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Com apenas uma função; aplicativo Yo vira hit

App foi criado em duas horas e não faz nada além de mandar um alerta em forma de ‘Yo’, mesmo assim, é visto por especialistas como o futuro da comunicação móvel; no total, empresa israelense responsável recebeu US$ 1,5 milhão em investimentos

Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

SÃO PAULO – Não é de hoje que a simplicidade é uma espécie de mantra no mercado de tecnologia. Mas talvez nem os mais fervorosos seguidores de Steve Jobs pudessem prever o sucesso do Yo, aplicativo que se tornou hit nos EUA ao levar a simplicidade ao extremo e ter como função o envio de uma única palavra: Yo.

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Há três meses no ar, o Yo (gíria em inglês que significa “oi”) viralizou. Chegou ao topo da Apple App Store, alcançou 2,2 milhões de usuários pelo mundo – 1% deles no Brasil – e recebeu US$ 1,5 milhão de investidores renomados, incluindo Pete Cashmore, do site Mashable, dois executivos da chinesa Tencent, dona do app de mensagens WeChat, e o fundo Betaworks (cujo portfólio inclui o BuzzFeed e o Airbnb). O valor de mercado da empresa é estimado em US$ 10 milhões.

Para alguns, o Yo é apenas um modismo. Para outros é o maior exemplo de como vamos nos comunicar no futuro.

Os críticos classificam o app com palavras como “estúpido” e “enjoativo”, dizem que o investimento recebido mostra a existência de uma nova bolha na tecnologia e que o Yo será o novo Flappy Bird – jogo que viralizou em um mês, chegou a faturar US$ 50 mil com publicidade por dia e foi retirado do ar por seu criador vietnamita por atrapalhar sua “vida simples”.

“É difícil dizer se há uma bolha. O que é certo é que uma pessoa normal vai questionar por que um app social vale tanto ou por que investidores preferem colocar dinheiro nele do que em algo que traga benefícios tangíveis para a sociedade”, diz o consultor de tecnologia do governo britânico e editor da revista The Next Silicon Valley, Nitin Dahad, que falou ao Estado por e-mail.

“Mais relevante que o valor do investimento é a ‘valuation’ (valor de mercado) que a empresa obteve num estágio tão inicial. Mas não acredito que seja um sinal de bolha, pois eles terão de provar com números os seus resultados”, diz o investidor Cássio Spina, da Anjos do Brasil.

Para Or Arbel, o engenheiro israelense que criou o Yo, seu app está sendo mal interpretado. Há dois meses ele alugou um quarto pelo Airbnb e se mudou para o Vale do Silício, onde procura um escritório e mais funcionários (hoje o Yo emprega quatro pessoas) para construir uma empresa “com valor”.

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“Acredito que as pessoas não entendem o Yo. É mais do que um app para perturbar seus amigos. É uma forma totalmente nova de comunicação, por meio da qual uma notificação é a mensagem em si”, disse Arbel ao Estado. (clique para ler a entrevista completa)

 

Ligação direta Esse novo conceito citado por Arbel tem a ver com uma tendência que ganhou força após o lançamento, em junho, da versão para testes do sistema operacional iOS 8, da Apple, que traz mais dinamismo e interação para a tela de descanso, onde são exibidos alertas sobre aplicativos.

Hoje, muitos apps só são acessados quando o usuário recebe uma notificação dizendo que há algo interessante para ser visto no app. A aposta de especialistas é que uma nova classe de apps “invisíveis” emergirá para mediar a comunicação entre sites e a tela de descanso. Ou seja, no futuro as notificações substituirão a função dos aplicativos.

“Talvez o Yo nos mostre que em vez de competir por atenção na tela do smartphone, os aplicativos vão competir por espaço entre as notificações”, disse ao Estado Naveen Selvadurai, cofundador do Foursquare. O plano inicial do Yo é que a plataforma seja usada por empresas para falar com seus clientes. “Pode ser usado por um estabelecimento para avisar que o café está pronto ou que começou o happy hour”, diz Arbel.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Durante a Copa do Mundo, quem cadastrasse no app um usuário chamado “Worldcup” recebia um Yo cada vez que uma seleção marcava um gol. Em Israel, a conta “Redalert” envia um Yo quando palestinos disparam mísseis em direção a Israel.

Como a plataforma do Yo é aberta, desenvolvedores podem criar novas soluções. O app If This Then That (Se isso, então aquilo, em tradução livre), que conecta aplicativos, já permite a seus usuários associar o envio de um Yo a diversas funções, como mandar um e-mail ou SMS para a esposa com uma mensagem predeterminada ou tuitar uma palavra específica.

O investidor e veterano da internet Mark Andreessen disse no Twitter que o Yo pode substituir o recurso “chamada perdida” – o hábito de dar um toque no telefone de outra pessoa e desligar para avisá-la sobre algo. “Não estou dizendo que o Yo será a próxima rede social gigante de US$ 100 bilhões, mas desconsiderar automaticamente o app faz pouco sentido”, disse.

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Em meio às incertezas, talvez o Yo prove daqui um tempo estar correta a teoria de que, no fim, o que importa não é necessariamente o app em si, mas como as pessoas o utilizam.

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