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Entre a ruína e a riqueza

O Facebook redefiniu a cultura de engenhosidade no Vale do Silício

Por Redação Link
Atualização:

O Facebook redefiniu a cultura de engenhosidade no Vale do Silício

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Por Farhad ManjooSlate

O Vale do Silício está com ressaca de Facebook. Depois do gigantesco IPO (oferta inicial de ações) em maio, as ações da rede social caíram. Mas não é apenas o preço que aponta para uma estagnação do setor de tecnologia. Desde o início da ascensão do Facebook, pessoas inteligentes previam o que o boom das redes sociais arruinaria a cultura do Vale.

Lá costumava ser um lugar para criar coisas – microprocessadores, PC s com interface gráfica, sites para trocar bens com estranhos pelo mundo, etc. O Google não foi apenas financeiramente bem sucedido. Ele continua a ser inventivo, disposto a fazer mudanças importantes em nossas vidas. Entre outras coisas, quer digitalizar cada livro de cada biblioteca e ensinar carros a se guiarem sozinhos.

Mas e o Facebook? A Zynga? O LinkedIn? O Groupon? Será que realmente queremos que o viveiro de inovações dos Estados Unidos seja conhecido por esses fúteis sugadores de tempo? Para muitos, a resposta é não.

“O sucesso do Facebook tem a consequência indesejada de levar à extinção do Vale do Silício como lugar onde investidores assumem grandes riscos em nome da ciência e da tecnologia avançada que pode ajudar o mundo”, disse Steve Blank, empresário e professor das universidades Stanford e Berkeley, à revista Atlantic. Ele ainda acrescentou: “A idade de ouro do Vale do Silício acabou e estamos dançando sobre o seu túmulo.”

Jeff Hammerbacher, um ex-funcionário do Facebook, deixou a empresa porque não suportava a ideia de todos aqueles engenheiros bem formados gastando seu tempo em coisas tão irrisórias. “As melhores cabeças da minha geração estão pensando em como fazer as pessoas clicarem em anúncios”, disse ele à Bloomberg Businessweek no ano passado. “É abominável.”

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Impacto. Ignorem a choradeira, porque boa parte dela é falsa. Seja qual for o futuro do Facebook, é ridículo argumentar que ele não está tendo um impacto profundo e positivo no mundo além de fazer a pessoa clicar em anúncios enquanto bisbilhota perfis de amigos.

A missão fundamental das redes sociais é conectar pessoas que, sem elas, não se encontrariam. Essas conexões podem ser extremamente valiosas, permitindo ideias comerciais novas, capazes de transformar o mundo. Isso incentiva o surgimento de novos modelos baseados no compartilhamento de recursos – serviços como Airbnb, que permite que você alugue seu apartamento a estranhos, ou o site de compartilhamento de carros RelayRides.

O Facebook também é essencial para lançar serviços novos que dependem de uma massa crítica. Um exemplo é o KurbKarma, um fantástico aplicativo que premia o motorista que alertar o mundo sobre a vaga de estacionamento de onde ele está saindo.

O Facebook é uma plataforma de marketing crucial para esse tipo de novidade, o mercado de pessoa a pessoa. Como ele só funciona se muitas pessoas estiverem no serviço, o usuário é incentivado a contar aos amigos sobre ele, criando um reforço viral que teria sido muito mais difícil numa era pré-Facebook.

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Se você acredita que os recursos naturais são finitos, deveria vibrar com esses serviços. Segundo um estudo, os motoristas nas imediações da Avenida Columbus, em Nova York, emitem 325 toneladas de gases-estufa enquanto procuram vagas. Se as redes sociais podem ajudar a reduzir isso, não é ótimo?

Tempo. Claro, muita gente simplesmente desperdiça tempo no Facebook. Mas muita gente desperdiçava tempo antes dele também, e eu não vi evidências de que o Facebook tenha causado um aumento da indolência mundial. De mais a mais, há boas provas de que muitas tecnologias são usadas principalmente para fins pouco nobres. Cerca de 30% do tráfego na internet é para sites pornográficos.

O Facebook não é diferente dos outros avanços humanos. Pode-se dilapidar o dia nele, mas isso não o torna menos eficaz como ferramenta para dissidentes no Egito e na Líbia que queriam derrubar seus regimes.

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Mesmo que se discorde da utilidade do Facebook, ainda há motivos para defender o boom tecnológico que ele inspira. O IPO do Facebook – assim como os o LinkedIn e da Zynga – representa uma transferência maciça de riqueza de Wall Street para o Vale. Para mim, o dinheiro está melhor no Vale que lá.

Sim, há uma boa chance de que toda essa riqueza infle uma bolha de tecnologia. Mas e daí? Não se obtém avanços sem fracassos. A última bolha produziu o Pets.com, mas também nos deu Amazon, eBay e PayPal. No Vale, cada boom cria riqueza que financia a próxima grande novidade. É esperado que isso ocorra com o Facebook também.

A rede social criou um punhado de novos bilionários e mais de um milhar de milionários. Eles são algumas das pessoas mais espertas e mais inventivas do país. Se você acha que elas estão perdendo seu tempo na rede social, espere só. Elas pagarão seus pecados inventando o futuro. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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