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Do #manifiesto à #spanishrevolution

Movimento que cresceu na internet ocupa as praças da Espanha há quase uma semana e já se espalha até para o Brasil

Por Tatiana Mello Dias
Atualização:
 Foto: Estadão

Tudo começou com manifestações contra a lei que permite que o governo feche sites que compartilham conteúdo protegidos por direitos autorais. A chamada Lei Sinde provocou uma imensa articulação na web espanhola desde que começou a ser discutida, em 2009 — ativistas lançaram o Manifesto em Defesa dos Direitos Fundamentais na Internet e articularam um movimento de resistência com a hashtag #manifiesto no Twitter. Não adiantou: a lei foi aprovada e entrou em vigor em fevereiro.

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A insatisfação só aumentou. E foi além da luta por liberdade de expressão, que era a bandeira inicial. O governo espanhol aprovou uma lei para limitar a velocidade nas estradas para 110 km/h. Mais protestos. Aos poucos, a briga da população espanhola ganhou novos contornos. Mais de 21% da população está desempregada (o número aumenta para 40% entre os jovens) e os benefícios sociais foram reduzidos durante o ano passado. Além disso, os escândalos políticos só cresciam. O problema não era uma lei específica ou outra. Era o governo.

Sem nenhuma liderança, grupos descentralizados começaram a articular movimentos de resistência pela web. As páginas no Facebook e perfis no Twitter ficaram cada vez mais populares — era a hora de articular uma ação offline. E deu certo. Um grupo de jovens resolveu tomar a praça Puerta del Sol, no centro de Madri, na noite de domingo, 15, e desde então os jovens espanhóis não têm saído das ruas. O grupo continuou anárquico, mas ganhou um nome: “Democracia real YA! No somos mercancía en manos de políticos y banqueros” (democracia real já! Não somos mercadoria nas mãos de políticos e banqueiros).

A articulação aparentemente desorganizada segue o molde dos modelos no Irã e Egito, e mesmo dos protestos virtuais organizados pelo Anonymous, grupo que derruba coletivamente sites de entidades que sejam contra a democracia ou liberdade de expressão. A organização é horizontal — não há líderes — e eles negam envolvimento com partidos, empresas ou governos. São indivíduos comuns, sem rosto, que coletivamente constroem uma força política bem numerosa. Embora muitos grupos apoiem o voto nulo, a organização do movimento — ou as organizações — evitam carregar qualquer bandeira política. A luta comum é por mais democracia, justiça social e liberdade.

O coletivo fez as convocações pelos sites e pelas redes sociais. E deu certo: mais de 130 mil pessoas saíram às ruas das 60 cidades. A hashtag #15m entrou para os trending topics no Twitter. Vídeos começaram a aparecer no YouTube. Mas, no dia seguinte, tudo aquilo foi descreditado pelo governo. Isso só alimentou a resistência.

“Confiamos em uma nova sociedade descentralizada e autogestionada através a rede. Acreditamos na ciberevolução. Acreditamos na transparência. Na participação. Acreditamos em uma ciberrevolta que estoura e vive na internet. E na que depois aterissa no asfalto”, diz o manifesto do grupo Franconohamuerto.

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Só que na web não há fronteiras. Por isso, a “#spanishrevolution” virou “#italianrevolution”, “#frenchrevolution”, “#germanrevolution” “#brazilianrevolution” e assim por diante. Grupos ligados à espanha começaram a articular manifestações em praças de todo o mundo. “Nos chamam da Colômbia, Costa Rica, México, Venezuela, Argentina”, disse o porta-voz do #acampadasol, grupo pioneiro que se instalou na praça Puerta del Sol.

Foi criado um mapa colaborativo, baseado no Google Maps, para mapear onde estão os “campings”, ou pontos de manifestação, pelo mundo. Até a publicação deste post, eram 282 campings e 46.429 acampantes online, incluindo no Brasil (em São Paulo e no Rio de Janeiro).

No sábado, às 13 horas, o braço brasileiro do movimento, centralizado na hashtag #brazilianrevolution, programava se reunir na frente da Embaixada da Espanha em São Paulo, na Avenida Brasil. Segundo os organizadores, a ideia é juntar espanhóis residentes do País e também brasileiros que comunguem da mesma causa política de transformação, seja no contexto espanhol ou brasileiro.

O organizador do protesto, o espanhol Bernardo Gutierrez, explicou a ideia. “Resolvi aceitar a ideia de alguns amigos espanhóis e até alguns brasileiros, como o Marcelo Branco (organizador da campanha online de Dilma Rousseff e ex-representante da Campus Party Brasil). Bastante gente já confirmou na nossa página do Facebook e do Twitter. Acho que vamos conseguir juntar um bom pessoal, fazer algum barulho. A maior parte é espanhol, mas muitos brasileiros que já moraram lá também se juntarão à nós. E brasileiros comuns, também, que querem fazer a #brazilianrevolution. Todos são bem-vindos”, afirmou, em entrevista ao Link.

“Na Espanha, tudo começou com uma revolta pelos direitos dos internautas, e evoluiu para uma insatisfação completa com a corrupção, com o governo que dá dinheiro aos bancos, o desemprego enorme. É uma situação que os brasileiros conhecem de perto, e com certeza a indignação de vocês pode se espelhar na nossa”, disse.

Se a revolução vai mesmo romper as fronteiras — da Espanha e da web — ainda não dá para saber. Mas o apelo já está claro, a começar pelo que está escrito no mapa: “ajude-nos a mudar o mundo! Da #spanishrevolution à #worldrevolution”.

/ COLABOROU RAFAEL CABRAL

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