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'I'm fucking awesome'

A criadora do YouPix comemora os cinco anos do evento levando o festival para os Estados Unidos nesta segunda-feira

Por Alexandre Matias
Atualização:

A criadora do principal evento de cultura da internet do Brasil comemora os cinco anos do YouPix levando o festival para os Estados Unidos nesta segunda

“Um safári na cultura de internet brasileira e nos memes do Brasil.” Assim é o subtítulo do primeiro YouPix realizado fora de São Paulo. O festival, que já pode ser considerado o maior evento sobre a cultura de internet do Brasil, desembarca hoje em São Francisco, nos EUA, para apresentar a cultura digital do País ao público californiano. E quem lidera o tal safári é a organizadora e curadora do festival, Bia Granja.

 

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“A web brasileira é uma das mais influentes e ativas no mundo”, explica Bia. “Como nós somos um evento que discute e celebra essa web, achamos que o YouPix tem um potencial imenso para se tornar algo mundial também. Somos o terceiro maior mercado de computadores no mundo, o que mais cresce no LinkedIn e no Facebook, estamos entre os três maiores países que usam o Google+ e temos a maior penetração no Twitter. Esse crescimento nas redes sociais e a inclusão digital têm feito com que o Brasil tenha se tornado cada vez mais influente na rede. E com a crise absurda rolando na Europa e nos EUA, todos os olhos estão focados no Brasil.”

Bia criou o YouPix há cinco anos, em São Paulo, fazendo pequenos debates na antiga Casa Gafanhoto, em Pinheiros, e aos poucos foi vendo o festival crescer e primeiro migrar para o Museu da Imagem do Som, nos Jardins, para, finalmente, chegar ao Porão das Artes, no Pavilhão da Bienal do Parque Ibirapuera, onde realizou suas duas edições em 2011.

Nesses cinco anos, o festival conseguiu se livrar do ranço do nerd do século 20 – aquele antissocial, imerso em códigos de programação e aparelhos – para consagrar um novo tipo de nerd. O público-alvo do YouPix também passa o dia inteiro na frente do computador – atualizando o próprio blog ou frequentando redes sociais –, mas ao mesmo tempo sai à noite, tem amigos de carne e osso, fala besteira e dá vexame. E assim tornou-se uma verdadeira meca para a geração web 2.0 brasileira.

O YouPix também consagrou novos ídolos para este público em formação. Conseguiu reunir blogueiros célebres para serem curadores de áreas específicas (como Edney “Interney” Souza, Rosana Herrman e os caras do Jovem Nerd), facilitou a concretização da carreira de humoristas que usaram o YouTube para divulgar seus trabalhos (como Rafinha Bastos e PC Siqueira) e também trouxe para o Brasil protagonistas de alguns dos principais memes da história da internet, como o hippie do vídeo Double Rainbow, o garoto do vídeo David After Dentist, o criador do agregador de blogs de MP3 Hype Machine Anthony Volodkin e o criador do fórum 4chan, Chistopher “Moot” Poole.

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Ela explica como será o evento em São Francisco, que acontecerá na Barrel House. “Eu vou abrir fazendo um passeio pelos memes e virais mais significativos e, a partir deles, tentar explicar algumas características do povo brasileiro em si. Depois de mim, a Rosana Hermann vai fazer uma apresentação mais profunda sobre o modus operandi do brasileiro na internet – o que nos motiva, o que nos define, etc. Depois teremos uma sessão meio maluca, coordenada pelo Jamie Wilkinson, que é um dos criadores do site Know Your Meme. E depois disso, vamos fechar a noite tomando Facebook Shots, um drink que fizemos especialmente para o evento, usando cachaça, e comeremos paçoquinha.”

O mais difícil de explicar a cultura da internet brasileira para estrangeiros é, segundo ela, a barreira da língua. “Vou mostrar, por exemplo, a Sonia do IuTubiu – que é intuitivo e não precisa ser traduzido –, o Lucas Fama Pop, alguns vlogueiros, a Stephany do Cross Fox, Jeremias Muito Louco e o funk ‘Sou Foda’, que traduzimos para o inglês (leia a versão abaixo da fotografia)”, explica.

Para ela, “Sou Foda”, hit do Bonde dos Avassaladores, que ela trouxe para a edição do primeiro semestre do evento em São Paulo, é o grande meme do ano. Mas faz uma ressalva e diz que o principal meme de 2011, na verdade, foi a consolidação deste termo na internet brasileira, substituindo descrições anteriores, como “modinha de internet” ou “vídeo viral”. E mostra a acentuada curva das buscas em relação ao termo em português, que praticamente inexistia até 2009, torna-se crescente em 2010 para, finalmente, subir de forma bem acentuada este ano.

Ela reforça que o humor é só a isca da transformação que está acontecendo. “Acho que a coisa mais legal deste mundo memético é que ele é a materialização dos conceito de democracia, colaboração e liberdade de expressão trazidos pela web. Sem participação das pessoas, ele não aconteceria. Isso é o melhor: o poder de construir uma nova cultura.”

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NA ONU

Não é só o YouPix que representa a web brasileira nos EUA. Na sexta-feira, o governo brasileiro apresentou a experiência de elaboração do Marco Civil da Internet em um painel na 66ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York. “Entre os segmentos que têm discutido liberdade de expressão e direitos na internet, o Marco Civil tem tido boa repercussão”, explica Guilherme Almeida, assessor da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça. O convite partiu da Missão da Suécia na ONU e da Open Society Foundation, que começaram a prestar atenção na legislação brasileira com a tradução do texto para o inglês.

“Há uma discussão sobre incluir o direito de acesso como um elemento do direito à liberdade de expressão. E no mundo todo faltam exemplos destas práticas. Ainda mais quando países do dito ‘primeiro mundo’ frequentemente têm iniciativas para cercear a divulgação de conteúdos”, explica. Ele falou no painel Internet Access for All? (Acesso à Internet para todos?) tanto sobre o processo de elaboração da lei (feita em consulta pública em forma de blog) quanto em relação aos resultados (um projeto de lei que regula direitos como liberdade, acesso e neutralidade). “Nos colocamos à disposição para cooperar. Há um consenso de que há caminhos necessários de regulação e faltam exemplos de boas práticas”, disse.

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O texto foi discutido em um site construído com a plataforma WordPress. Os participantes apresentaram pontos e discutiram os temas horizontalmente. Os debates serviram como base para a elaboração do anteprojeto de lei, feito pelo próprio Ministério da Justiça. O texto ficou na Presidência da República até meados deste ano, quando foi apresentado à Câmara, onde agora está parado./ TATIANA DE MELLO DIAS

—-Leia mais:• ‘Link’ no papel – 24/10/2011

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