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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Menos política na linha do tempo do Facebook

O Facebook começará a implementar ao longo das próximas semanas uma profunda mudança em seu algoritmo, que vai diminuir as presenças de links para notícias, posts de páginas profissionais e de marcas

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Atualização:

O Facebook começará a implementar ao longo das próximas semanas uma profunda mudança em seu algoritmo. O resultado concreto, de acordo com um post publicado pelo CEO Mark Zuckerberg, é que vão diminuir as presenças de links para notícias, posts de páginas profissionais e de marcas. O que vai ampliar é o pessoal. Mais amigos, menos de todo o resto. Zuck não fala, mas a questão é simples: quer menos política.

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A pressão sobre o Vale do Silício aumentou consideravelmente desde o Brexit e, principalmente, a eleição que levou à Casa Branca Donald Trump. A rede admitiu que houve dinheiro russo na compra de publicidade a favor do atual presidente. Há também a questão das notícias falsas que circulam com facilidade.

No primeiro momento, o Facebook tentou montar, com agências de checagem em vários países, uma solução para distinguir noticiário real do falso. Descobriu que não é simples. O volume é bem maior do que as agências conseguem encarar. Além disso, a rede social não estava disposta a pagar pelo serviço. E, ora, os usuários mais militantes não querem ouvir o Facebook dizendo que aquilo no que acreditam é falso.

Para o Facebook, a dor de cabeça é dupla. Há ameaça real de regulamentação por parte dos governos europeus e, agora, também dos EUA. Ao mesmo tempo, o debate constante sobre política deixa os usuários irritados. O público usa o Facebook. E muito. Mas, conforme a polarização das democracias se acirra, o debate político predomina e gera mau humor. A rede deixou de ser uma experiência agradável.

É uma reversão. Nos últimos anos, o Facebook vinha estreitando a relação com veículos de imprensa. Seu principal objetivo era aumentar o tempo que seus usuários passavam na rede. O público simplesmente não põe material pessoal o suficiente para justificar constantes visitas. E, ora, há limites para o engajamento na sétima foto dos filhos do amigo ou da viagem do primo. Noticiário fazia a rede transbordar de conteúdo.

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“Nos sentimos responsáveis por fazer com que nossos serviços sejam não apenas agradáveis de usar, mas também tragam bem-estar às pessoas.” A associação com o mau humor corrente do mundo faz mal à rede. “Ao fazer estas mudanças”, continuou Zuckerberg, “minha expectativa é de que o tempo que as pessoas passam na rede e o engajamento caiam.”

Ao tentar esconder o noticiário político, talvez o tempo no Face diminua, mas o bom humor aumente. E, com alguma sorte, a ameaça de regulação seja afastada. Essa é a aposta. As consequências de mudanças no algoritmo, porém, são imprevisíveis. Pode ser que o público se mantenha no debate político porque não quer outra coisa. Pode ser que o tempo na rede despenque, e seus executivos voltem atrás.

Pode, até, ser bom para todo mundo. E, com menos tempo dedicado ao Facebook, aumente a circulação pela rede aberta. Como sempre foi da natureza da internet até a imposição do monopólio azul.

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