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Nos EUA, assistentes de voz estão mudando a vida das crianças

Alexa, da Amazon, e Google Assistant se transformam em amigos invisíveis de meninos e adolescentes

Por Hayley Tsukayama
Atualização:
Assistente de voz ajuda crianças em pesquisa escolar e faz companhia Foto: BILL O'LEARY

Na casa de Yana Welinder, seu filho fala “papai” tanto para ela quanto para seu marido. “A palavra ‘mamãe’ ainda não entrou no vocabulário dele”, diz ela. Mas o garoto, que acabou de completar 1 ano, já conhece o nome de outra figura importante na casa: “Aga”. Trata-se de Alexa, a assistente de voz da Amazon. O filho de Yana não consegue chamá-la sozinho do alto-falante conectado Echo. Mas sabe o que está tentando fazer. “Ele diz ‘Alexa!’, olha para ela e fica à espera de ela responder. Sempre morro de rir.”

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Os pais que ainda não sabem bem como resolver o problema dos aplicativos e o uso do smartphone pelas crianças devem se preparar: em breve, haverá também o vínculo entre os filhos e “a voz ao lado”. Vários pais já publicaram no YouTube vídeos dos filhos interagindo com Alexa ou com seu equivalente do Google, o Assistant. 

Algumas crianças conversam com os assistentes de voz, fazem perguntas ou imploram a eles para tocarem suas músicas favoritas. Outras os tratam como amigos que ouvem os desejos delas – e, no caso de Alexa, podem mesmo lhes enviar presentes, para surpresa dos pais quando recebem encomendas inesperadas da Amazon. 

Embora as crianças entendam que os assistentes de voz não são pessoas, uma pesquisa sugere que muitas os veem como uma entidade real. Mas como ocorre com muitas questões envolvendo crianças e tecnologia, é difícil dizer o que isto significa para o desenvolvimento delas e se é prejudicial.

O uso de aparelhos móveis pelas crianças vem crescendo. Segundo estudo do grupo Common Sense Media, o tempo médio que crianças de oito anos de idade ou menos dos EUA passam usando um celular ou outro aparelho móvel triplicou nos últimos seis anos para uma média diária de 48 minutos. Além disso, 42% das crianças nessa faixa etária possuem seu próprio tablet.

Os assistentes de voz, que podem conversar, levam a relação com a tecnologia para outro nível. E, de acordo com a Common Sense Media, pelo menos uma em cada dez famílias com crianças possui um dispositivo ativado por voz. 

Impacto. As crianças, óbvio, começaram a ser um público-alvo para as empresas. Recentemente, a Amazon tornou mais fácil para os adolescentes encomendarem produtos por meio de seu Echo, usando a conta dos pais. Já o Google colocou a caixa de som conectada Home a serviço de pesquisas escolares, deixando que os pais criem contas para as crianças. 

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Como sempre ocorre no setor de tecnologia, nem tudo são flores. Especialistas acreditam que os assistentes de voz prejudicam o vínculo familiar se a criança achar que ele é seu principal amigo ou um mesmo alguém que lhe oferece consolo. Além disso, as crianças não têm capacidade para entender um amigo que não tem corpo e que pode conversar com ela.

É preciso refletir muito sobre as implicações da tecnologia em casa, diz Jim Steyer, diretor executivo da Common Sense Media. “Não devemos ver smartphones e outros aparelhos como brinquedos, mas supercomputadores, que é o que são. E é necessário estabelecer que o quarto é uma zona livre de tecnologia e determinar os horários em que as crianças não têm de estar conectadas, como na hora do jantar.”

Segundo Steyer, a tecnologia não é uma coisa ruim. Mas os pais precisam saber como ela funciona, especialmente quando enraizada na vida do lar. Se bem utilizados, os assistentes de voz contribuem para o desenvolvimento da comunicação ou podem ensinar para as crianças frases em outras línguas.

Yana Welinder disse ter pensado muito sobre a relação do filho com a tecnologia e está despreocupada com sua escolha de palavras iniciais. Ela e o marido trabalham com tecnologia e eles querem que o filho aprenda a usar a Alexa para ser criativo. 

Os dois gostam da ideia de o menino crescer num mundo com objetos que falam com ele – definir o imaginário do real será o problema a resolver. Mas até o menino chegar à idade de compreender, ela acha mais provável que ele pensará na voz como uma figura imaginária, como Papai Noel. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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