Histórias em várias plataformas criadas por diversos produtores

Lost não foi o primeiro programa a transpor as fronteiras da TV. A chamada de narrativa transmídia é uma forma de contar uma história que se desdobra em mais de um veículo. “O primeiro grande pioneiro nisso foi Pokémon”, disse o escritor de ficção científica Bruce Sterling ao Link. “E isso não é um modismo passageiro – chegou para ficar.”

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Por Redação
Atualização:

Em Lost, isso foi além. Usando a internet, os criadores da série desenvolveram jogos de realidade alternativa que convidavam os fãs a desvendar alguns dos mistérios da série e, em vídeos produzidos somente para a internet, revelavam detalhes da história que apenas eram descobertos pelos fãs que acompanhassem as iniciativas na internet. Há, por exemplo, uma parte da mitologia por trás dos números malditos da série (4, 8, 15, 16, 23, 42), que só quem acompanhou essas narrativas paralelas conheceu.

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A novidade foi que, com Lost, o elemento transmídia fugiu das mãos dos produtores da série – de propósito – e os fãs passaram a criar esses desdobramentos. Eles reuniram informações em sites especializados (leia acima), como a enciclopédia sobre a série, Lostpedia, e o Lost Maps, um mapa do Google Maps que aponta a localização dos acontecimentos. “Havia até uma banda no MySpace chamada Previously On Lost. Talvez seja a primeira vez que estejamos diante de um fenômeno do gênero”, analisa Ian Black, consultor de mídias sociais e projetos multimídia.

Em entrevista ao Link no ano passado, Henry Jenkins, o autor do livro Cultura da Convergência e ex-diretor do programa de mídia comparativa no MIT, comentou esse fenômeno: “Aquilo que não for transmídia vai se tornar transmídia nas mãos do público. Falando apenas sobre programas de televisão, se você reparar com atenção, vai perceber que os melhores produtos transmídia não foram criados pelas empresas que produzem os programas, mas pelos fãs.”

E entre os mistérios inventados pela série e as soluções inventadas pelos fãs, percebe-se a criação de um novo tipo de entretenimento, uma nova forma de atrair interesse e despertar paixões, sempre de forma coletiva. Afinal, é melhor viver junto do que morrer sozinho.  /Filipe Serrano, Alexandre Matias e Ana Freitas

Realidade + Ficção

Trecho do livro Televisão na Era Digital, de Newton Cannito:

 Foto: Estadão

Para o que seria o mundo real na trama, até a quarta temporada (quando Charlie morre ao desligar o sinal que impedia que a ilha fosse visualizada por satélite) a ilha nem sequer existe. Essa fusão entre realidade e ficção atrai a mente humana para diferentes ambientes virtuais multiusuários, fazendo-a desvincular-se do que fica restrito apenas à TV. Tais ambientes já oferecem ao espectador a oportunidade de encenar ou desvendar a história em vez de simplesmente assistir a ela.”

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