Mulheres querem mais espaço em TI

ONG brasileira tenta combater a discriminação contra mulheres na área de tecnologia

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Por Ligia Aguilhar
Atualização:

ONG brasileira tenta combater a discriminação contra mulheres na área de tecnologia

PORTO ALEGRE – Quando a vice-presidente de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, lançou o livro “Faça Acontecer” no início do ano surpreendeu o mundo ao se revelar feminista e criticar o preconceito contra mulheres bem-sucedidas no mercado de trabalho, especialmente na área de tecnologia.

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O best-seller ajudou a popularizar uma discussão que vem sendo feito por um grupo de mulheres brasileiras há quatro anos. Nascida em Goiânia, Goiás, a Organização Sem Fins Lucrativos (ONG) Mulheres na Tecnologia tem como objetivo aumentar a participação feminina na área de Tecnologia da Informação (TI).

Na quarta-feira, 3, a ONG deu início a uma série de painéis que serão realizados ao longo dos próximos dias no Fórum Internacional Software Livre (Fisl 14), realizado em Porto Alegre, no RS.

O primeiro tema debatido foi “Onde guardamos nosso machismo?” que lotou o auditório do evento e incitou uma discussão acalorada sobre o preconceito existente no mercado de trabalho.

O Link conversou com a conselheira do Mulheres na Tecnologia e desenvolvedora de softwares Márcia Santos para saber mais sobre o assunto. Confira os principais trechos da entrevista:

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Como é o trabalho da ONG Mulheres na Tecnologia? O grupo começou há 4 anos em Goiânia, Goiás, por iniciativa de três garotas da área que após um evento como o Fisl resolveram se juntar para entender por que elas eram minoria no mercado de tecnologia. Eu entrei logo depois. O grupo criou uma lista de discussão e um site para reunir mulheres da área. Nosso trabalho é discutir assuntos que possam ter impacto na permanência de mulheres na área. A gente discute muito as razõs pelas quais o número de mulheres entrando na área de tecnologia diminui a cada ano, vamos a eventos para falar sobre a importância da presença feminina em empresas do setor e temos um trabalho de inclusão digital com mulheres carentes, no qual damos cursos de informática para mulheres que não têm contato com o computador.

Por que o setor de tecnologia tem poucas mulheres? A que você atribui a queda no número de profissionais na área? Pelo que a gente percebe, antigamente todo mundo queria fazer Ciência da Computação imaginando que ia aprender uma determinada coisa. Depois muitos se decepcionaram.Por isso muita gente sai do curso, incluindo homens. No caso das mulheres, existem barreiras e coisas que a gente escuta desde criança e que nos desestimulam a seguir na área de exatas, como pessoas dizendo que mulheres são naturalmente melhores na área de humanas. Tem também o preconceito. De repente você está no escritório trabalhando todos os dias e as pessoas falam coisas que realmente não te deixam com vontade de continuar ali. Muitas mulheres também deixam o trabalho porque não conseguem atuar na área e cuidar da família. A sociedade estimula que a mulher fique em casa para o homem trabalhar.

Que tipo de preconceito as mulheres mais se queixam de sofrer na área de tecnologia? A mulher tem que provar o tempo todo que é capaz e melhor que o homem. Eles conseguem trabalhar duro e negociar o seu salário. A mulher tem que provar sempre algo mais, é um preconceito velado. São coisas que eu mesma vivo no dia a dia.

Que tipo de preconceito você já sofreu? Eu trabalho com desenvolvimento de softwares e minha equipe é praticamente só de homens. Só tem eu e mais uma mulher, a coordenadora da equipe. São seis homens e duas mulheres. Eu sempre escuto alguma coisa se faço um comentário, por exemplo, porque estou empolgada com o fato de que um sistema que não estava funcionando ter começado a rodar. Eu me empolgo e os homens me olham achando que eu estou exagerando, dizendo que é coisa de mulher. Qualquer coisa que eu falo dá margem para brincadeiras do tipo “vai lavar roupa”. Tudo que falam tem como pano de fundo me mandar para casa fazer tarefas domésticas.

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É mais difícil para as mulheres conseguirem uma colocação no mercado de tecnologia? Pesquisas mostram que a mulher tem mais capacitação profissional do que o homem, estuda mais, faz pós-graduação e, mesmo assim, homens apenas com nível técnico chegam a ganhar mais do que elas.

Há quem diga que não existe machismo no mercado, mas, sim, que o feminismo estimula essa disputa entre os sexos. Qual sua opinião sobre isso? Nós fomos educadas com algumas crenças que determinam que a mulher faz uma coisa e o homem outra. O feminismo veio de fato para tentar quebrar isso. Queremos mostrar que todos têm capacidade de fazer qualquer coisa. O feminismo propõe que as pessoas pensem a respeito do preconceito.Mesmo sendo do movimento feminista eu por vezes me pego com comportamentos machistas também, rindo de uma piada preconceituosa. O que a gente propõe é uma reflexão para quebrar esses parâmetros que a sociedade impõe. Queremos igualar os sexos para terem as mesmas condições e não dominar os homens.

Há muitas empresas de tecnologia criando políticas específicas para as mulheres. Como você avalia essa iniciativas? E como essas empresas podem colaborar para reduzir o preconceito?Algumas empresas nos procuraram e mostraram propostas. Achamos interessante. O que vemos é que muitas iniciativas ainda estão em estágio inicial, mas como as companhias percebem que as mulheres hoje se colocam de forma diferente, começam a tratá-las de forma diferente também. Elas tentam oferecer mais do que o salário, como mais espaço, flexibilidade, benefícios como licença-maternidade ampliada. Muitas mulheres enfrentam dupla jornadas e precisam disso.

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Como aumentar o interesse das mulheres pela área de tecnologia? Queremos apresentar a área para as meninas que estão no ensino médio e não conhecem o mercado de tecnologia.Queremos incentivar quem tem curiosidade a busca mais informações e mostrar as possibilidades da área.

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