'Criamos um app onde as pessoas podem ser honestas'; diz fundador do Secret

App de rede social que garante o anonimato chega ao Brasil após causar furor nos Estados Unidos

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Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

SÃO PAULO – Apesar dos oito anos no Google e de ser considerado o “pai” da rede social Google+, Vic Gundotra não surpreendeu quando anunciou o seu pedido de demissão da empresa no mês passado. Três dias antes, boatos de que ele estava fazendo entrevistas em outras companhias circulavam pelo Vale do Silício, na Califórnia, depois da informação ser postada no Secret, aplicativo de rede social cujo mote é o anonimato.

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Lançado nos Estados Unidos em janeiro, o aplicativo Secret (iOS e Android) chegou ao Brasil nesta semana como parte de sua expansão global. A plataforma tem versões para os sistemas iOS e Android e não exige os mesmos dados que outras redes sociais para cadastro, como nome, foto, idade, entre outros dados. O sistema cria um novo usuário a partir do seu número de celular, que é mantido em segredo no site. O usuário pode, então,postar qualquer mensagem anonimamente para sua rede de amigos – baseada nos contatos da agenda do celular – ou pessoas próximas encontradas por geolocalização.

Ao contrário do que acontece no WhatsApp ou Facebook, apesar da conversa ser na maior parte do tempo entre amigos, ninguém sabe a identidade de quem está compartilhando algo na rede social. “Criamos a plataforma para as pessoas serem mais honestas. Todo mundo tenta mostrar o melhor de si nas redes sociais, mas no Secret as pessoas podem ser elas mesmas, dizer o que pensam, suas dúvidas e angústias”, disse em entrevista ao Link o presidente e co-fundador do Secret David Byttow,um ex-funcionário do Google que trabalhou no desenvolvimento de plataformas como Google Wave e Google+. Ele criou o Secret ao lado do amigo Chrys Bader.

 

Com apenas cinco meses de existência, o Secret já recebeu US$ 12 milhões de investidores e agora se tornou um aplicativo global. A empresa não revela, no entanto, o seu número de usuários.

Ainda não há versão em português para o aplicativo,mas uma tradução deve ser lançada “se a gente perceber que os brasileiros se interessam pela plataforma”, diz Byttow. Nos Estados Unidos, o serviço virou uma febre, especialmente no Vale do Silício, onde está sendo usado consistentemente para o vazamento de notícias sobre empresas de tecnologia.

“Trabalho no Path e somos todos miseráveis. Dave (Morin, fundador do Path) fala besteiras de todo mundo que é bem-sucedido e acha que é o Steve Jobs. Deixarei a empresa em breve” diz uma das postagens no Secret nos EUA, que aponta problemas na startup desenvolvedora do Path, aplicativo de rede social que possibilita adicionar apenas um número limitado de amigos. Boatos de que o casamento entre a atriz Gwyneth Paltrow e o vocalista do Coldplay Chris Martin havia chegado ao fim também circularam no Secret antes do anúncio oficial da separação feito pela atriz recentemente.

 

Ética x anonimato. O Secret tem sido considerado uma espécie de Twitter sem o nome dos usuários. Byttow gosta de contar suas suas experiências pessoais para validar o seu modelo de negócio, como o caso de uma amiga que compartilhou a foto de um teste de gravidez e um amigo que pediu conselhos sobre como pedir a namorada em casamento.

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O serviço, porém, tem sido questionado. O influente investidor Marc Andreessen, cofundador do Netscape, declarou que o Secret “estimula o comportamento negativo, colocando as pessoas para baixo ” e questionou se seria ético investidores aportarem dinheiro na plataforma.

Byttow se defende alegando que o sistema oferece ferramentas para os usuários denunciarem qualquer abusoou solicitarem a retirada de um conteúdo. “O Secret é um lugar onde você compartilha coisas que falaria em uma mesa de jantar com amigos, mas não diria em uma plataforma como o Facebook ou Twitter”, diz.

O anonimato tem se mostrado uma tendência no mercado de tecnologia. Além do Snapchat, que recusou uma proposta de aquisição do Facebook por US$ 4 bilhões, o Whisper, que funciona de forma semelhante ao Secret, é outro aplicativo que ganhou popularidade nos EUA recentemente. Analistas de mercado apontam que uma maior ênfase do Facebookem privacidade nos últimos tempos é motivada pelo crescimento da popularidade de serviços baseados no anonimato como o Secret.

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