Cidades conectadas e o medo do controle

Aumenta a interação entre objetos, a chamada internet das coisas acirra discussões sobre um mundo mais livre e controlado

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Por Murilo Roncolato
Atualização:

Aumenta a interação entre objetos conectados, a chamada internet das coisas acirra discussões sobre um mundo mais livre e controlado

 

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PARATY – Cidades conectadas e vigilantes, carros, semáforos, prédios, câmeras, celulares e roupas se comunicam, dados atravessam a sociedade e ninguém vê. Esse cenário é um possível futuro que virou tema de discussão em Paraty, durante a Virada Digital, que vai até este domingo, 13.

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Esse movimento que torna cada vez mais objetos plataformas de acesso à internet ganhou o nome de “internet das coisas”. André Lemos, professor da UFBA, e Ivana Bentes, ativista e diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, se reuniram para discutir o tema “Cibercidades e Ciber-periferias”.

Lemos tem uma posição mais arisca quando o tema é a onipresença da conexão. Para ele, quando tudo se comunica, a tendência é de que o controle e a vigilância por governos e empresas sobre a sociedade aumentem, enquanto a privacidade dos indivíduos se torne algo secundário.

“O aumento do poder interativo entre objetos é mera evolução da informática. Hoje já existem etiquetas de radiofrequência para controle de estoque, para o carro passar na cancela do pedágio; mas o problema é quando isso é usado para controlar pessoas, como no caso do uniforme escolar”, opina Lemos. O sociólogo se refere às etiquetas instaladas nos uniformes de crianças de um colégio em Vitória da Conquista, coisa que permitiria a escola e os pais terem controle sobre a entrada e saída do aluno do ambiente escolar.

Como exemplos positivos, citou o City Dashboard, de Londres (que coleta e expõe dados diversos sobre a cidade); Talking Tree (uma árvore equipada com sensores que emite informações sobre a temperatura, condição do ar local, etc, tudo por redes sociais a partir do seu próprio perfil), o projeto Trash Track (que inseriu sensores GPS em lixos diversos e acompanhou seu destino, veja abaixo) e o Waze, um app colaborativo que permite inserir informações de trânsito e acidentes da cidade.

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Lemos retrata um ambiente nas cidades em que câmeras podem facilmente identificar as pessoas por RFID e ter absoluto controle sobre a sua localização, o tempo todo. Nessa fronteira, cita o Centro de Operações do Rio de Janeiro (COR), um órgão criado pela prefeitura, com dezenas de pessoas acompanhando a cidade diariamente através de câmeras espalhadas por todos os lugares.

“É preciso que as pessoas também tenham controle sobre seus dados, sobre esses mesmos objetos conectados”, diz Lemos. “O certo seria que em vez da internet das coisas, tivéssemos a internet das pessoas; mas a tendência é de que as pessoas percam o controle sobre isso.” Para ele, privacidade é o principal tema do mundo contemporâneo, mas acha que ainda falta conscientização por parte das pessoas.

“A vida vai ser como é hoje nas redes sociais. Você tem que estar, caso contrário você não existe; mas é preciso saber que as informações disponíveis funcionarão como rastros seus, tudo está sendo estocado”, conclui.

Reeducação. A professora Ivana Bentes tem uma preocupação maior sobre a apropriação dessas novas tecnologias urbanas por quem não só está à margem da internet, mas também das próprias cidades. Se todos os objetos vão estar conectados, é lógico pensar que será mais fácil e acessível estar conectado?

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“Isso vai depender dos dispositivos, que tendem a ser mais caros. A questão é de que maneira essa inclusão vai acontecer. Vejo a internet como uma segunda camada nas cidades, é a nova natureza. Para entrar nesse meio, é preciso que as pessoas sejam incluídas com seus mundos, é o que se chama inclusão subjetiva.”

Para Ivana, o benefício ou prejuízo desse novo momento das redes vai depender do quanto essa tecnologia se torna, de fato, apropriada pela sociedade, citando como exemplo o Wikimapa, que mapeia colaborativamente as favelas do Rio de Janeiro. “A sociedade vai ter que se reeducar para lidar com essa novidade, os novos jogos de poder, a questão do rastreamento, são novas questões, mas que já estão acontecendo.”

A Virada Digital reuniu na sua programação palestras sobre temais atuais que incluem tecnologias novas como TV Digital, impressora 3D, internet das coisas e realidade aumentada. Entre seus curadores estão a professora da UFRJ, Ivana Bentes; o cantor de rap, MV Bill; o sociólogo e ativista Sergio Amadeu; além do coordenador do núcleo de sustentabilidade da Copa de 2014, Cláudio Langone.

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O evento está sendo transmitido ao vivo aqui.

* O repórter viajou a convite da organização do Virada Digital

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