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'Não se vencem políticos com novas tecnologias'; diz Peter Sunde

Sunde já foi porta-voz do site de torrent mais perseguido do mundo, mas acha que ativismo precisa sair do sofá

Por Murilo Roncolato
Atualização:

SÃO PAULO – O antigo porta-voz do The Pirate Bay, Peter Sunde, criticou “ativistas de sofá” à Wired UK, ao dizer que “não se vence políticos com novas tecnologias toda vez”. O pano de fundo do ataque é o Bitcoin, moeda virtual descentralizada – que não depende de entidades governamentais ou de um “banco central” – criada em 2008, e que ganhou mais popularidade recentemente, ao ser ainda mais adotada na China e em países com economia em crise, como Argentina.

 

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“Estamos abrindo mão. Temos esse ódio de políticos que vemos apenas como sendo corruptos e não confiamos mais neles, então tentamos fazer as coisas longe de onde eles possam nos incomodar”, disse à revista.

“Às vezes é preciso garantir que os políticos estão alinhados com o que as pessoas querem. Muitas pessoas estão abrindo mão de política pensando que podem resolver os problemas com tecnologia. Esse tipo de comportamento arrogante em relação ao resto da sociedade é um tanto quanto nojento.”

Apesar de ter defendido por anos o The Pirate Bay e o livre compartilhamento de conteúdo pela web, Sunde é um defensor das taxas – o Bitcoin é idolatrado por sua comunidade justamente por eliminar a cobrança de taxas pelos intermediários dos sistemas financeiros –, coisa que julga essencial para que uma comunidade possa construir uma infraestrutura em comum. Importante dizer que o ativista considera a moeda virtual uma ideia “interessante” e dona de uma história fascinante.

Sunde reafirmou a condição de comunidade que vivemos e que há políticos representando essa comunidade, os quais devem receber demandas destes. “Mas somos preguiçosos demais para fazer isso hoje”, disse. “Precisamos de uma revolução em vez de uma evolução tecnológica.”

O problema central estaria no fato de os “intelectuais” da atualidade serem representados pelos sujeitos com conhecimento tecnológico. Para Sunde, os “nerds” são a “nova elite” que em vez de ajudar a melhorar o sistema são uma espécie de “cretinos preguiçoso que são muito arrogantes para ir às ruas. São muito arrogantes para ver que é importante não achar que a podemos resolver problemas com tecnologias melhores”.

Como exemplo, citou que nenhuma criptografia vai impedir a polícia de perseguir alguém; mas que é possível pela democracia garantir policias menos corruptas. “Mas há uma crença na tecnologia como nossa salvadora, como o novo Messias, e isso não é definitivamente o caso. Eu realmente não vejo uma revolução acontecendo.”

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Parlamento Europeu

Peter havia já anunciado publicamente o seu interesse em se tornar candidato ao Parlamento Europeu pelo Partido Pirata. Sunde deve começar sua campanha em janeiro de 2014, mas prevê dificuldades em fechar aliados entre os partidos de esquerda dos países nórdicos por ser considerado uma personalidade “controversa” por lá.

Se não conseguir a cadeira, ao menos terá inspirado pessoas a assumirem cargos e atitudes políticas de fato, acredita. “Se eu chegar lá há tantas coisas com as quais eu poderia chamar a atenção, mesmo que seja só para fazer piada das coisas.”

TPB

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Sobre o site de torrents The Pirate Bay, com o qual não tem mais relações desde 2009 – apesar da condenação no tribunal sueco em 2010 após perseguição judicial de editoras e gravadoras como Universal e Warner (veja o documentário TPB AFK sobre o julgamento) – Sunde diz não conhecer as pessoas que o gerenciam hoje em dia, mas opina que o site deveria ter sido abandonado no meio do ano, quando completou 10 anos de existência.

“Não gosto do que vejo”, diz. Para ele, a falta de desenvolvimento sobre o protocolo de compartilhamento P2P (peer-to-peer) simboliza a “morte iminente” do BitTorrent. “Algumas vezes é bom queimar coisas para que outras pessoas possam criar algo das cinzas.”

De acordo

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Ao menos no que se refere a criticar os que acreditam que tecnologia resolve todos os problemas do mundo, Peter Sunde e Bill Gates estão alinhadíssimos. Em entrevista recente ao Financial Times, o cofundador da Microsoft criticou Mark Zuckerberg e o Google – o primeiro por considerar prioridade a necessidade de conectar toda a população mundial até então sem acesso à internet; o segundo, pelo balão que levaria internet para regiões afastadas – e disse que “computador não é tudo”. “Tecnologia é um negócio incrível, mas ela não chega às pessoas que mais precisam em um prazo nem próximo do que gostaríamos (…) Certamente, eu amo essa coisa de TI, mas quando queremos melhorar vida, é preciso lidar com coisas mais básicas como sobrevivência de crianças, nutrição infantil.”

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