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Financiamento coletivo é nova forma de consumo

Apoio a projetos de eletrônicos novos pode ser visto como reação das pessoas à falta de agilidade das empresas tradicionais

Por Redação Link
Atualização:

Apoio a projetos de eletrônicos novos pode ser visto como reação das pessoas à falta de agilidade das empresas tradicionais

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Anna Carolina Papp Ligia Aguilhar

SÃO PAULO – Em setembro de 2012, o Kickstarter, site de financiamento coletivo mais famoso do mundo, anunciou mudanças em suas regras com um objetivo: deixar claro que não era uma loja de produtos. “É difícil saber quantas pessoas se sentem comprando em um shopping quando apoiam projetos, mas queremos garantir que seja nenhuma”, dizia um texto divulgado pelo site.

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A mudança refletia o crescimento de uma tendência que tem sido chamada de pretail – algo como “pré-varejo”. A ideia de consumir produtos antes mesmo de serem lançados é o que tem feito pessoas tratarem os sites de financiamento coletivo (crowdfunding) como um shopping virtual para comprar produtos únicos e inovadores que a indústria tradicional não tem agilidade para produzir.

 

“As empresas ainda são conservadoras e demandam muita pesquisa e investimento para inserir um novo produto no mercado”, diz Luciana Stein, do escritório brasileiro da Trendwatching, instituto de pesquisa de tendências que acaba de lançar um relatório sobre o assunto. “Com a internet, vemos nascer o cérebro global. Duas pessoas em países diferentes podem vislumbrar a mesma possibilidade de criação e se unir para tornar aquilo real”, diz.

Em 2012, plataformas de crowdfunding cresceram 85% e arrecadaram US$ 1,4 bilhão no mundo, com boa parte desse bolo composta pelo pretail. Na Europa e nos Estados Unidos diversos projetos de hardware foram bem-sucedidos, como o relógio inteligente Pebble, que arrecadou US$ 10 milhões, seguido do console Ouya, com mais de US$ 8 milhões.

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No Brasil, no entanto, ainda são poucos os produtos financiados. Por aqui, o crowdfunding se consolidou principalmente como um modelo de apoio a projetos culturais.

 

No Catarse, maior site nacional do ramo, a maioria dos projetos recebidos é de música e cinema. Até hoje, o site financiou 520 projetos, levantando R$ 7,3 milhões.

“Lá fora existe mais amparo para as pessoas produzirem; aqui ainda é caro fazer um protótipo”, diz Diego Reeberg, fundador do Catarse. “Quando tivermos um produto que se torne referência, outros vão surgir.”

Outro motivo para o pretail ser incipiente no Brasil, segundo Luciana, da Trendwatching, é o fato de o consumidor preferir comprar produtos de forma tradicional, por ainda não ter passado por uma fase de hiperconsumo – um cenário que pode mudar em breve.

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“As pessoas ainda estão realizando alguns sonhos. Mas, aos poucos, vão querer ser mais responsáveis pelo que consomem. Em cinco anos, essa tendência deve se estabelecer”, diz. “O pretail é quase uma revanche do consumidor ao mercado, que deixou de oferecer o que ele quer. Por isso, essa corrente de criação colaborativa será incorporada pelas empresas, que desenvolverão canais para falar com os consumidores.”

Por causa de problemas como o alto custo de produção, a maioria dos produtos financiados de forma colaborativa no Catarse se focaram em nichos – uma estratégia para aumentar as chances de sucesso.

É o caso da Metamaquina, impressora 3D criada pelos estudantes da USP Felipe Moura, Felipe Sanches e Rodrigo Rodrigues da Silva, um dos poucos projetos de hardware financiados no site. O trio pedia R$ 23 mil, mas arrecadou R$ 30 mil.

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Os estudantes abriram uma empresa e hoje produzem um segundo modelo. No entanto, dizem que a vida depois docrowdfunding é difícil. “O valor arrecadado é insignificante para bancar a estrutura da empresa. O grande benefício é o marketing”, diz Moura.

Na tentativa de amenizar esses desafios, surgiram nos EUA lojas virtuais especializadas em vender produtos financiados por crowdfunding. Um deles é a Outgrow.me, com mais de 500 modelos. “Era difícil acompanhar quais produtos iam para o mercado depois do financiamento. Por vezes, perdia a campanha de um que me interessava”, diz o criador Sam Fellig, que já apoiou mais de 100 projetos. “Essas empresas sofrem uma queda enorme na exposição. Sites como os nossos colocam esse item novamente em evidência”, diz.

—-Leia mais:‘Descobri um mundo de ideias novas’Sites financiam de atletas a bandas iniciantesLink no papel – 3/6/2013

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