Não havia ferramenta para o que eu queria; então escrevi uma""

Linus Torvalds falou com exclusividade ao Link

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Por Redação
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Após quase uma hora cercado por fãs querendo fotos ou autógrafos, Linus Torvalds foi apresentado à CEO da Canonical, Jane Silber. A Canonical é a empresa por trás do Ubuntu, distribuição mais popular do sistema operacional criado por Linus – o Linux. Ainda assim, o programador de 40 anos – quase a metade deles dedicados ao Linux – precisou de uma viagem ao Brasil para conhecer um dos principais nomes do lado corporativo do Linux.

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Fica evidente o foco de Linus, sempre mais próximo de programadores que de qualquer empresário, filantropo ou lobista do software livre.

Linus veio ao Brasil para a primeira edição latino-americana da LinuxCon     Foto: Andre Lessa/AE

Seu comportamento é a antítese do que se espera de um executivo de tecnologia, levando em conta que esse personagem foi criado no imaginário popular com a ascensão de Bill Gates ao posto de homem mais rico do mundo nos anos 90 e, depois, com o sucesso de Steve Jobs e Mark Zuckerberg na última década. Empresários que botaram a mão na massa no começo de suas empresas, mas que eventualmente provaram ter espírito empreendedor ainda mais forte do que o talento para a tecnologia.

Se há um ponto em comum entre todos os citados, é a autossuficiência inicial, o ímpeto de construir algo que muitos considerariam insignificante, ou até mesmo inalcançável. O sucesso na empreitada torna-se o ponto de divisão, com Gates, Jobs e Zuckerberg indo cuidar de suas empresas, enquanto Torvalds continua concentrado no produto que criou em 1991.

Talvez concentrado não seja o termo mais preciso, já que, em suas próprias palavras, seu cotidiano consiste basicamente em “viajar pelo mundo para conferências do Linux e responder e-mails”. No entanto, não se espera que Bill Gates ou Steve Jobs encarem milhares de linhas de código a cada lançamento de uma nova versão de seus sistemas operacionais. Com Torvalds, essa imagem é mais plausível.

Linus Torvalds veio ao Brasil para a primeira edição latino-americana da LinuxCon, evento sustentado anualmente pela Linux Foundation em países como Japão e EUA. Em seu tempo livre, pratica mergulho – não à toa, seu próximo destino após o fim da conferência em São Paulo é Fernando de Noronha. “Sempre tento mergulhar, em todos os países que visito”, disse.

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Linus ainda é membro ativo da comunidade de desenvolvedores do kernel do Linux (o coração do sistema operacional, fundamental na criação das distribuições mais populares). Mas é quando as discussões entre programadores e filósofos do software livre começam a ficar mais pessoais que Linus dá vazão a outro hobby: dirigir seu conversível.

O pai de três meninas não parece o tipo de pessoa que costuma perder a cabeça. Alguns minutos de conversa com o desenvolvedor são mais que suficientes para revelar uma fonte aparentemente inesgotável de bom-senso. Não surpreende o tamanho da admiração que ele atrai entre programadores e nerds em geral: é capaz de, na mesma frase, advogar em favor do software livre e frisar que não há problema algum com o software pago. “O que me importa é saber qual é a melhor ferramenta para o meu trabalho”.

Com a frase, Linus define a motivação que o levou a começar um esboço de sistema operacional aos 21 anos. “Não havia uma ferramenta para o que eu queria fazer, então eu fui lá e escrevi uma”. O gesto tem sido constante em sua vida desde que começou a programar, aos 12 anos. “Se eu precisasse de um editor de textos, ia lá e programava. Se quisesse um game, ia lá e desenvolvia, escrevia o código”.

Após 19 anos de Linux, perguntamos ao finlandês o que ele faria diferente se estivesse começando a programar o sistema operacional hoje. “Eu provavelmente nem começaria”, respondeu de imediato. “Algumas coisas você precisa ter 20 anos para fazer, e acho que programar um sistema operacional é uma delas”.

LinuxCon A maior conferência sobre Linux chegou ao Brasil pela primeira vez no fim de agosto e deve se tornar anual.

Tux, o pinguim Foto: Estadão

O pinguim ganhou vida em um concurso para logotipo do Linux – não ganhou, mas levou o título de mascote. Seu nome pode significar Torvalds UniX – ou ser uma referência ao“vestuário” da ave (tuxedo, em inglês). O mais curioso: Torvalds já foi mordido por um pinguim de verdade.

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