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Forfun e os dois lados da indústria da música

Por Fernando Martines
Atualização:

“No jurássico ‘tempo das gravadoras’ comemoravam-se discos de ouro. Nós celebramos com abraços e uma pequena lembrança”. Com essa frase e com uma pequena placa (sem nenhum disco de ouro no meio) divulgadas no Twitpic, a banda Forfun comemorou no final do mês passado a marca de 500 mil downloads do seu álbum mais recente, intitulado Polisenso, que pode ser baixado de graça no site do grupo.

 

O termo “jurássico tempo das gravadoras”, somado ao adesivo com os dizeres “Copy Left” que estampa o laptop que Vitor, DJ da banda, usa nos shows, indica uma postura agressiva pró-compartilhamento do grupo. Mas isso não se confirma após uma conversa com o dono do adesivo. “É difícil levantar uma bandeira. Agora, que somos jovens e temos o pique de viver fazendo shows, eu sou completamente a favor de colocar todo nosso material de graça na internet. Mas não sei se quando tivermos 50 anos, sem o mesmo preparo, o dinheiro dos direitos autorais não fará falta”, contou Vitor em entrevista ao Link, por telefone.

 

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O Forfun é sim “totalmente a favor de disponibilizar tudo de graça”, reforça o DJ, que nos shows também toca guitarra e escaleta. Mas ele admite o papel importante das gravadoras na história da banda: o grupo lançou seu segundo disco, Teoria Dinâmica Gastativa, pelo selo Supermusic, do produtor Liminha, e o álbum foi distribuído pela gigante Universal. “Foi crucial para ganharmos a notoriedade que temos hoje, foi um salto muito grande. Não sei se teríamos o mesmo acesso a televisões e rádios que tivemos, sem a gravadora. Além disso, crescemos demais como músicos, eles dão uma estrutura que o independente não tem”.

A presença da banda na web é intensa. Não só porque, como quase todas as outras, possui Fotolog, blog, canal no YouTube, perfil no Orkut, Twitter, Flickr e Myspace, mas sim pela forma como usa as ferramentas. Um exemplo é o projeto de transmissão de shows: em cerca de 50% das apresentações, o Forfun contrata e leva uma pequena equipe que capta e joga ao vivo o áudio e vídeo no site oficial do grupo. Segundo Vitor, as transmissões nunca têm menos de mil e quinhentos telespectadores. E ele dá um exemplo de como isso volta em benefício da banda: “O show que fizemos em Manaus, teve 5 mil pessoas assistindo ao vivo pelo nosso site. Nós colocamos um link pra votação do VMB ao lado do vídeo e acabamos ganhando o prêmio de Melhor Banda de Rock. Eu credito muito disso à essa transmissão”.

[kml_flashembed movie="http://www.youtube.com/v/yLdUmhWruUI" width="450" height="350" wmode="transparent" /]Clipe da música “Aí sim”

Vitor também se mostra simpático a ideia de que fãs possam criar em cima de suas obras: remixes de músicas ou clipes caseiros com a música da banda, por exemplo. A posição, na verdade, tem também muito de resignação com a nova realidade: “Uma vez que colocamos algo no mundo, ainda mais com a internet, isso está sujeito a modificações. Ir contra essa maré é querer se afogar. Já vi muita coisa boa que fizeram em cima das nossas coisas, mas também já vi muita coisa ruim. A única coisa que eu quero é que nos dêem crédito quando usam algum vídeo ou música nossa”.

Talvez pelo fato da banda já ter passado pelos dois lados da indústria da música, a posição de Vitor quanto a cobrar por suas músicas seja híbrida. “Claro que eu gostaria de receber. Só que isso não pode ser imposto. A pessoa não pode ter como única opção comprar um cd ou pagar no iTunes. Ela tem que ter uma alternativa gratuita, como o Radiohead fez”, explica. Sem querer cravar uma postura definitiva sobre o assunto, o músico só fala sobre o presente: “Hoje em dia, o que funciona pra gente é liberar tudo de graça. O adesivo (“Copy Left”) está lá como uma homenagem, porque é esse sistema que atualmente está levando a gente pra frente”.

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Fotos: DIVULGAÇÃO/FORFUN

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