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Livro reconta caso Snowden em ritmo de aventura

'Os Arquivos Snowden', livro sobre a saga do ex-analista da CIA que denunciou a espionagem dos EUA, acaba de ser lançado no Brasil

Por Camilo Rocha
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SÃO PAULO – O ex-analista da CIA Edward Snowden revelou no ano passado a existência de um amplo esquema de espionagem do governo americano, por meio da agência NSA, em que colaboravam conhecidos nomes da indústria da tecnologia como Apple e Google. Com isso, estimulou um intenso debate sobre privacidade na rede. Os arquivos com as revelações foram oferecidos ao jornalista Glenn Greenwald, que publicou seu conteúdo em uma série de reportagens no jornal inglês The Guardian. A história do caso e da cobertura virou o livro Os Arquivos Snowden, que acaba de sair no Brasil. O autor, Luke Harding, experiente repórter internacional do jornal, conversou com o Link pelo telefone.

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O livro foi escrito como um thriller. Por que quis escrevê-lo nesse estilo? Achei o gênero mais apropriado. A coisa toda tem um sabor de A Identidade Bourne. Também quis tornar a história acessível. Queria fazer algo que pudesse ser lido na praia, ou no trem, e não apenas por jornalistas investigativos ou gente como Julian Assange (do Wikileaks). Especialmente não para ele (risos).

O que o livro traz de novo para quem acompanha essa história desde o começo? Não tem nenhuma revelação nova, em termos técnicos. Não era a essa intenção. O que quis fazer de novo é mostrar mais sobre quem é o Snowden. Também quis relembrar o trabalho dos jornalistas envolvidos, como Glenn Greenwald, Laura Poitras e Ewen MacAskill, o que não havia sido feito antes. Não foi uma pauta fácil, enfrentamos uma pressão tremenda das autoridades. O governo britânico teve um momento muito antidemocrático e isso foi importante contar também.

Esse episódio a que você se refere, em que as autoridades britânicas ordenaram a destruição do computador do jornal onde estavam os arquivos de Snowden marca um momento especialmente baixo na relação entre o governo britânico e a imprensa? Acho que sim e acho que isso será mostrado em cursos de jornalismo daqui a vinte anos. Esse episódio mostra que temos de ser vigilantes, pois existem momentos de retrocesso mesmo em países tão livres como o Reino Unido. O fato de que a imprensa britânica não ficou do nosso lado e não repercutiu a história também é assustador.

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Nos EUA, pesquisas mostram a população dividida em seu apoio a Snowden. Como ele é visto no Reino Unido? É difícil achar quem se importa com esse assunto por aqui. Esse debate só decolou no Reino Unido nos últimos dois meses. Foi algo que questionei muito: porque nós britânicos somos tão estúpidos e não nos importamos com liberdades civis ou privacidade, ou confiamos tanto no Estado? Uma resposta histórica seria porque estamos em paz há séculos e nossa última revolução foi no século 18. Também acho que temos uma imagem romântica dos espiões: homens que jogavam xadrez e fumavam cachimbos, saindo para vencer os nazistas e depois voltar ao seu jogo.

Você também virou um alvo das agências de espionagem? Nesse projeto, coisas muito estranhas aconteceram. Tomei todas as precauções possíveis, mas o laptop onde escrevi o livro é o mesmo que levei para o Rio e deixei no hotel quando fui encontrar o Glenn. Não acho impossível que alguém tenha mexido nele lá. De volta a Londres, trabalhando nele, offline, houve seis ou sete momentos em que o texto começou a se apagar sozinho e eu não estava com a mão no teclado. Fiquei preocupado que tentassem apagar o livro. Cheguei a escrever dizendo que podiam ler o texto, mas que por favor não o apagassem.

Um impacto negativo nos negócios de tecnologia faria os EUA diminuir a vigilância? A indústria de tecnologia está furiosa porque foi pega colaborando ou porque não tinha noção de o quanto suas redes e negócios poderiam ser comprometidos pela NSA? Acho que um pouco de cada. Claramente colaboravam, como indicam os arquivos. Eu acho que os negócios já foram prejudicados e o governo americano não vai voltar atrás. Obama prometeu “limites” à NSA, mas parece tudo superficial e pouco claro…

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(a ligação é cortada)

O que foi isso? Não fui eu. Acontece comigo toda hora, ligações são cortadas, o e-mail não funciona.

Uma das questões do livro é tentar desvendar o que motivou Snowden a fazer o que fez. Qual é a sua opinião pessoal? Acho que ele se sentiu compelido a fazer isso porque acreditava que mais ninguém iria fazê-lo. Ele leva a Constituição ao pé da letra e considera que ela foi violada pela NSA. É acima de tudo um patriota, um idealista à moda antiga, pertencente a uma tradição da direita americana de contestação, de rejeição à autoridade do Estado. É calmo, racional, sabe exatamente o que está fazendo. Tinha consciência de que iria arruinar sua vida para sempre, mas achou que era necessário levar isso em frente.

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