PUBLICIDADE

'No início éramos nós e US$ 500'

Por Vinicius Felix
Atualização:

Nolan Bushnell, criador da Atari, defende a ousadia e a criatividade

PUBLICIDADE

O nome de Nolan Bushnell pode ser desconhecido para você. Mas, na Campus Party, Bushnell era tratado como herói. Fundador da Atari em 1972 e criado do clássico Pong, o senhor simpático de 69 anos não conseguia caminhar pelo evento sem ser parado por algum participante para uma fotografia. Durante sua fala no palco principal do evento, na quarta-feira, a arena ficou lotada – algo raro na programação cheia de palestras simultâneas.

—- • Siga o ‘Link’ no Twitter, no Facebook, no Google+ no Tumblr e também no Instagram

Bushnell foi o único chefe de Steve Jobs, que trabalhou na Atari. Ao longo da carreira teve mais de 20 empresas, além da conhecida Atari, responsável por popularizar o videogame doméstico. Bushnell diz que havia muitas pessoas talentosas na Campus, evento com uma grande concentração de pequenos empreendedores sonhando em, um dia, terem sucesso. Para conseguir isso bastam alguns passos, como ele conta em seu livro Finding the Next Steve Jobs (sem edição brasileira). Em entrevista ao Link, ele falou de videogames, empreendedorismo e educação.

O que passou pela sua cabeça quando jogou videogame pela primeira vez? O primeiro foi o Spacewar, em uma universidade. Fiquei hipnotizado e fascinado e pensei comigo “preciso levar isso para todos”. Foi ali que pensei em trabalhar com isso no futuro.

Como era trabalhar com games na década de 70? Hoje vemos um mercado favorável e com dinheiro. Como era quando não havia nada? Era impossível. Ninguém acreditava que o videogame pudesse se tornar um negócio. Como resultado desse cenário, nós começamos completamente sozinhos. O dinheiro todo da Atari no início eram apenas 500 dólares. E nós não tiramos um centavo de financiadores ou empresas de capital até termos uns quatro anos de idade e cerca quatro milhões de dólares em vendas. Foi quando algumas pessoas começaram a acreditar em nós.

O senhor se arrependeu quando vendeu a Atari em 1976? Você saiu da empresa pouco tempo depois. Arrependo-me de ter vendido a Atari, mas ao mesmo tempo a empresa precisava de muito dinheiro para produzir o VCS (Video Computer System), e entrar no mercado do cartucho. E parecia que havia uma grande demanda e nós sabíamos que não tínhamos dinheiro para cumpri-la. A venda foi um passo estratégico. Atualmente gosto da minha vida de começar empresas e vendê-las para pessoas que vão dar continuidade a elas. Não me arrependo de vender nenhuma outra, apenas a Atari.

Publicidade

A Campus Party é um dos lugares para procurar o próximo Steve Jobs? Acredito que toda criança já nasce criativa e o processo de crescimento é um caminho para perder a criatividade. Existem muitas pessoas criativas e talentosas como Steve Jobs. Olhe os logos e o trabalho de design no evento. O que vejo no Brasil nesse ramo é o melhor que eu já vi na minha vida toda. Basta que você tenha o lado financeiro e a infraestrutura corretos. Pensando na tecnologia, e no processo de fazer videogames, por exemplo, você precisa de poucas pessoas, uma boa equipe pequena. Com uma ou duas pessoas você faz todo o resto. Atualmente estou trabalhando no que serão Colleges Studios (faculdades de estúdios de videogame). Tive conversas aqui e penso em fazer uma no Brasil.

Por que investir na combinação de games e educação? Aprendi há muitos anos que a tecnologia de games ajuda as pessoas a aprender as coisas muito rápido. Primeiro é como jogar o jogo, como andar em um mundo estranho e resolver problemas, quando na verdade você está fazendo matemática no cérebro. Muitos games cobram isso da criança, mas não dizemos isso para elas. Seria bom dizer. Estou ficando velho e quero ajudar a consertar algum dos problemas do mundo e vi que esta é a hora certa de fazer. O que é a hora certa? Hardware barato, boa rede e bons softwares. Por muito anos a educação pública teve um monopólio, mas eles fizeram um serviço tão ruim que agora todos dizem que a escola precisa ser consertada. Chega desse péssimo método “sente e fique quieto e ouça alguém” – 8% dos estudantes param de prestar atenção nos dez primeiros minutos.

E seus filmes interativos? Tenho alguns projetos com meus filhos. Um deles voltado para cinemas, onde todos podem brincar com o filme e fazer parte da história. Todos vão ajudar a salvar a princesa. Você sabe: mulheres bonitas precisam ser salvas em qualquer lugar.

PUBLICIDADE

Na Campus há pessoas jogando o Atari e Pong. O que você achou? Os jogos tradicionais precisam focar bem na natureza do desafio e os jogos antigos afinavam bem como esse modelo. Não tinha como esconder algo nos gráficos. Hoje os gráficos escondem péssimos jogos. Veja o xadrez. Quanto melhor jogador você for, menos você vai aceitar um tabuleiro diferente do clássico preto e branco, porque não quer sentir que as peças obscurecem ou confundem o foco no jogo. Gráficos simples mantêm a atenção no jogo, sem distrações.

Você joga atualmente? Jogo todos, mas nunca vou ter um game favorito. Amo todo os jogos de todos os tipos. Agora eu gosto muito de Portal, um jogo que mistura puzzle e ação e tem coisas estranhas. Também gosto de Minecraft. / V.F.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.