Cidades disputam posto de capital das fintechs

Centros alternativos como Berlim e Cingapura procuram se tornar competitivas para startups financeiras, rivalizando com Vale do Silício

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Por Nathaniel Popper
Atualização:
Proximidade com a China favorece Hong Kong em disputa 

O centro da indústria da tecnologia é o Vale do Silício, situado ao redor de São Francisco. Nas finanças, faz tempo que as capitais do mundo são Londres e Nova York. Mas, na emergente indústria que combina as duas áreas, as fintechs, o centro mundial ainda está para ser definido. As capitais tradicionais estão atraindo investimentos substanciais, mas o mesmo ocorre em cidades menos consagradas como Berlim (Alemanha), Sydney (Austrália) e Cingapura, na Ásia. 

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 A falta de um vencedor claro é aparente para executivos como Chris Larsen, diretor da Ripple, de São Francisco, que oferece serviços de processamento de pagamentos internacionais a bancos. Larsen recebe um fluxo constante de chamadas de representantes de cidades estrangeiras que esperam atrair a empresa dele para seu território na tentativa de reforçar suas credenciais na indústria das fintechs. 

Se essa nova indústria da tecnologia financeira tiver o efeito transformador imaginado por alguns, a disputa poderá determinar também as futuras capitais do universo financeiro como um todo. Na conferência Money 2020, realizada recentemente em Las Vegas, representantes dos governos de Dublin, Hong Kong, Londres, Luxemburgo e Belfast, na Irlanda do Norte, entre outras, percorriam o salão na tentativa de atrair empresas.

Na sala de exposições, a agência Invest Hong Kong, semigovernamental, tinha um quiosque onde as startups podiam se informar a respeito dos benefícios regulatórios e subsídios que o governo de Hong Kong começou a oferecer para empresas do segmento. Hong Kong traz o benefício da ligação com a China, que, apesar do isolamento, tem sido o lar de alguns dos desenvolvimentos mais notáveis do universo das fintechs. Empresas chinesas como Alipay e Tencent têm processado mais transações financeiras que os maiores bancos do país. Os quatro unicórnios – nome dado a empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão – das fintechs têm sede na China, segundo levantamentos recentes. Além dela, Cingapura também se destaca no setor . 

Velho Continente. Mas a arena onde a concorrência é mais acirrada é a Europa, por causa do referendo britânico que decidiu pela saída do país da União Europeia. Antes do Brexit, Londres tinha se definido claramente como centro da atividade de fintechs no continente. 

Mas, se o Brexit for levado adiante, as instituições financeiras de Londres devem provavelmente enfrentar mais dificuldades nos negócios com empresas e instituições europeias. Igualmente importante para as startups, os jovens desenvolvedores vindos de fora da Grã-Bretanha, podem ter sua permanência em Londres ameaçada.

“Para Londres, a grande pergunta é: o que vai ocorrer com o talento?” disse Taavet Hinrikus, da Estônia, cofundador da TransferWise. Uma das maiores fintechs com sede em Londres, a empresa permite o envio de dinheiro para o exterior em tempo real via internet.

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Berlim, que se tornou um centro para jovens trabalhadores do setor de tecnologia ao longo da última década, adotou uma abordagem mais agressiva. O secretário de economia e tecnologia da cidade escreveu uma carta a dúzias de fintechs em Londres, oferecendo Berlim como uma opção melhor para suas sedes. 

A agência Berlin Partner, financiada pelo governo, está no comando dos esforços da cidade, e abriu um pequeno escritório em Londres no mês de setembro para cortejar fintechs em tempo integral.

Stefan Franzke, diretor executivo da Berlin Partner, disse que cinco startups financeiras com sede em Londres já tinham decidido se mudar para Berlim, e ele aguarda a resposta de outras 40. A distância do centro financeiro de Frankfurt não o assusta. “É muito complicado perturbar algo em seu quartel-general”, disse Franzke.

Hinrikus, da TransferWise, disse que há um ano teria dito às jovens empresas que fossem a Londres. “Mas, no momento atual”, disse ele, “recomendaria que procurassem Berlim”.

Nos Estados Unidos, o governo tem agido com lentidão, mas o Gabinete do Controlador da Moeda tem falado na criação de uma espécie de documento para empresas do segmento, com regras menos limitadas para suas inovações.

E os EUA ainda têm o centro de talento tecnológico do Vale do Silício. Larsen, da Ripple, ainda mantém a sede da empresa em San Francisco, mas disse que talvez os EUA não consigam reter empresas como a sua. “Em nenhum lugar está escrito que venceremos essa batalha”, disse ele. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL