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Mapas à mão; arte e expressão

Em tempos de Google Maps e GPS, hábito de desenhar mapas sobrevive

Por Agências
Atualização:

A medida em que os serviços cartográficos avançados como Garmin, Google e MapQuest tornam mais fácil do que nunca se localizar em uma cidade, um novo movimento tem revivido o interesse nos mapas feitos à mão, como uma forma de expressão pessoal.

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Ingrid Burrington traçou encontros entre estranhos na cidade de Nova York que aparecam na seção de avisos pessoais do Craiglist chamada “conexões perdidas”. Já Marilyn Murphy marcou os lugares das injeções estomacais para tratar de sua artrite, um guia prático para as próximas aplicações e um atestado de sua doença. E Scott Schuldt usou métodos e instrumentos de antigos topógrafos para marcar suas excursões pelo noroeste do Pacífico, nos Estados Unidos, diagramando o trajeto em uma primitiva escala de passos por polegadas.

Estes mapas e centenas mais aparecem no site da Associação de Mapas Traçados à Mão e em um novo livro, chamado From Here to There: A Curious Collection from the Hand Drawn Map Association (Daqui até lá: uma curiosa coleção da Associação de Mapas Traçados à Mão, em tradução livre) — ao lado.

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O livro foi compilado pelo fundador da associação, Kris Harzinski. Alguns dos mapas foram desenhados por artistas, enquanto que outros foram feitos por pessoas cujas vidas são reveladas pelos caminhos que percorrem e registram.

“O que os mapas fazem realmente é contar uma história sobre um lugar, uma história muito específica, com interpretação ou conhecimento individual de cada lugar”, disse Harzinski, um artista e designer do Estado americano da Filadélfia.

Expressão e entretenimento

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Harzinski pertence a um grupo cada vez maior de acadêmicos e artistas interessados no uso de mapas para a expressão ou entretenimento, muito além do tradicional papel de dar as direções, rapidamente substituídos pelos sistemas de posicionamento por satélite (GPS) e por mapas online.

Alguns dos mapas são parte da exposição que começa esta semana (dia 23) na Pratt Manhattan Gallery, em Nova York.

“Houve um aumento repentino do interesse sobre os artistas contemporâneos e o uso dos conceitos da cartografia em suas obras”, disse Katherine Harmon, curadora da mostra e autora de dois livros sobre o uso expressivo dos mapas.

Harmon disse que o movimento é latente desde o fim da década de 1960, quando o pintor Jasper Johns criou um mapa borrado e brilhante dos Estados Unidos. Nos últimos anos, houve um rápido crescimento.

A autora crê que existe um “instinto cartográfico” humano, mas reconhece que a ideia é colocada em dúvida por muitos especialistas no tema.

 

Schuldt, um artista de Seattle e ex-engenheiro da Boeing, cria mapas para se conectar com mais profundidade ao mundo a sua volta. “Fazer mapas me força a ficar hiper consciente. É encontrar o modo de comunicar o valor e o conceito de saber onde você está”, disse. Ele afirma que o GPS diz a localização a partir de um ponto de vista aéreo. “No meu trabalho, tudo é feito de baixo para cima”, explica.

As duas contribuições de Schuldt à associação foram feitas medindo os parques Discovery e Volunteer, em Seattle, com as mãos.

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O nova-iorquino Matthew Rodriguez, um profissional de marketing que tem uma firma de videogames e é autor de um blog, realizava esboços de mapas para se localizar em seu bairro, o East Village.

“Meus amigos davam risada de mim”, disse, por não usar telefone celular com GPS. Rodriguez comprou um telefone com acesso à internet, mas quando está em um local com baixo sinal, desenha a rota no papel.

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Mapas fictícios e pessoais

Alguns mapas da coleção de Harzinki são fictícios. Shane Watt, por exemplo, desenhou um mapa de “Empatheia”, uma megalópole com proporções de cidades grandes reais. O tema do mapa é uma cidade industrial militar do futuro, com um complexo de fazendas do Wal-Mart, uma rota Hamas e um Centro de Segurança do Estado.

Outros mapas são intensamente pessoais, como o mapa do nova-iorquino John Hutchinson, com o trajeto desde Manhattan até o Brooklyn durante o dia 11 de setembro de 2011, com anotações feitas enquanto observava as torres gêmeas se queimarem, ou o “Mapa da minha infância” de Chris Collier, da cidade de South Cambridgeshire, na Inglaterra.

Há ainda aqueles que contam histórias. Um casal alemão enviou um mapa de uma casa onde havia se hospedado, em que estavam escondidos arquivos da polícia secreta Stasi da Alemanha Oriental.

Harzinski prefere mapas que revelem uma visão de mundo do seu criador.

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O primeiro que recolheu, um mapa dos Estados Unidos de uma pessoa de Dakota do Norte, desenhado em Glasgow, Escócia, em 2000, mostra a região centro-norte dos Estados Unidos bem detalhada. Mas os limites interestaduais vão ficando imprecisos a medida em que se distancia do lugar onde morava.

Os fanáticos por mapas desenhados à mão vão contra a corrente. Dezenas de milhões de aparelhos GPS são usados no mundo. Mas as pessoas ainda se perdem.

O livro inclui uma contribuição de Christian Herr, que esboçou o caminho até sua casa em um saco de açúcar e em um antigo caderno de anotações, logo depois de se perder na Pensilvânia usando as direções do Google Maps.

“O Google Maps dizia 3:25 horas de viagem. A duração real foi de 5 horas. Que se dane o Google Maps”, escreveu.

/ Randall Mikkelsen (REUTERS)

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