pacote completo para empresas iniciantes com escritório, sessões de aconselhamento com profissionais gabaritados (mentores), palestras e um investimento pequeno em troca de participação societária.

Desde 2011, 39 aceleradoras foram criadas no País, segundo a Associação Brasileira de Startups (AB Startups). Desse total, cerca de 25% abriram as portas no último ano. “Como hoje é mais fácil, barato e rápido lançar um produto do que há dez anos, houve uma proliferação de aceleradoras no Brasil”, diz Carlos Pessoa, diretor da Wayra Brasil, aceleradora da Telefonica.

Diferentemente das incubadoras, que abrigam empresas mais tradicionais e com retorno no médio a longo prazo, as aceleradoras focam na estruturação dos negócios em poucos meses, com o objetivo de obter retorno do capital investido no curto prazo. Para isso, usam metodologias para testar e validar o produto ou serviço prestado pela startup em pouco tempo e sem gastar muito dinheiro.

“Minha ideia era criar um sistema para academias que usasse a tecnologia de games, mas após alguns testes descobri que elas não tinham dinheiro para bancar sistemas sofisticados. Hoje, ofereço esse tipo de solução, mas para o mercado corporativo”, diz Alexandre Olivieri, fundador da Opusphere, primeira startup acelerada pela Baita, de Campinas, e que projeta faturar R$ 600 mil este ano. “A vantagem é que você não fica dois anos desenvolvendo um produto para depois descobrir que o mercado não quer”, diz.

 

Origens A primeira aceleradora com esse modelo foi a Y Combinator, criada em Boston, nos Estados Unidos, em 2005, e que depois passou a operar no Vale do Silício. A Y Combinator já lançou no mercado negócios bem-sucedidos como Dropbox e Airbnb.

A ideia foi importada para o Brasil entre 2010 e 2011. Primeiro, pela Aceleradora, de São Paulo, e depois pela 21212, no Rio de Janeiro. “Vimos que tinha uma oportunidade grande no mercado digital do País, mas faltavam boas soluções porque o brasileiro não tinha experiência em criar startups”, diz Frederico Lacerda, da 21212, que já ajudou a desenvolver 30 empresas.

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O modelo se popularizou tanto que aceleradoras foram escolhidas pelo governo para serem parceiras do programa Start-Up Brasil. Até 2015, o projeto dará a 300 startups R$ 200 mil em bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para pagamento de salários e o apoio de uma aceleradora.

Para executivos e empreendedores experientes, criar uma aceleradora se tornou uma alternativa de carreira. “Profissionais na faixa de 50 anos têm dificuldade de se recolocar no mercado. Começamos a treiná-los para atuarem nas startups”, explica Renato Toi, da Baita.

Ter uma rede de mentores experiente é parte fundamental de uma aceleradora. Eles dão consultoria de forma voluntária às startups em troca do networking e da oportunidade de conhecer negócios promissores em primeira mão e que podem ser alvos de futuros investimentos. Nos EUA, empreendedores experientes como Dick Costolo, CEO do Twitter, participam de aceleradoras.

A queixa no Brasil é que faltam nomes com o mesmo peso. “Não temos o mesmo sentimento dos americanos de devolver o aprendizado. Os executivos querem saber o que vão ganhar em troca, não entendem a falta de benefícios financeiros de cara”, diz Lacerda, da 21212.

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Capital Outra queixa frequente é o equity (participação no negócio) cobrado pelas aceleradoras em troca do investimento oferecido. No Brasil, elas pegam, em média, uma fatia de 5% a 20% do negócio em troca de aportes de R$ 15 mil a R$ 100 mil. Nos EUA, essa fatia dificilmente ultrapassa 10%.

“Um equity de 20% eleva muito o valor de mercado da empresa iniciante e a torna desinteressante para outros investidores”, diz Cassio Spina, fundador da Anjos do Brasil. “Queremos que o empreendedor tenha um bom pedaço da sua empresa no início. Se tudo der certo, elas ainda vão passar por mais duas ou três rodadas de investimento, e essa participação será diluída”, completa Carlos Kokron, diretor da Qualcomm Ventures.

As aceleradoras se defendem alegando que o mercado brasileiro oferece mais riscos, “20% é um valor alto, mas necessário no caso de startups em estágio muito inicial”, diz Lacerda, da 21212. “Você precisa incluir nesse montante também a infraestrutura oferecida”, diz Toi, da Baita.

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A grande dúvida que paira entre os empreendedores, porém, é se as aceleradoras brasileiras conseguirão, assim como no Vale do Silício, gerar grandes empresas. “As aceleradoras ainda precisam se provar. Os resultados demoram de cinco a dez anos para aparecer. Estamos em uma fase inicial”, diz Guilherme Junqueira, diretor executivo da AB Startups.

(Matéria modificada às 14h20 para acréscimo de informações)

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