Novas tecnologias ajudam cegos a ver

Inspirados no Google Glass, sistemas com inteligência artificial auxiliam deficientes a ler e identificar objetos por si só

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Por Ligia Aguilhar
Atualização:

Inspirados no Google Glass, sistemas com inteligência artificial auxiliam deficientes a ler e identificar objetos por si só

 

SÃO PAULO – A israelense Liat Negrin entra no mercado, aponta o dedo para a prateleira e, com a ajuda de uma pequena câmera presa à armação dos seus óculos, identifica produtos e escuta a descrição de cada um até encontrar uma caixa de leite. Em um vídeo disponível na internet, Liat mostra como usa essa tecnologia para superar as limitações impostas por um coloboma, doença genética que causa perda de visão. Com os óculos, ela pode realizar sozinha tarefas simples como identificar o ônibus correto para ir ao trabalho ou ler um cardápio.

 

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Liat é funcionária da startup israelense OrCam, desenvolvedora da câmera portátil dotada de sensor de reconhecimento de gestos capaz de ler e descrever textos e objetos, transformando qualquer óculos simples em uma espécie de “Google Glass adaptado para cegos”.

O sistema, disponível para os Estados Unidos por US$ 2,5 mil, não é uma iniciativa isolada. No mundo todo, pesquisadores estão explorando o potencial da tecnologia vestível associada a soluções de acessibilidade e visão computacional para ajudar deficientes visuais a ter autonomia, superando os softwares e aplicativos para smartphones hoje disponíveis.

“Nós não podemos recuperar a visão dos deficientes, mas podemos dar a eles fácil acesso a informação que procuram”, diz Yonatan Wexler, vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento da OrCam.

A câmera armazena na memória milhares de objetos que fazem parte da rotina do usuário e passa a identificá-los e descrevê-los cada vez que o proprietário aponta o dedo para um item. “A tecnologia localiza a ‘assinatura’ de cada produto, que são características específicas usadas como base para localizar no banco de dados itens com o mesmo padrão”, diz Wexler.

Empresas como a OrCam apostam não só nos 246 milhões de pessoas que sofrem de perda moderada ou severa da visão, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mas também na perspectiva de envelhecimento da população e os problemas que podem limitar a visão na terceira idade.

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Realidade aumentada Pesquisador de neurociência da Universidade de Oxford, Stephen Hicks tem uma proposta um pouco diferente: ajudar deficientes visuais com capacidade de percepção de luz a melhorarem sua orientação espacial. Usando visão computacional e componentes eletrônicos de smartphones como o giroscópio e o acelerômetro, ele criou um óculos que detecta formas tridimensionais e permite enxergar objetos próximos.

Duas câmeras na parte frontal da armação captam as imagens e as exibem em uma tela OLED transparente na parte interna, criando um sistema de realidade aumentada para orientar o deficiente em relação ao que está na sua frente.

Nos testes realizados com um protótipo, Hicks diz que alguns cegos conseguiram ver seus braços, pernas e movimentos a poucos metros de distância. “Os óculos não dizem o que está à frente, mas dão um senso de espaço maior ao usuário, gerando confiança e independência”, diz. A meta é colocar o produto no mercado em até um ano após o término da pesquisa, no próximo semestre.

Já o pesquisador Brandyn White, da Universidade de Maryland, nos EUA, criou o projeto Open Glass, para estimular o desenvolvimento de soluções para deficiente visuais no Google Glass, que deve chegar às lojas em 2014.

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White já desenvolveu alguns aplicativos-teste, como o Question-Answers, no qual os usuários postam no Twitter fotos tiradas pelo Google Glass e recebem a descrição feita pelos seus seguidores em tempo real, e o Memento, no qual um usuário com visão normal pode ensinar o Google Glass de um cego a reconhecer alguns objetos.

“Ajudamos desenvolvedores porque é onde vemos a possibilidade de conquistar maior impacto, já que o potencial da tecnologia é grande e vale o esforço de tentar criar soluções”, diz o pesquisador.

O maior desafio de White e sua equipe é o financiamento do projeto, tocado com a ajuda de um grupo de desenvolvedores voluntários. Já Hicks, da Universidade de Oxford, tenta viabilizar uma bateria leve, pequena, mas poderosa o suficiente para manter seus óculos em funcionamento ao longo de um dia inteiro. Enquanto isso, a OrCam trabalha para incorporar outros idiomas ao seu sistema e vender o produto fora dos EUA. “Esse tipo de tecnologia se tornará, felizmente, cada vez mais comum”, diz Wexler.

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