Como o 'Cala Boca Galvão' enganou todo o mundo

Brincadeira brasileira ganha o Twitter e transforma Galvão Bueno num pássaro

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Por Agências
Atualização:
Salve uma vida. Casal de aves no cartaz do ‘Instituto Galvão’  

Jim Dwyres, The New York Times

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Durante o trabalho na manhã da segunda-feira passada, dois brasileiros expatriados em Nova York, que trabalham sentados perto do americano Lucas Shanks, começaram a falar rápido em português. Ele poderia achar que os dois tramavam algo contra ele. Mas Shanks tem 24 anos, é um pouco ingênuo, é de Minnesota e é um seguidor devotado no Twitter.

Juntas, tais características o tornariam um alvo perfeito para uma das pegadinhas mais bem sucedidas da história da web.

Redator na agência de publicidade J. Walter Thompson em Nova York, Shanks cogitara perguntar aos colegas brasileiros sobre uma misteriosa frase em português que apareceu no Twitter: “Cala Boca Galvão”, um dos trending topics mais falados no Twitter, retwittado por milhares.

Ele chamou Thiago Cardoso, diretor criativo associado na agência, que cresceu no Brasil. “O que é cali-bing-gala?”, perguntou, desconfigurando as palavras. “Você quer dizer ‘Cala Boca Galvão’?”, perguntou Cardoso, 29 anos. “Você não sabe? Deixa eu mostrar algo”. E clicou em um vídeo no YouTube.

“Ajude-nos a salvar os pássaros Galvão”, dizia o locutor, idêntico a um narrador da BBC, que continuava falando que cerca de 300 mil aves eram abatidas por ano para que suas penas fossem usadas durante o Carnaval. Mas havia uma esperança: um cientista tinha um projeto para salvar os pássaros. E qualquer um podia ajudar – era só twittar. “Cada tweet com Cala Boca Galvão gera uma doação de 10 centavos para a Galvão Birds Fountation”, dizia o locutor no vídeo. “Um segundo para twittar. Um segundo para salvar uma vida. Galvão Institute. Por um mundo melhor”.

Cardoso olhou solenemente para Shanks. “Faça sua parte, cara”. Como um tweet geraria 10 centavos não foi explicado, mas “a última coisa que eu queria fazer seria insultar um pássaro que era motivo de orgulho para os brasileiros”, disse Shanks, que se juntou a uma multidão mundial, postando a frase salvadora.

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Na sexta-feira, primeiro dia de Copa do Mundo, alguém postou a frase no Twitter. Tradução em inglês: “Shut up, Galvão.”

Outro brasileiro expatriado em Nova York, Felipe Memoria, disse que Bueno estaria disposto manter o País enlouquecido com sua tagarelice. “A maioria das pessoas gostaria de tirar sarro de Galvão”, disse.

Durante toda a sexta, 11, brasileiros postaram o comentário cala-boca. Inevitavelmente, outros perguntaram o que significavam aquelas palavras. Foi quando a brincadeira começou. Às duas da manhã do sábado, um brasileiro escreveu em inglês que aquilo era um pássaro, pois “Galvão” podia ser “traduzido” como “gavião”. Nascia um abaixo-assinado para salvar o pássaro fictício. O escritor brasileiro Paulo Coelho twittou em letras maiúsculas, em inglês: “CALA BOCA GALVAO é a versão brasileira do remédio homeopático SILENTIUM GALVANUS.”

Ao amanhecer de sábado, Fernando Motolese, um comediante de São Paulo, começou a trabalhar em seu vídeo de um minuto. Recrutou o ator britânico, Stewart Clapp, para a locução. “Ele levou 32 horas para ser feito, sem dormir”, disse Motolese. O vídeo pede apoio a um cientista brasileiro que projetou uma gaiola especial para proteger os poucos Galvões que restaram.

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O vídeo, postado na noite de domingo, 13, no YouTube, foi visto meio milhão de vezes. E “Cala Boca Calvão” seguiu, na semana seguinte, como um dos assuntos mais comentados do Twitter no mundo. “Isso é uma piada interna do país inteiro”, disse Cardoso, triunfo mais satisfatório para muitos brasileiros do que a esfarrapada vitória de 2 a 1 de seu time sobre a Coreia do Norte.

O alvo da campanha, o narrador Galvão Bueno, aparentemente não se importou com a brincadeira e deu até uma entrevista sobre o assunto. Não que tivesse opção. E logo, outro hit da internet, o clipe do filme A Queda em que Adolf Hitler briga com seus oficiais antes de perder a Segunda Guerra, foi legendado com o ditador nazista reclamando do extermínio dos pássaros. E ele não estava nada feliz.

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