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No Brasil; iPhone ?custa? 106 horas de trabalho

Alto custo de vida no País, que cobra US$ 30 por pizza de queijo, está entre motivações dos protestos, diz NYT

Por Redação Link
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Alto custo de vida no País, que cobra US$ 30 por pizza de queijo, está entre motivações dos protestos, diz NYT 

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Simon RomeroTHE NEW YORK TIMES* Publicado em ‘Economia & Negócios’ nesta quarta-feira.

Os consumidores brasileiros que têm ideia do valor cobrado por alguns produtos no exterior precisam se preparar mentalmente para comprar um smartphone Samsung Galaxy S4: o mesmo modelo que custa US$ 615 nos Estados Unidos é vendido por quase o dobro no Brasil. Um choque ainda mais forte é o dos pais ao comprarem um berço: o mais barato vendido pela loja Tok & Stok custa mais de US$ 440, seis vezes acima do preço pago por um produto similar na Ikea nos EUA.

 

Para os brasileiros já furiosos com o desperdício de gastos da elite política do País, os preços altos que pagam por praticamente tudo – uma pizza de mozarela grande custa quase US$ 30 – só aumentam sua ira.

“As pessoas estão encolerizadas porque sabem que as coisas podem ser mais baratas; vemos isso em toda a parte, de modo que alguma coisa está errada”, disse Luana Medeiros, 28 anos, que trabalha no Ministério da Educação.

As manifestações de rua no Brasil nasceram de uma campanha popular contra o aumento dos preços das passagens de ônibus e metrô. Os moradores de São Paulo e Rio de Janeiro gastam muito mais do seu salário em transporte do que os de Nova York ou Paris. Mas o custo do transporte é apenas um exemplo das dificuldades enfrentadas por muitos brasileiros para sobreviver até o fim do mês com seu salário, afirmam os economistas.

O aluguel de um apartamento em áreas cobiçadas do Rio é mais caro do que em Oslo, capital da Noruega. Antes dos protestos, a alta dos preços de alimentos básicos, como o tomate, provocaram piadas sobre a presidente Dilma Rousseff e seus assessores.

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A inflação está em torno de 6,4%, e muitas pessoas da classe média se queixam que estão arcando com a pior parte dos aumentos. Limitando o espaço de manobra das autoridades, a indignação popular explode num período em que grandes projetos de estímulo não conseguem impedir a desaceleração da economia, levantando o espectro da estagflação na maior economia da América Latina.

“O Brasil está à beira da recessão agora que o boom das commodities acabou”, disse Luciano Sobral, economista e sócio de uma empresa de administração de ativos em São Paulo, que mantém um blog de economia irreverente intitulado The Drunkeynesian. “É impossível ignorar a alta dos preços que aflige o brasileiro, especialmente para quem não pode viajar ao exterior e comprar produtos mais baratos.”

Os custos altíssimos no Brasil podem ser atribuídos a uma série de fatores, incluindo os engarrafamentos que encarecem a distribuição de produtos para os consumidores, as políticas protecionistas que blindam as fábricas brasileiras contra a concorrência e um legado de consumidores de certa maneira habituados à inflação alta, que hoje está bem abaixo dos 2.447% de 1993, antes de uma drástica reestruturação da economia.

 

Mas para os economistas grande parte da culpa dos preços espantosamente altos deve-se a um sistema tributário disfuncional que dá prioridade aos impostos sobre o consumo. Alexandre Versignassi, escritor especializado em decifrar o código tributário brasileiro, diz que as empresas têm de pagar 88 impostos, municipais, estaduais e federais, inúmeros deles cobrados diretamente dos consumidores. Obrigando os contadores a estar sempre alerta, as autoridades brasileiras expedem cerca de 46 novas normas fiscais diariamente, disse ele.

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Discrepância. Para piorar as coisas, as lacunas na legislação permitem que indivíduos ricos deixem de pagar imposto sobre grande parte da sua renda; os investidores, por exemplo, não têm os dividendos recebidos tributados e sócios de empresas privadas pagam muito menos imposto do que muitos empregados registrados.

O resultado é que muitos produtos no Brasil, como os automóveis, são bem o mais caros do que em países distantes que os importam. Um exemplo é o Gol, carros subcompacto da Volkswagen, produzido em sua fábrica numa área metropolitana de São Paulo. Um Gol quatro portas com ar condicionado custa US$ 16.100, incluindo impostos. No México, o mesmo modelo fabricado no Brasil e vendido para os mexicanos como Nuevo Gol, custa milhares de dólares menos.

O fato de muitos brasileiros conseguirem comprar tais carros reflete as mudanças econômicas positivas ocorridas durante a década passada, como a saída de milhões de pessoas da pobreza opressiva e uma queda do desemprego, hoje em patamares historicamente baixos. Os salários saltaram durante esse período, com a renda per capital se situando hoje em torno de US$ 11.630, segundo o Banco Mundial, em comparação com os US$ 6.990 na vizinha Colômbia. Mas o Brasil está bem abaixo de nações desenvolvidas, como o Canadá, onde a renda per capita é de US$ 50.970.

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Assim, um morador de São Paulo, precisa trabalhar em média 106 horas para comprar um iPhone, ao passo que em Bruxelas ele trabalha 54 horas para adquirir o mesmo produto, de acordo com estudo global de salários feito pelo banco UBS. Para comprar um Big Mac um paulistano tem de trabalhar 39 minutos. Em Chicago, bastam 11 minutos.

Uma nova lei federal exige que as lojas deixem claro nas notas fiscais o valor do imposto cobrado dos clientes. Fernando Bergamini, desenhista gráfico, ficou espantado depois de gastar US$ 92 num supermercado e se dar conta de que US$ 25 equivaliam a impostos. “É chocante diante dos serviços que recebemos em troca”, disse. “Ver isto num pedaço de papel me deixa indignado.” / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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