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Milos Forman versus Lawrence Lessig

Por Rafael Cabral
Atualização:

Vencedor de dois Oscar de direção por Um Estranho no Ninho e Amadeus, o cineasta Milos Forman acusou aqueles que defendem a cultura livre de promoverem o comunismo. Inimigos da democracia, aqueles que fazem downloads ilegais na Internet estariam também roubando muitos pobres que dependem da indústria de entretenimento para sobreviver.

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O discurso foi proferido na Cúpula Mundial do Direito Autoral, na noite passada, em nome do sindicato de diretores dos Estados Unidos, o DGA. “O que todas essas pessoas fazem, realmente, é a promoção da ideologia comunista”, disse Forman, que viveu sob o regime stalinista na Tchecoslováquia, seu país de origem.

A cultura livre, para ele, nada tem de livre. Pelo contrário: é um atentado contra os princípios da democracia e da própria liberdade. “Os piratas olham para si mesmos como Robin Hoods modernos, tirando dos ricos para dar aos pobres, mas de fato estão roubando milhares de pessoas normais, muitas delas pobres”, afirmou.

Além disso, Forman disse que tudo que há na Internet deve ser, sim, pago. Os que defendem a gratuidade, diz ele, são como pessoas que vão ao “supermercado e pelo mero fato de te darem uma cesta de compras sem pagar primeiro, acham que tudo o que houver dentro deva ser de graça também”.

A tentativa de associar a cultura livre com o comunismo é velha. É uma metáfora tão usada que já está até gasta, puída. Apesar disso, Lawrence Lessig, o criador da licença Creative Commons (na qual a simpática foto de Forman, acima, está registrada), ainda fica irritado com ela. Por isso, vem dedicando toda uma série de posts em seu blog à negação da teoria.

Em seu livro mais famoso, Cultura Livre, o professor de Direito de Stanford afirma que a Web 2.0 sinaliza justamente o oposto do que disse Forman. O compartilhamento de arquivos por meio da rede veio para que a lei do copyright, que atualmente é injusta e prejudica a maioria da população, possa voltar a ter algum equilíbrio. E mais do que isso: ela é um retorno justamente à mesma tradição democrática e liberal que Forman diz estar ameaçada.

Para Lessig, a associação da pirataria com o socialismo é uma total confusão de conceitos. Usada, na maioria das vezes, de forma desonesta: uma forma de tachar os defensores da Internet com um rótulo que não vem junto com o que eles defendem. Compreensível, diz Lessig. Pois em um mundo em que “um míssil pode se chamar Peacekeeper, tudo por ser tudo“.

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