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Moeda virtual Ether ganha espaço como alternativa ao polêmico Bitcoin

Moeda virtual teve valorização de mais de 2.400% somente no último ano; total de Ethers em circulação já soma US$ 28 bilhões no mundo

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Por Redação
Atualização:
Sargento da Aeronáutica, Walter Lima investiu R$ 30 mil para ter máquina para 'minerar' moeda virtual 

Com uma série de recordes de valorização nos primeiros meses de 2017, a moeda virtual Bitcoin quase quadruplicou sua cotação desde julho de 2016, alcançando o equivalente a US$ 2.563,62 na última sexta-feira. O cenário dá a impressão que, após anos de polêmicas e especulações, o Bitcoin finalmente pode se consolidar como a principal opção para transações financeiras pela internet. Mas já existe um rival de peso: outra moeda virtual, a Ether, chama a atenção dos entusiastas do setor. No último ano, a cotação dessa moeda virtual multiplicou-se por 25, passando de US$ 11,90 para US$ 304,85.

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A cotação ainda deixa a Ether bem atrás do Bitcoin. O foco dos investidores, porém, não está no curto prazo, mas nas perspectivas. A moeda virtual tem apresentado crescimento acelerado e se aproximado, pouco a pouco, do valor de mercado do Bitcoin. Segundo o site Coin Market Cap, que monitora moedas virtuais, o total de Ethers em circulação soma US$ 28 bilhões, o que representa 66% do valor do Bitcoin, de US$ 42 bilhões – no início de 2017, a Ether representava menos de 5% do Bitcoin.

Operação. Em essência, Bitcoin e Ether operam de maneira similar. Ambas podem ser usadas de forma anônima, a partir de uma carteira digital. As transações realizadas com a moeda (como transferências e pagamentos) são registradas em uma blockchain, uma espécie de livro-caixa digital, que funciona de maneira pulverizada.

Na prática, todos os registros de transações só são feitos na blockchain após a validação por uma rede de computadores espalhada pelo mundo. Qualquer pessoa, em tese, pode comprar uma máquina e se candidatar a ajudar neste processo. Não há uma entidade central, como um banco, que aprove as transações.

Ao “emprestar” seu poder de processamento de seus computadores para validar as transações, os membros da rede – chamados de “mineradores” – são remunerados com novas moedas virtuais.

Apesar do modelo de processamento ser semelhante, as origens e propósitos das duas moedas são distintos. Enquanto o Bitcoin foi criado em 2009 para provar ao mundo que era possível criar uma moeda totalmente digital e descentralizada, a Ether nasceu para ser o “combustível” para a blockchain Ethereum. “A moeda é uma consequência dessa plataforma”, diz o economista carioca Paulo Aragão, que desde 2006 estuda e investe em moedas virtuais.

“A Ethereum nasceu para ser uma plataforma em que qualquer pessoa possa criar aplicativos com base em contratos inteligentes”, diz o pesquisador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio), Gabriel Aleixo. “É possível criar serviços nessa blockchain que podem transferir moedas virtuais, mas também outros ativos, como votos em uma eleição.”

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Entre os serviços que já foram criados sobre a blockchain da Ethereum estão os “cartórios virtuais”, que registram documentos, como certidões de nascimento ou casamento, e permitem que a autenticidade deles seja confirmada depois. 

Para que operações sejam processadas pela rede distribuída da Ethereum, cada minerador ganha uma quantia na moeda virtual Ether. O valor pode ser negociado em bolsas online e resgatado em dinheiro real. Há também aqueles que preferem manter as moedas virtuais na carteira, aguardando saltos na cotação para lucrar.

Vantagens. A possibilidade de fazer fortuna com a Ether já atrai brasileiros. O paraibano Walter Lima, de 27 anos, começou a estudar moedas virtuais há alguns meses. Sargento da Aeronáutica, ele decidiu investir R$ 30 mil em duas máquinas com alto poder de processamento para se tornar membro da Ethereum. 

As supermáquinas ficam instaladas em sua casa, em Manaus, onde mora desde 2014, quando iniciou o serviço militar. “Pretendo recuperar o valor que investi em três meses”, diz. “Depois, é só lucro real.”

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Desde o início, Lima decidiu apostar na Ether em vez do Bitcoin. Uma das vantagens da nova moeda, segundo ele, é a velocidade de processamento: cada bloco de transações é processado em apenas 15 segundos. “No Bitcoin, cada bloco demora cerca de dez minutos para ser processado”, diz. Apesar de a diferença de velocidade saltar aos olhos, ela tem um lado negativo: segundo especialistas, a verificação mais rápida das transações não é tão minuciosa quanto no Bitcoin, o que pode abrir espaço para fraudes.

A Ether também tem se destacado por não ter limitação em relação ao número de moedas que podem ser geradas. Atualmente, já existem em circulação 16,4 milhões de Bitcoins no mundo, mas a plataforma foi desenhada para limitar o mercado em 21 milhões de moedas. No caso da Ether, 18 milhões de novas unidades podem ser criadas todo ano: no total, hoje há quase 93 milhões de unidades da Ether em circulação. Um limite de expansão, porém, pode ser definido nos próximos anos.

“O Bitcoin pode ser usado por pouca gente”, diz Alexandre Linhares, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape), vinculada à Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio). “Como a moeda virtual não tem uma liderança clara, os desenvolvedores divergem sobre como aumentar o alcance do Bitcoin.”

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A Ether também sai na frente por ter reputação “limpa”, enquanto o Bitcoin sofre há anos com a fama de favorecer o comércio de drogas e armas.

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